quinta-feira , 18 julho 2024
GoiásImprensa

Oloares Ferreira, o jornalista que assusta a Globo em Goiás e é assediado pela mídia de fora

Veja matéria do Jornal Opção:

O telejornal e o jornalista que assustam a Globo em Goiás

Programa apresentado por Oloares Ferreira foi um dos responsáveis pelo crescimento vertiginoso da Rede Record no Estado. Líder absoluto em audiência — 24% contra 21% da concorrente —, apresentador virou uma celebridade regional, e já desperta interesse de meios de comunicação de outros Estados

Apresentador Oloares Ferreira: estilo que agrada ao telespectador goiano
e desperta interesse de emissoras concorrentes e de outros Estados
Frederico Vitor
Meio-dia de uma terça-feira. A redação e a produção da TV Record em Goiás se preparam para mais um “”Balanço Geral””, programa jornalístico líder de audiência na região metropolitana de Goiânia e que agora ganhou a preferência de telespectadores dos 246 municípios goianos. Um batalhão de profissionais da imprensa e técnicos de áudio e vídeo se apronta para levar mais uma edição ao ar. O jornalista Oloares Ferreira chega ao estúdio juntamente com uma colega que cuida de sua aparência. O terno tem que estar impecável, assim como a maquiagem.

Sobre uma mesa há vários sachês de chá que serão usados nos intervalos do jornal pelo apresentador. “Isso ajuda minha voz em quase três horas de programa”, diz Oloares. Há também bolachinhas para acompanhar a bebida, pois o apresentador só vai almoçar às 17 horas. Alguém no estúdio avisa que em 30 segundos o “”Balanço Geral”” entrará no ar. Os dois cinegrafistas preparam as câmeras em contagem regressiva, e o apresentador se posiciona no estúdio, que tem como pano de fundo fotos de pontos turísticos da capital, como o Parque Vaca Brava. O silêncio predomina na redação da Record até ser quebrado pela vinheta do programa e por Oloares, que faz a chamada das matérias a serem exibidas naquela edição.

Neste momento, milhares de lares em Goiânia e de todo o Estado estão ligados na Record. E com a frase “jornalismo verdade, doa a quem doer” se inicia mais uma maratona de notícias de duas horas e meia de duração, um fenômeno de audiência do telejornalismo regional. E as notícias são o reflexo da dura realidade do que acontece na Capital e nos demais municípios goianos. Logo de cara, na primeira chamada, um caso de denúncia de abuso sexual contra uma menor de 12 anos que teria sido molestada por um homem de 68 anos. Em seguida, imagens do resultado do atropelamento de um ciclista em via movimentada de Goiânia.

O programa também tem participações ao vivo, e na maioria delas são broncas do povo contra determinados problemas crônicos do dia a dia do brasileiro, como as mazelas do transporte público, descaso com a saúde e, como não poderia ser diferente, a crescente insegurança e a falta de policiamento. Nesta edição, o jornalista Douglas Fernandes, conhecido pelos telespectadores do “Balanço Geral” como o “repórter do povo”, fala ao vivo da Avenida Inde­pendência, no Setor Aeroporto. Câmeras do circuito interno de vigilância de uma loja de acessórios de iluminação para casas e condomínios flagram um bando roubando mercadorias avaliadas em R$ 200 mil.
Crítica e ironia

A sensação de insegurança dos comerciantes daquela região de Goiânia é alta. A avenida naquele trecho é dominada por diversos comércios, inclusive agências bancárias. O dono do estabelecimento assaltado passou vários “pitos” nas autoridades de segurança pública do Estado enquanto o microfone esteve à sua disposição. Oloares engrossa o coro e, ao seu estilo mordaz, não poupa críticas e cobra enfaticamente mais policiamento ostensivo. Passados alguns minutos lá estava um oficial da Polícia Militar se comprometendo em reforçar a segurança naquele local.

Seriam as críticas duras, diretas e sem medo de tocar o dedo na ferida o segredo do sucesso do “Balanço Geral”? Na realidade esta é apenas uma das causas. Ao compartilhar a indignação do povo com os desmandos do poder público, principalmente em áreas chaves como segurança, saúde e educação, o apresentador ganha créditos com quem o assiste. Sendo assim, sua audiência passa ser fidelizada. Durante duas horas e meia Oloares encarna o papel do fiscalizador do poder público. Sem papas na língua, o jornalista fala tudo aquilo que estaria entalado na garganta de milhares de contribuintes goianos.

Válido lembrar que sua audiência já ultrapassa as divisas do Estado e até mesmo as fronteiras do País por meio da Record Internacional. De acordo com o Instituto Ibope, pesquisa realizada entre os dias 20 a 24 de janeiro, num universo de 690.490 domicílios da Grande Goiânia, o “Balanço Geral” liderou todos os dias em sua faixa horária de exibição. Na média da semana, o jornal ficou com 10 pontos de audiência ou 24% de participação, sendo 3% a mais que o segundo colocado, que fechou com uma média de 21%.

