Veja matéria de Lyniker Passos publicada no jornal O Hoje:
De áreas irregulares para o abandono
Famílias que deixaram habitação em áreas consideradas de risco relatam dificuldades diárias em bairros afastados e sem estrutura
Transferidos de áreas consideradas pelo poder público como irregulares, os moradores do Residencial Buena Vista 1, na região oeste de Goiânia, reclamam da falta de infraestrutura do bairro que foi planejado para receber as famílias que residiam em imóveis sem escrituras, localizadas em áreas de preservação ambiental, públicas ou de risco. Apesar de agora viverem em uma casa de dois quartos e com escritura, a população reclama do abandono do poder público e a falta de serviços básicos como saúde, transporte e segurança.
Na terceira reportagem da série que aponta os problemas causados por loteamentos irregulares em Goiânia e na região metropolitana, O HOJE constatou o drama das famílias que deixaram suas casas em bairros centralizados e valorizados, como exemplo Urias Magalhães, Gentil Meirelles e Água Branca, e foram transferidos para áreas isoladas pelo poder público, com auxílio financeiro de programas habitacionais.
Apesar de terem deixado para trás uma vida de insegurança, muitos também se desvincularam do passado, dos lares onde, por décadas, construíram suas vidas. A jovem Estefani Morais de Bastos, 20 anos, lembra com saudade da época em que vivia com a avó no Setor Água Branca, em Goiânia. “Minha avó viveu naquele lugar por mais de 50 anos, mas construiu em área de preservação ambiental e nossa história acabou. Agora estamos aqui longe de tudo. Deixei de estudar porque aqui não tem colégio”, relata.
Mesmo vivendo em uma casa com escritura, ela diz preferir os tempos em que, segundo ela, estava mais próxima da cidade. “Morava perto de tudo. Aqui estamos esquecidos”, afirma. Estefani também se queixa da falta de médicos no único posto de saúde que atende todas as parcelas do Residencial Buena Vista. “Nem os médicos querem vir trabalhar aqui”, critica.
Sem dinheiro para construir o muro da casa, a família também vê o terreno ceder devido a ação do tempo, sem poder fazer nada. “Não temos dinheiro. Já vieram aqui e falaram que iam reformar até mesmo a rachadura da casa. Mas nada ainda foi feito. Estamos correndo risco aqui também”, afirma a garota.
Na mesma rua a diarista Luciana Carvalho, 32, mãe de David Souza Carvalho, 9, e Wanderson Barbosa, 2, comemora a chegada do asfalto no bairro, mas reclama da falta de segurança e médicos no posto de saúde. “Aqui é muito perigoso. Todo dia tem um assalto ou alguma agressão e, mesmo assim, não temos nenhum posto policial na região”, apontou. Ela deixou o Setor Urias Magalhães, onde vivia em uma área considerada de risco, para viver no Residencial Buena Vista há quatro anos. “Hoje estou tranquila, pois sei que minha casa não vai cair. Mas segurança não é só isso.”
Paciência
Irivaldo Moreira da Silva, 53, se mudou para o bairro há 3 anos, e afirma estar satisfeito com os serviços do local. “Quando cheguei aqui não tinha asfalto em rua alguma, a população precisa ter paciência que”, acredita. Para ele sua qualidade de vida melhorou após a mudança da casa que vivia no Setor Gentil Meireles, construída próxima a Avenida Perimetral Norte. “Corríamos riscos de em qualquer hora um caminhão invadir nosso quarto.”