Veja editorial da Rádio 730:
É hora de discutir o modelo de polícia, não somente o salário, que deveria ser de acordo com o resultado do trabalho
Última atualização em Sábado, 09/11/2013 11:26h
A paralisação na Polícia Civil está chegando aos dois meses e não se pode dar a desculpa de que não houve propostas. A principal alternativa foi lançada pela Rede Clube de Comunicação, a Rádio 730, o portal730.com.br e o jornal A Rede. Nossa sugestão é a greve ao contrário. Ou seja, agentes e escrivães passarem a trabalhar mais e, só então, teriam direito a aumento de salário. As notícias das duas categorias são sempre péssimas e cada vez mais negativas. De cada cem pessoas que são assassinadas, a Polícia Civil consegue resolver no máximo cinco casos. A média nacional chega a oito. De qualquer forma, são índices baixíssimos.
Pela proposta lançada na Rede Clube, a polícia ganharia de acordo com os delitos que elucidar. A reivindicação é de salário mínimo de 7 mil e 500 reais para agentes e escrivães. Você ouviu bem: salário mínimo básico superior a 7 mil reais. Na média, com os penduricalhos, agentes e escrivães querem ganhar 10 mil reais por mês. Você ouviu bem: 10 mil reais por mês. É um salário significativo, seis vezes o do professor. Na sugestão da Rede Clube, agentes e escrivães ganhariam 7 mil reais se desvendassem 70% dos crimes. Poderiam receber 9 mil se elucidassem 90% dos casos. A remuneração dependeria do mérito, portanto, seria necessariamente justa.
Na greve ao contrário, agentes e escrivães mostrariam à população que o governo está errado em pagar-lhes 5 mil reais, o triplo do que ganha um jornalista, mais do que o médico generalista. Os policiais merecem remuneração digna, condizente com sua capacidade, sua dedicação, seu talento. E a melhor maneira de demonstrar-se capaz, dedicado e talentoso é solucionando os casos. Uma sociedade satisfeita com o trabalho dos policiais iria às ruas pedir contracheques equivalentes ao resultado das ações.
A resposta de agentes e, mais ainda, dos escrivães foi com xingamentos à Rede Clube. Em vez do debate, preferiram as ofensas. Numa discussão séria, o argumento inicial seria por mudança no sistema de polícias. Como está, o modelo é fracassado. Os policiais estão insatisfeitos, a população reclama da impunidade e os relatórios são implacáveis com a ineficiência. Quem ganha é a bandidagem, quem perde é a sociedade.
Ao declarar-se inerte, qualquer categoria de servidores públicos deveria pensar em quantas pessoas vai prejudicar. O contribuinte goiano tira quase metade de seus ganhos para sustentar a máquina pública. E recebe em troca uma polícia que não está a seu dispor sequer para registrar uma ocorrência. Não se está exigindo nem o mínimo, que seria a obrigação de atender bem, apurar corretamente e levar os criminosos a julgamento. No momento, o que as vítimas desejam é somente alguém na delegacia para anotar a sua queixa.
Atitudes irresponsáveis como deixar a polícia durante quase dois meses à toa deveriam gerar reprimenda legal à altura do dano. Multa mínimo de um salário mínimo a cada ocorrência não registrada, para sindicatos e associações virem como sofre o coitado do contribuinte. É muito confortável a posição dos representantes dos servidores. Lucram politicamente, pois fustigam seus adversários e afagam seus amigos. Os sindicalistas lucram financeiramente, reivindicando o que todo mundo quer, afinal, ninguém rejeita ganhar mais. O prejuízo é todo de quem banca a farra, ou seja, do povão.
Espera-se que o absurdo da greve sirva para a consciência dos governos e da sociedade. É necessário refletir sobre o modelo de polícia, de concurso, de estabilidade no serviço público. É imprescindível pensar na ousadia de querer salário em dobro sem falar em produtividade. Chegou o momento de propor pagamento por trabalho efetivamente realizado e pago individualmente. Ou seja, ganha 10 mil quem merece 10 mil. Se o colega no mesmo cargo, na mesma função e na mesma delegacia só mereceu mil, vai receber mil. Está lançada uma nova proposta. Quem tiver argumento que debata. Quem não tiver, que xingue.