Se observado o jornalismo televiso no horário do almoço — exibido a partir das 12 horas —, o único programa que não alivia na hora da cobrança é o da Record. E para apimentar mais ainda o cardápio de críticas há um ingrediente que é o segredo do tempero: a ironia. O próprio Oloares confirma que é isso o que deixa políticos e demais autoridades iradas, a ponto de inúmeras vezes terem “pedido sua cabeça” à direção da Record Goiás, segundo o apresentador. “A ironia funciona muito mais do que crítica, e percebo isso quando as autoridades ligam aqui para fazerem pressão.”
Sucesso e assédio

No advento das informações rápidas e momentâneas, os telespectadores também participam do “Balanço Geral”. Do dia 14 de janeiro até o dia 21 foram mais de 221 mil mensagens no Whatsapp, aplicativo de mensagens instantâneas para smartphones. Cerca de 700 e-mails são direcionados diariamente à produção do programa. O sucesso é tão grande que o apresentador nos últimos dias tem evitado sair em público. A última vez que fez isso não deu certo. Ele teve que ser escoltado por seguranças de um shopping em Aparecida de Goiânia, após ser abordado por dezenas de fãs em uma loja de cosméticos.

O assédio é tamanho que acontece até mesmo no trânsito. Ele conta um episódio no qual teve que estacionar o veículo para dar autógrafo. Os admiradores aproveitaram a oportunidade e pediram para que o apresentador cobrasse no ar providências em relação aos problemas recorrents no bairro daqueles fãs. “Isso revela uma dura situação, as autoridades não estão conseguindo atender a população. Quando uma pessoa recorre a um programa de televisão é porque seus representantes não estão conseguindo fazer esta intermediação”, diz.

O apresentador explica que a aceitação do “Balanço Geral” é grande pelo fato de que quem o assiste também o vê como um caminho para resolver problemas. “Os fãs veem em mim uma forma de cobrar das autoridades atitudes para resolver coisas erradas. No final, sempre se resolve alguma coisa, pois eles não querem me ver todos os dias fazendo cobrança de serviço no ar”, afirma. A maioria das reportagens do programa são matérias policiais, desastres, incêndios ou fatos inusitados.

As notícias policiais sempre são ganchos para cobrar mais segurança pública ou é uma forma de alertar a população sobre as modalidades de crimes que estão em alta na capital. “Nas reportagens de homicídios sempre tem gente reclamando da falta de policiamento. Não é um policialesco apenas para mostrar a tragédia. Nosso foco é no jornalismo comunitário”, diz. Como o programa é extenso e dura quase três horas, há a necessidade de matérias mais leves e descontraídas. Por exemplo, na edição da visita da reportegm foi ao ar uma matéria sobre as potencialidades nutricionais do chocolate e do vinho.
O segredo da grande audiência é compromisso com a verdade
Quando se fala em “Balanço Geral” não tem como não mencionar o nome de Oloares. Natural do município de Crixás, região Norte de Goiás, o apresentador é oriundo de uma família humilde e foi vendedor de salgados e picolés nas ruas da cidade. Passou dificuldades quando veio estudar em Goiânia. Ele teve que vender uma bicicleta para comprar a passagem de ônibus para a capital. O primeiro emprego em um veículo de comunicação em Goiânia foi no “Diário da Manhã”. Após passagens por TVs no interior do Estado, o jornalista voltou para Goiânia e trabalhou no Jornal Opção em 1999.
Switcher da Record Goiás no momento da apresentação do “Balanço Geral”

Em 2001, ao saber que a Record estava procurando um repórter para cobrir férias de um mês, procurou a emissora e foi contratado depois de um teste. Trabalhou no extinto Goiânia Urgente, um dos programas mais conhecidos da TV goiana na época. Depois de um mês na emissora foi efetivado. Chegou a fazer por um bom período o quadro Praça do Povo, na Praça do Bandeirante. “Lá foi uma escola pra mim, aprendi a entender o sofrimento das pessoas, como lidar com pessoas carentes e como resolver problemas dos outros.”

Mas um fato inusitado mudaria sua trajetória na Record. Na época e apresentador do Goiânia Urgente, Luis Carlos Bordoni, decidiu apresentar o programa direto da Praça do Bandeirante. De forma inesperada, Bordoni disse que estava sendo perseguido politicamente e pediu demissão no ar. Ao fazer isso ele abandonou o local e a produção teve de rodar um comercial. Com o comercial rodando, começou uma correria nos corredores da emissora. O diretor executivo, Evandro Trindade, e o diretor de programação, Dario Pereira, entraram na redação, olharam para Oloares e disseram: “É você. Vá para o estúdio e apresente o Goiânia Urgente.”

