domingo , 29 dezembro 2024
GoiásOpinião

No artigo semanal no Pop, Fabiana aponta descompasso no PMDB e diz que crise no partido não é invenção da mídia

Veja artigo da jornalista Fabiana Pulcineli em sua coluna semanal Cena Política, no jornal O Popular:

 

Cena Política
02/09/2013
PMDB em descompasso

Fabiana Pulcineli
fabiana.pulcinelu@ojc.com.br

Não é invenção da mídia nem especulação de adversários políticos. A crise interna no PMDB goiano se agravou na última quinzena e representa mais um ponto fraco para o partido na corrida ao governo estadual. Tudo porque o empresário José Batista Júnior resolveu reagir de forma mais agressiva aos sinais do ex-governador Iris Rezende, que não admite candidatura mas acena claramente nesse sentido.

Apesar de curta, a história de Júnior no PMDB já acumula uma série de episódios de atropelos e mal-estar. Agora, incomodado com a postura de Iris e a um mês do fim do prazo de filiações para quem pretende disputar as eleições do ano que vem, o empresário endurece o discurso, estimula mobilização de aliados no partido em seu favor e se diz disposto a disputar com Iris a vaga de governadoriável na convenção de junho de 2014.

Júnior e seu grupo querem que o partido sinalize respaldo à candidatura dele ainda este ano, já que se coloca publicamente como pré-candidato. Iris já havia decretado, com obediência do diretório estadual: definição de candidato só no ano que vem.

É de fato mais adequado que o nome só seja escolhido em 2014, até porque o cenário ainda se mostra muito indefinido – sem a certeza de candidatura do governador Marconi Perillo (PSDB) e dos efeitos dos resultados de sua gestão e com as dúvidas sobre a viabilidade de uma terceira via.

Mas os aliados de Júnior questionam: por que Iris exigia definição de candidatura em dezembro de 2009, no caso das eleições de 2010, e agora decidiu que é melhor deixar para a reta final?

Naquela ocasião, o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, recém-filiado ao PMDB, foi pressionado por Iris a definir se seria candidato ou não até dezembro. Meirelles alegou que havia informado desde a filiação que ficaria no BC até o final de março e não poderia tomar decisão antes.

Iris bateu o pé. Defendia que o candidato do partido precisava de prazo para articular alianças, discutir propostas e se preparar para a disputa. O ex-governador recuou, ampliou o prazo, mas novamente pressionou Meirelles para que tomasse decisão no início de fevereiro. Ele saiu de cena e o resto da história todos conhecem: Iris foi o candidato.

Desta vez, não interessa ao ex-governador antecipar o processo. É mais adequado e cômodo aguardar a evolução da avaliação do governo, o desempenho dos demais pré-candidatos da oposição nas pesquisas e como estará desenhando o quadro no ano que vem.

Apesar da comparação pertinente, a decisão de Júnior e de seu grupo de partir para o enfrentamento também carrega um alto risco. Primeiro porque Iris é o principal cabo eleitoral da oposição. Segundo porque lidera no partido as conversas com o PT e outras legendas aliadas. Terceiro porque ainda tem muita influência na sigla, especialmente na direção estadual.

É uma disputa do poder financeiro de Júnior contra o poder de articulação política de Iris. O empresário, cuja família é dona do grupo JBS – que doou fartos recursos nas últimas campanhas eleitorais em todo o País –, intensificou contatos com prefeitos e lideranças do partido no Estado, mostrando-se disposto a ampliar os investimentos como um dos postulantes.

As lideranças do partido, que reclamam que Iris nunca ajudou financeiramente as campanhas aliadas, se encantam com as promessas. E minimizam a influência do dinheiro: dizem que é hora de o partido renovar nomes para a disputa e atender ao clamor popular por novos projetos.

Mas ao se filiar ao PMDB em acerto com a direção nacional, atropelando o partido em Goiás, ao dizer que o partido não tem dono, ao articular um ato de prefeitos em seu apoio e ao afirmar que encararia Iris numa disputa interna, Júnior alimenta a insatisfação dos iristas e pode acabar sem força diante de uma investida do grupo.

No geral, o racha é negativo para a sigla. No momento de afinar discursos, marcar posição contra o governo, ampliar filiações e discutir bons projetos, o PMDB gasta energia com o mesmo joguinho de vaidades de sempre. Vai perder tempo com os desgastes internos e enfrentará dificuldades em juntar os cacos para encarar a eleição de 2014.