O PT de antigamente tratava os seus pares como “companheiros”.
O vocativo simbolizava o sentimento de fraternidade que compartilhavam nos tempos de vacas magras, de oposição. Caiu em desuso com a ascensão de Lula ao poder. Hoje, não se referem uns aos outros mais como companheiros, mas como ministros, diretores, presidentes ou superintendentes ou assessores disso ou daquilo.
Paulo Garcia é uma das figuras do PT em sua nova etapa de vida: o PT habituado ao poder, que administra sinecuras com a habilidade com que administrava sindicatos na década de 1980. Que convive com empresários e capitalistas que costumava atacar no passado recente.
Paulo é um bom companheiro, mas quem o diz não é a turma brava e aguerrida de fundadores do partido. São os donos de empresas de ônibus de Goiânia, que ontem explodiram garrafas de champagne, promoveram rega-bofes e fizeram festa para comemorar o aumento no preço da tarifa cobrada do pobre do usuário. Estão contentes porque o Paço patrocinou o reajuste para R$ 3 – a despeito dos protestos que incendiaram e paralisaram a Capital na terça-feira.
Quem atesta o bom-companheirismo do prefeito é também o dono do hipermercado Moreira, que hoje ganhou de presente a aprovação de um projeto de lei que desafetou áreas públicas municipais no setor Coimbra (rua 278 e outras) de suas destinações primitivas com o exclusivo interesse de atender o dono do hipermercado. Não há interesse público na desafetação. Muito pelo contrário: o trânsito vai ficar pior do que há está.
Paulo Garcia é companheiro fiel das empresas do setor imobiliário. Por eles, em tempo de campanha, enfrentou o desgaste de tentar viabilizar a venda de áreas verdes próximas ao Paço Municipal. O vice-prefeito, Agenor Mariano (PMDB), num acesso de sandice, tentou justificar à época dizendo que os servidores da prefeitura tinham o direito de morar perto do local de serviço. A emenda ficou pior que o soneto.
Teve a chancela de Paulo Garcia o projeto de lei que mutilou o Plano Diretor de Goiânia, autorizando a construção de indústrias – como a Hypermarcas – em áreas ambientalmente frágeis da Região Norte e a edificação de todos os tipos de prédios, com interesse habitacional e industrial (o chamado adensamento misto) em bairros pelos quais já é praticamente impossível transitar, como setor Oeste, setor Bueno e setor Sul.
Paulo é um bom companheiro, ninguém pode negar.