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Entrevista
Manifestantes adeptos do Black Bloc articulam “Badernaço em Goiânia” no 7 de setembro
“O que o Estado, o capital e a burguesia têm a perder com atos pacíficos que não afetam a propriedade privada e a produção e circulação de mercadorias?”. Por meio do Facebook, jovens ativistas organizam “atos combativos” contra o que chamam de a “farsa eleitoral”
Thiago Burigato
O Black Bloc, definido como uma estratégia de combate ao Estado e ao capitalismo, visa a destruição de propriedades governamentais e de grandes empresas. Nascido como uma forma de ação em que seus adeptos serviam de “escudo humano” para proteger outros manifestantes das ações policiais, o termo Black Bloc acabou associado ao vandalismo quando seus adeptos passaram a seguir os discursos do teórico anarquista russo Mikhail Bakhunin, do século XIX, que pregava a “propaganda pela ação” – ou seja, divulgar seus objetivos e intenções não só por palavras, mas por atitudes.
As manifestações ocorridas no Brasil nos últimos meses foram terreno fértil para que o Black Bloc se difundisse no país. As imagens de homens e mulheres de máscaras e roupas pretas tomando parte nos protestos se tornaram cada vez mais comuns conforme os atos se intensificavam. Em Goiânia não foi diferente.
Passado o período de efervescência, os adeptos do Black Bloc pretendem voltar à ação nas ruas neste feriado de 7 de setembro, sábado, quando, novamente, uma série de manifestações promete balançar o país. A capital de Goiás não vai ficar de fora, e seguidores da ideologia da “propaganda pela ação” querem fazer um “badernaço” na cidade.
Por meio de uma página no Facebook, eles fazem um “chamado a todo povo pobre que está cansado de tantas injustiças sociais a se juntarem a esse ato em prol de melhoria ao nosso povo”. E atestam: “Só a luta combativa muda! Sem nenhuma ilusão à farsa eleitoral!”. Até esta quinta-feira (4/9), pouco mais de 815 pessoas confirmaram presença na ação.
O Jornal Opção Online conversou com um dos adeptos do Black Bloc, que se identificou como “Nestor Makhno” (nome de um líder anarquista russo), sobre os objetivos e os métodos que utilizam. “Acreditamos na ação direta. Na violência revolucionária como arma do proletariado para combater a violência burguesa, contra a violência do Estado. Organizamos a violência revolucionária”, declarou.
Quais são as reivindicações e os objetivos dos adeptos do Black Bloc?
O Black Bloc é uma tática para atos e enfrentamentos utilizados por anarquistas europeus há mais de 20 ou 30 anos. Não é uma organização ou movimento. É apenas uma unidade tática nos atos, logo as reivindicações podem ser as mais diversas, desde que tenham um caráter classista, ou seja, a defesa das demandas da classe proletária. Por uma questão conjuntural, no momento levantamos as bandeiras que foram expostas na página do evento no Facebook: fim da polícia, passe livre irrestrito a todas as cidade da Região Metropolitana de Goiânia, “Fora Marconi” e contra a farsa eleitoral.
Quantas pessoas compõem o Black Bloc em Goiás?
Como dito, o Black Bloc é uma tática, não existe a organicidade de um movimento. Não dá pra saber quantos são. Quem administra a página são duas ou três pessoas, que fazem propaganda e divulgam alguns atos. Vai das pessoas e organizações reivindicarem ou não a estratégia Black Bloc, independentemente do nome que utilizam. O ponto positivo é que a escolha por atos combativos na cidade está ganhando cada vez mais adeptos.
Vocês se organizam desde quando?
A página do grupo no Facebook existe há menos de dois meses, mas já existem adeptos e simpatizantes há vários anos, principalmente da galera da contracultura (movimento anarcopunk) da cidade, que reivindica a tática há muito tempo. Temos arquivadas fotos de pessoas mascaradas tentando formam um ‘’bloco negro‘’ há mais de dez anos. A questão é que antigamente eram poucos adeptos da tática. As “Jornadas de Junho” foram um divisor de água para divulgar e propagandear os métodos de lutas combativos dos anarquistas e nisso conseguimos capitalizar esses novos simpatizantes chamando a construção do Black Bloc Goiás.
