Veja artigo do agitador cultural PX Silveira, publicado nesta segunda-feira, no Diário da Manhã:
A cidade de ré
Diário da Manhã
Px Silveira
O motor de arranque faz um silêncio estrondoso. Goiânia engatou uma ré. É um movimento que ainda não pode ser visto fisicamente. Mas é certo que ele é de retrocesso. Seus sinais e seu rastro estão cada vez mais evidentes.
O poder municipal goianiense mal (e mal) completa um ano de exercício e já dá sinais de cansaço. Tal qual trovoadas antecedendo tempestade, soam aqui e ali as primeiras críticas mais sérias e seu conjunto vai formando um horizonte denso, de onde imanam sensações nada promissoras e de cores escuras. É este o futuro que bate à porta e se apresenta com sua cara sonsa.
Sem querer bancar o vidente, declino logo de onde vem essa certeza de que, se não houver mudanças radicais na Prefeitura de Goiânia, a cidade viverá três anos de estagnação, quando não em movimento de ré.
O fato é que a cultura, como ponta do iceberg de uma sociedade, é a parte que primeiro sente quando um governo não vai bem. E a parte mais visível da evolução cultural é o seu meio organizado, que dialoga com os poderes constituídos. É a parte representada pelas entidades culturais.
Em Goiânia temos constituídas e em permanente atividade (mesmo sem qualquer apoio municipal) a Academia Goiana de Letras, União Brasileira de Escritores, Academia Feminina de Letras, associações de Arte Cênica, de Artes Visuais e de Música, e o Instituto Histórico e Geográfico, além dos Conselhos (estadual e municipal) de Cultura.
É um mundo plural e crítico, bom observador e com opinião própria, composto por múltiplas visões que o tornam símbolo da diversidade cultural e da representatividade social e democrática.
É este mesmo mundo que está emitindo sinais de falência da administração prestada pela Prefeitura de Goiânia. Não são profetas, mas seus sinais devem ser considerados para uma reorientação de rumos e absorvidos por qualquer administrador de bom senso e competência.
Forjada de sonho e ambição, Goiânia nasceu com a vocação para ser vanguarda e referência para o País em serviços públicos de qualidade, exemplos de gestão criativa, ousadia de programas pioneiros e laboratório de pensamentos avançados. Quando será que um seu prefeito vai entender isto? Com a alavanca da cultura a Goiânia desejada se torna uma realidade possível. E avança.
Mas não. Em termos sócioculturais a cidade está imobilizada. Está atada a expectativas não atendidadas e que vão se transformando em pesos no caminho. Não existem ações de bairro. E tampouco existe uma aura central. Inexistem ideias relevantes prontas para serem desenvolvidas e falta apoio (que lhes foi tirado nesta gestão) às entidades legitimamente instituídas.
Entre os pequenos enganos (a marcha errada) e os grandes erros e frustrações (uma administração toda ela comprometida) existe um espaço que deve ser preenchido pelo bom senso – e o mais rápido possível.
Só o bom senso salva-se acompanhado de disposição, iniciativa e competência, ressalte-se. O bom senso é a liga necessária porque une as extremidades e se impõe como somatória de todas as soluções. Do contrário, é a instalação do caos e da paralisação, mais tempo ou menos tempo, mas certamente paralisação e caos.
É por isso que o prefeito Paulo Garcia tem que agir rápido para ver se consegue se antecipar às nuvens que se formam. Errar é humano e se admite (pequenos erros) até mesmo na gestão pública. O que não se aceita é a persistência do erro, deixar que ele se instale. E muito menos se aceita ver o erro ser endossado pela omissão.
Goiânia não merece essa ré. Ação, sr. prefeito Paulo Garcia!
(Px Silveira, presidente – Instituto ArteCidadania)