(reportagem publicada no site Goiás 247: www.goias247.com.br)
A prefeitura de Goiânia retomou com festa nesta terça-feira, 26, as obras do túnel da Avenida Araguaia, que fazem parte do complexo do Mutirama. O serviço agora terá de ser tocado apenas com recursos da prefeitura, conforme anunciou o prefeito Paulo Garcia (PT). porquê o Executivo Municipal está proibido de receber recursos federais para a obra desde que a Justiça acatou recomendação do Ministério Público Federal (MPF), que detectou irregularidades nos contratos da Agência Municipal de Obras (Amob) e Warre Engenharia.
Diante do desconforto de ficar sem os recursos federais para a obra e manter um buraco lamacento no coração de Goiânia, a prefeitura usa agora a estratégia de minimizar a grave situação e afirma que ao realizar o serviço por conta própria conseguirá economia de 40%. O problema é que, de vido às irregularidades, a prefeitura perdeu o dinheiro federal. Os recursos municipais, que poderiam ser empregados na recuperação de vias urbanas, pontes e viadutos, por exemplo, agora serão direcionados à obra do túnel, que tinha recurso federal garantido.
Ao festejarem tão grande economia nas obras, o prefeito Paulo Garcia e sua equipe expõem uma realidade um questionamento: as suspeitas do MPF de malversação dos recursos públicos têm fundamento. Não tivessem, porquê a mesma economia não foi feita à época da licitação da Warre? Na segunda-feira (25), Paulo desfez o contrato com a empreiteira. Reportagem do jornal O Popular informa que há três anos a obra foi orçada em R$ 24 milhões e que R$ 6,7 milhões já foram pagos.
Se antes todo o serviço estava amarrado ao contrato com a Warre e dependia dos recursos federais, agora a prefeitura bate no peito e garante ser capaz de executar a obra. “Temos engenheiros com conhecimento, operários acostumados com o trabalho, temos asfalto, brita e pedra abalroada. Vamos ter que comprar algumas coisas, mas muito menos que pagaríamos no contrato”, afirmou o secretário de Obras, Luciano de Castro, a O Popular.
O túnel de 300 metros a prefeitura diz que entregará pronto no dia 24 de outubro, para celebrar os 80 anos de Goiânia. Porém, a plataforma que ligaria o Mutirama ao Parque Vila Nova e passaria por cima da Marginal Botafogo não tem data para ser sequer iniciada. Provavelmente ficará só na promessa, já que o próprio Garcia disse que vai depender da liberação dos recursos federais.
POLÊMICA SEM FIM
Desde o início, a obra do complexo Mutirama foi cercada de polêmica. Antes mesmo da licitação, em 2010, o vereador Santana Gomes, na época ainda no PMDB, disse que a Warre seria a vencedora da licitação. A oposição pressionou e pediu o cancelamento, mas a prefeitura manteve o contrato.
Com o começo das obras, veio mais bomba. Procuradores da República apontaram superfaturamento de R$ 2 milhões nos contratos com o governo federal. O procurador da República Marcello Santiago disse que o Ministério Público Federal foi impedido de entrar no Parque Mutirama para realizar fiscalização dos boletins de medição, espécie de relatórios onde a Amob listava quanto e como estava sendo gasto o dinheiro público.
Segundo o representante do MPF, foi descoberta fraude nos documentos referentes aos meses de setembro, outubro e novembro de 2011. “O que estava sendo pago não estava sendo feito. Já podemos falar em quadrilha. O próxima passo é descobrir quem é o chefe. É o lobo cuidando dos ovos da galinha”, afirmou o procurador.
A fraude resultou na prisão de funcionários da Amob e da Warre e da suspensão judicial dos recursos federais, razão pela qual a prefeitura terá de tirar o dinheiro do próprio bolso para concluir o túnel.