Em seu artigo deste fim de semana no jornal O Popular, a editora-chefe Cileide Alves avalia o que ela chama de grande problema nacional: a segurança pública.
Diz Cileide que a segurança vai mal em todo o país e “o Brasil é o país que mais registra mortes de policiais assim como também lidera o índice de homicídios de civis”.
A jornalista deplora a exploração do tem nas campanhas eleitorais e conclui que a sociedade exige uma discussão mais séria sobre o assunto.
Veja a íntegra, vale a pena:
Segurança humana
Alguma coisa vai muito mal com a segurança pública de um país, quando a maioria dos policiais acredita que as atuais carreiras não são “adequadas” e deveriam mudar; quando um terço deles abandonaria a profissão se pudesse; e quando quase a metade diz que o policial que mata um criminoso deve ser premiado pela corporação.
Esses dados são compilados da pesquisa Opinião dos Policiais Brasileiros sobre Reformas e Modernização da Segurança Pública, realizada pela Fundação Getúlio Vargas e pela Secretaria Nacional de Segurança Pública com 21 mil policiais de todas as forças e divulgada na semana passada.
Do lado da sociedade, a situação não é menos dramática: entre os crescentes índices de violência nas grandes cidades uma informação estarrecedora: 18 mil pessoas foram mortas por forças policiais nos últimos dez anos, de acordo com dados apurados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Há, na opinião de alguns especialistas, uma guerra no Brasil em nome do combate ao tráfico de drogas que coloca policiais contra um inimigo. Nessa guerra, somam-se mortos dos dois lados: o Brasil é o país que mais registra mortes de policiais assim como também lidera o índice de homicídios de civis.
“Com a dita redemocratização do País, o inimigo não é mais o subversivo, passou a ser determinadas pessoas de determinadas classes sociais que habitam determinadas regiões do País ou determinadas regiões das grandes metrópoles. Houve essa transferência do inimigo interno”, diz o tenente-coronel reformado da PM de São Paulo Adilson Paes de Souza, que concluiu uma pesquisa na USP sobre o tema.
Para ele, “a doutrina de segurança nacional foi implantada para dar suporte ao regime militar, sobreviveu ao processo de redemocratização, e está presente até hoje.[…] O discurso de que ‘bandido bom é bandido morto’ é um eco da doutrina de segurança nacional”, afirma o tenente-coronel. E pior, esta cultura não se impregnou apenas entre os policiais, mas também na sociedade.
Polícia insatisfeita, população indefesa, índices crescentes de violência e a aceitação da violência policial retratam a complexidade do debate sobre segurança pública que promete ser o destaque nestas eleições, tanto no Estado quanto nacionalmente.
Entretanto, esse complexo quadro não é a base da discussão sobre políticas públicas para o setor. Só entram no radar de candidatos e seus apoiadores se governo A ou se governo B é o responsável pela insegurança pública e as fantasiosas leituras, sempre ao gosto do freguês, das estatísticas de violência.
À sociedade interessa debruçar-se sobre a complexidade do tema da segurança humana, para usar uma expressão adotada pela ONU, e não se prender na armadilha do debate narcísico puxado pelos candidatos, que repetem mais do mesmo para ficar tudo como está.
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