A casa caiu para o Júnior Friboi. Reportagem de hoje do jornalista Helton Lenine, no Diário da Manhã, mostra os bastidores das conversas de Duda Mendonça com Friboi e seus irmãos. Lenine revela que obteve informações de que Duda foi pragmático junto ao grupo de empresários: não será fácil vencer Marconi Perillo, o povo desconfia de Friboi e não vê com bons olhos os negócios da empresa JBS, a vitrine do pré-candidato. Os negócios com o BNDES já migraram para a boca de formadores de opinião.
Em síntese: pesquisas qualitativas começam a tirar da cabeça de Friboi a ideia de que ele deve se aventurar numa campanha. Duda – que não ganha eleições em Goiás – alertou.
Leia a matéria:
A conversa secreta do mago
Desvendado o que Duda Mendonça sabe, segredou para Júnior Friboi, não falou para o PMDB e escondeu em entrevista coletiva à imprensa concedida no escritório no candidato rei da carne
DIÁRIO DA MANHÃ
HELTON LENINE
Quase uma celebridade, Duda Mendonça cumpriu seu papel de assessor na meteórica passagem por Goiânia. Contratado a peso de ouro pelo pré-candidato do PMDB (fala-se em até R$ 30 milhões), Junior Friboi contou a história dos sonhos do seu cliente à executiva e aos deputados federais e estaduais do seu partido, em reunião realizada em Goiânia na última quarta-feira, 29.
De acordo com um dos participantes da reunião (membros da executiva estadual, deputados federais e estaduais, assessores do pré-candidato Friboi) usando dados de uma pesquisa feita por uma empresa de Belo Horizonte, Duda disse que, em Goiás, como no resto do Brasil, “há um desejo de mudança no ar” e que Junior Friboi, é lógico, “se encaixa como uma luva” nesse cenário.
Depois de mais de três horas de uma apresentação-espetáculo, onde contou histórias de sua carreira e disse que é “amigo íntimo de Lula”, Duda Mendonça concluiu, como não poderia deixar de ser, que seu cliente Junior Friboi é o melhor candidato do PMDB para a disputa ao governo de Goiás em 2014, descartando todos os outros nomes, principalmente o do ex-governador Iris Rezende.
O que Duda Mendonça não contou aos deputados peemedebistas e à executiva do partido é que sua agenda com Junior Friboi havia começado dois dias antes, na segunda-feira, numa reunião com a família do pré-candidato em São Paulo, e incluiu ainda outra reunião em Goiânia, essa de caráter reservado, apenas com o núcleo estratégico mais ligado a Junior.
De acordo com uma fonte que preferiu não se identificar, nessas duas reuniões reservadas, o tom de Duda foi menos festivo. Ao clã Friboi, que vai financiar a possível candidatura de Junior em Goiás, e ao núcleo duro da pré-campanha, o marqueteiro fez uma leitura mais realista do conjunto de pesquisas que realizou, que aponta algumas dificuldades que o pré-candidato do PMDB encontrará numa eventual campanha.
Abaixo, alguns dos pontos da pesquisa que Duda Mendonça não mostrou aos deputados e à executiva do PMDB.
Iris Rezende
Não foi por acaso que Duda Mendonça disse à imprensa que a presença de Iris Rezende é fundamental para um bom desempenho de Junior. As pesquisas feitas por Duda confirmaram que Iris tem uma imagem melhor do que a de Friboi, além do ex-governador ter mais que o dobro dos índices de intenção de voto de Junior. Iris seria mais competitivo, tanto na disputa para o governo quanto para o Senado.
JBS Friboi
Ao contrário do que Duda disse aos deputados do PMDB, a empresa da família de seu cliente tem uma imagem controversa entre os eleitores goianos, de acordo com sua pesquisa. De fato, uma parcela da população expressa admiração. Um contingente maior, no entanto, vê o Grupo JBS Friboi com ressalvas, questionando supostos financiamentos públicos obtidos pela empresa junto ao BNDES, supostas denúncias de sonegação fiscal, formação de cartel, agressão ao meio ambiente, entre outras. Isso ele escondeu da entusiasmada plateia peemedebista.
Negócios
A pesquisa de Duda constatou que a imagem que se tem do candidato Junior Friboi também é controversa. Alguns acham que ele poderia representar uma mudança, por ser empresário bem-sucedido. Por outro lado, surgiram inúmeros questionamentos sobre as razões de Junior querer ser candidato, com ilações “de que seus objetivos seriam apenas de beneficiar suas próprias empresas”. Antes de entrar na disputa, teria concluído Duda, Friboi vai ter que arranjar uma explicação convincente do porquê, mesmo sendo bilionário, está brigando tanto para entrar na política.
Mudança
Para os deputados do PMDB, Duda contou apenas uma meia verdade do que sua pesquisa apurou sobre o tema mudança. Na verdade, Duda Mendonça detectou em sua pesquisa que o eleitor só votará na mudança se enxergar na oposição alguém capaz, um tom diferente do que defendeu aos peemedebistas. A pesquisa do Duda aferiu que o eleitor não está convencido de que Junior tem essas características.
Marconi Perillo
Para os deputados peemedebistas, Duda disse que o governo tem desgastes, mas que o governador “não pode ser considerado carta fora do baralho”. Na sua apresentação-espetáculo ele se “esqueceu” de dizer (mas disse a Júnior Friboi) que sua pesquisa confirmou a crescente recuperação de imagem de Marconi Perillo e que o governador é considerado o mais preparado entre os candidatos e o mais forte para vencer a eleição.
Máquina
O marqueteiro disse a Júnior Friboi e omitiu na conversa com os dirigentes e parlamentares não ser fácil para a oposição enfrentar um candidato que detém a máquina administrativa, que tira proveitos eleitorais no exercício do poder e que, pelas informações que recebeu, visita cada um dos municípios do Estado inúmeras vezes, sejam cidades pequenas, médias ou grandes.
Segundo turno
Duda Mendonça manifestou ao pré-candidato do PMDB sua preocupação com a divisão da oposição, com o argumento de que, no segundo turno, não há como evitar os ressentimentos dos perdedores. As eleições, em diversos Estados, demonstram isso. Aos deputados e dirigentes, o marqueteiro disse exatamente o contrário, de que, no segundo turno, com qualquer candidato, a oposição tem tudo para vencer o governador.
Derrotas em Goiás
Na conversa reservada com Friboi e familiares, Duda não soube explicar as quatro derrotas que sofreu em Goiás – campanhas de Lúcia Vânia (PP) em 1994, Iris Rezende em 1998, Pedro Wilson, em 2004 e Maguito Vilela, em 2006. Aliás, todas as campanhas das quais participou no Estado e na Capital. No encontro com parlamentares, nem tocou no assunto.
Recursos financeiros
Aos deputados e à imprensa, o marqueteiro-celebridade se esquivou de dizer quanto está recebendo de Friboi para cuidar da sua campanha. No mercado, especula-se um contrato de pelo menos R$ 30 milhões, o que seria, de longe, o mais caro contrato eleitoral na história de Goiás.