“Os diretores me comunicaram que eu iria apresentar o Goiânia Urgente até ser contratado outro apresentador”, lembra Oloares. Várias semanas se passaram, a fila de candidatos ao cargo era grande, mas nada da direção confirmar o nome. Foi aí que Oloares disse ao diretor: “Eu também vou me candidatar ao cargo. Estou no páreo”. Em 2006, a TV Record fez uma reestruturação em todo o Brasil. Um representante da Record de São Paulo assumiu a gerência de jornalismo. O Goiânia Urgente mudou de perfil e passou a se chamar “Balanço Geral”, seguindo as mudanças realizadas nas outras emissoras do grupo em todo o Brasil. “E agora estamos há mais de dois anos em primeiro lugar de audiência, feliz da vida e fazendo esse jornalismo diferente”, diz o apresentador.

Oloares revela que a audiência do “Balanço Geral” junto ao público A e B é quase igual ao do programa concorrente do Grupo Jaime Câ­ma­ra. Ele ressalta que o público de televisão é praticamente o mesmo, sem distinção de classe social. “O público está mais exigente. Leio críticas a mim e ao programa no ar. Acho que esse é um diferencial, pois se eu jogo pedra também tenho que estar preparado para receber pedradas”, afirma.

Sobre o segredo do sucesso do “Balanço Geral” e de sua empatia com o público, o jornalista diz não saber a fórmula, mas aponta para um fator. “Acho que é a relação de verdade com o público”, diz. Outra curiosidade revelada por Oloares é que ele se dedica a estudar o mapa de Goiânia. Ele conta que essa é uma necessidade para ter uma noção de localização na hora de comentar o que acontece na capital. “Goiânia é cheia de surpresas. Sempre surgem bairros novos dos quais nunca ouvi falar. Saber a localização dos lugares é uma exigência para fazer este formato de jornalismo.”

Ameaças, supersalário e assédio de políticos

Ao apresentar um programa crítico e recheado de polêmicas, as ameaças são inevitáveis. Oloares afirma que todos os dias sofre intimidações, principalmente vindas de políticos. Apesar disto, ele diz não entrar numa paranoia, embora tenha alterado sua rotina. Uma delas é andar sempre na companhia de um segurança, além do revezamento dos veículos. Ele evita lugares públicos como bares e restaurantes, e na maior parte do tempo, quando não está trabalhando, fica recluso em casa. Há alguns meses, ele sofreu um assalto em sua residência. Oloares diz que nada o convence de que não foi algo encomendado com o objetivo de intimidá-lo. “O preço que pago por fazer este tipo de jornalismo é muito alto.”

Corre nos bastidores da imprensa goiana que Oloares seria o profissional de comunicação mais bem remunerado em Goiás. O salário é uma incógnita, e o dono da suposta polpuda remuneração não fala o quanto ganha. Mas ele adianta que é contratado pela Record Goiás em regime CLT e pela Record São Paulo como pessoa jurídica. O apresentador teve vários convites para migrar de emissora e até mesmo trabalhar em outros Estados, como São Paulo, Distrito Federal e Mato Grosso.

Ele explica que decidiu ficar por causa da família, que mora em Crixás. Além disso, há o receio do risco de outros públicos não assimilarem seu estilo de trabalho. “Aqui estou consolidado, tenho contrato com a Record até 2016. Sou muito bem tratado pela empresa, por isso não vejo motivo para deixar esta casa, à qual sou muito grato.”

Oloares empresaria uma banda que se apresenta no “Balanço Geral nos Bairros”. Ele também edita o jornal impresso “Diário do Norte”, que circula em Crixás, além de ter participação no faturamento do programa, principalmente com os merchandisings. Aliás, atualmente, há uma fila de espera de empresas que querem anunciar no “Balanço Geral”, inclusive gigantes com negócios em cadeia nacional.

Oloares conta que é cortejado por partidos políticos. Ele revela que já lhe ofereceram R$ 1 milhão para que fosse vice de um candidato a prefeito na capital, além de ter sido sondado para que saísse candidato a deputado nas eleições deste ano. “Até para suplência no Senado já me ofereceram”, conta. Mas o apresentador deixa claro que, ao contrário de antigos colegas de Record, como o deputado estadual Elias Júnior (PMN) e da ex-deputada estadual Rachel Azeredo, ele não pensa em se aventurar pelo mundo da política e do poder. “Não teria estômago para isso, não é minha praia. Estaria traindo meu público, mesmo sabendo que poderia ser eleito. Mas, e depois? O que eu poderia fazer por essas pessoas?”

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