Qual o perfil médio dos adeptos do Black Bloc GO?
O que eu posso dizer sobre o perfil dos simpatizantes da estratégia é que são dos setores mais marginalizados da sociedade: secundaristas da periferia, jovens desempregados, skatistas, punks e também estudantes universitários. Acredito que há mais homens, mas existe uma forte presença feminina também.
Por que utilizam o vandalismo como método de protesto?
O que o Estado, o capital e a burguesia têm a perder com atos pacíficos que não afetam a propriedade privada e a produção e circulação de mercadorias? Essa lógica pacifista só reforça a via reformista parlamentar, em que as mudanças viriam por meio do parlamento burguês – o que a história já mostrou que é uma grande falácia! Acreditamos na ação direta. Na violência revolucionária como arma do proletariado para combater a violência burguesa, contra a violência do Estado. Organizamos a violência revolucionária.
Não temem que a opinião popular fique contra vocês?
O povo pobre trabalhador, que pega ônibus lotado, ganha mal, trabalha o dia inteiro pra enricar o patrão, sabe e entende muito bem a nossa ira revolucionária. O povo está começando a perceber que a maioria dos nossos problemas cotidianos existe por causa da sociedade capitalista e está começando a enxergar quais são seus verdadeiros inimigos e quem está do lado de quem. Sei que nossas táticas ainda não são unânimes por parte de nossa classe, mas acredito que a didática da luta de classe no futuro fará com que o povo pobre sincero se posicione do nosso lado.
Ao destruir o patrimônio público, não acabam prejudicando quem mais precisa dele – os mais pobres?
Os atos têm alvos específicos que representam o Estado e o histórico da exploração. O capital pode destruir tudo e está destruindo. Os exemplos estão aí: Aldeia Maracanã, Belo Monte, etc. Nós não estamos destruindo nada além das algemas ideológicas burguesas que serviam como um obstáculo para nossa ação criativa revolucionária. Não dá pra ficar reproduzindo esse discursinho burguês!
Acreditam que este seja uma forma de ação eficiente para atingir políticos e empresários?
Sim, principalmente por romper com a lógica pacifista e colaboracionista que era hegemônica no país desde a redemocratização. O importante para nós hoje é criar novas formas organizacionais para o proletariado que sejam classistas e combativas, ou seja, que rompam com a lógica parlamentar e burocrata dos partidos reformistas, principalmente dos governistas. As “Jornadas de Junho” mostraram que só por meio da ação direta que conseguiremos nossas vitórias. É o que propomos: ser uma faísca para esse grande esforço da reorganização dos movimentos de luta no país.
Por que utilizam máscaras?
Por segurança, devido a coerção da polícia. Os rostos expostos favorecem a repressão da polícia e a criminalização dos nossos quadros.
O que pretendem fazer no dia 7 de setembro?
Fizemos um chamado para formar uma bloco, não sabemos ao certo como será a resposta. Pode ser que nem haja quórum para o ato, mas, se acontecer, esperamos que seja um ato combativo.
O movimento é articulado? Vocês mantêm contato com grupos semelhantes de outros Estados?
Não é um movimento, mas algumas pessoas que compõem o bloco ou que se reivindicam como ‘’Black Bloc’’ acabam fazendo contato com pessoas de outros Estados, seja por internet ou pessoalmente.
Além de participação nas manifestações, o Black Bloc se envolve em outras atividades sociais ou políticas?
Claro, isso é central pra nós. A formação do bloco é um reflexo da nossa militância e articulação nas bases. Há pessoas que formam o bloco que atuam no movimento estudantil, sindical e comunitário. Outras são ligadas a movimentos culturais como punk e hip hop, além da galera do skate.