Veja matéria do jornal O Hoje:
Atritos no PT abalam acordo com PMDB
Ataques entre Gomide e Paulo explicam críticas geradas quando aliança se consolidou nas últimas eleições ao governo
domingo, 19 de janeiro de 2014 | Por: Editoria
Loren Milhomem
As recentes trocas de farpas entre o prefeito de Anápolis, Antônio Gomide (PT), e de Goiânia, Paulo Garcia (PT), no início da segunda semana de janeiro, trouxeram à tona as inseguranças e divergências que resultaram de um cenário formado ainda em 2008, quando, pela primeira vez em Goiás, PMDB e PT decidiram se unir a fim de abrir caminhos para a concretização de seus interesses. À época, a oposição despejou diversas críticas à aliança, alegando que um casamento consolidado exclusivamente com base em interesses concorrentes logo assistiria à exposição de seus embates e poderia até acabar de forma trágica.
Apesar de conviverem com atritos desde o ano passado, quando iniciaram as discussões sobre as eleições deste ano, PMDB e PT continuaram a afirmar que estarão juntos e que prevalecerá a decisão da maioria. Mas os ataques entre Gomide e Paulo começam a justificar as críticas geradas quando a aliança se consolidou nas últimas eleições ao governo estadual. Quando Paulo recuou de colocar o nome à disposição para disputar a sucessão estadual neste ano, dando a primeira demonstração de lealdade ao acordo firmado com o ex-prefeito Iris Rezende (PMDB); Gomide, que se tornou o único nome do partido, aproveitou para mostrar as garras e se apresentou afoito na ansiedade em constatar se o PT tem legitimidade para concorrer à cabeça de chapa ou se precisará mesmo continuar refém de um acordo firmado há seis anos.
Ao disparar críticas a Paulo, Gomide não utilizou apenas suas forças e pretensões pessoais, mas foi portador da voz de uma ala petista que contesta o contrato entre o grupo que apoia o prefeito da capital e a cúpula peemedebista. Ao chamar Paulo de subserviente ao PMDB, e afirmar que o “PT não fez acordo para perder eleições”, questionando a prioridade do PMDB em indicar o candidato ao governo, Gomide ateou fogo em lenhas que já estavam dispostas a formar fogueira na aliança. Paulo considerou as afirmações “deselegantes e inoportunas”, e completou afirmando que o candidato ao governo não precisa ser um nome novo, como defendeu Gomide.
Poucos dias depois, o prefeito de Anápolis percebeu que tinha deixado explícitas demais as divergências no partido e tratou de correr atrás do prejuízo, em visita a Iris, ao prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela (PMDB), e ao presidente do PMDB, deputado estadual Samuel Belchior. Ele e Paulo disseram ter aparado as arestas, mas as discussões travadas há alguns dias apontam que não existe acordo de mão única entre PMDB e PT. Quando Paulo se tornou prefeito ganhando a cadeira que Iris desocupou para pleitear o governo, um lado passou a credor e o outro, devedor.
O credor elevou sua cota ao apoiar a candidatura de Paulo à Prefeitura de Goiânia. Embora se furtem de admitir, a quitação da fatura ocorreria agora, nas eleições estaduais. O acordo, entretanto, ainda está em aberto.
O PMDB não enterrou as expectativas, e a cúpula regional não concebe a hipótese de não ter a fatura paga, depois de ter garantido ao PT o controle da prefeitura por alguns anos (um mandato tampão e uma eleição). Por “pressão” de Iris, Paulo começou a reformular o secretariado, já que a má avaliação da máquina municipal, se persistir, pode refletir em seu próprio desempenho eleitoral – caso venha a se candidatar – ou do nome definido pela aliança. Mas a dívida só será totalmente quitada se o PT chegar às eleições de outubro de coadjuvante.