O aluno da Faculdade de Direito da UFG, André Luiz Ribeiro, é mais um a entrar no debate a respeito dos violentos protestos realizados contra o aumento da passagem de ônibus na última terça-feira.
Ele critica a forma com que os protestos foram conduzidos e diz que o movimento estudantil é muito maior do que meia dúzia de boçais com pedras nas mãos”.
Diz ainda que essas manifestações contribuíram para esvaziar os protestos.
Veja a íntegra do artigo publicado na página online do Jornal Opção:
Pedras, paus e fogo: Movimento Estudantil de volta ao Paleolítico em busca da tática adequada
André Luiz Ribeiro
Especial para o Jornal Opção
Temos acompanhado, ao longo das últimas semanas, uma série de manifestações estudantis e revoltas populares em terminais rodoviários em decorrência do reajuste do valor da tarifa de ônibus, determinado pela Câmara Deliberativa do Transporte Coletivo (CDTC) em um gesto de clara submissão desta aos interesses espúrios de meia dúzia de empresários. Desde o dia 22 deste mês o trabalhador da Grande Goiânia tem pagado onerosíssimos R$ 3,00 pelo sitpass. Dentre os membros da supracitada Câmara, cabe mencionar, está o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), que já no primeiro ano do atual mandato tem dado mostras de um profundo descomprometimento com a efetivação do plano de governo apresentado durante o período eleitoral e decepcionado em larga medida o seu eleitorado.
A mobilização dos estudantes é imprescindível. Não pretendo colocar isso em xeque aqui. O Movimento Estudantil conquistou e tem conquistado vitórias importantíssimas, nacional e internacionalmente, no que se refere à defesa de uma série de bandeiras, dentre elas aquela pelo transporte coletivo efetivamente público. O discurso conformista e pernicioso dos apologistas da inércia, de acordo com o qual “manifestação não dá em nada”, é uma falácia cuja total falta de fundamentação histórica se verifica sem muito esforço. Entretanto, o discurso diametralmente oposto, de acordo com o qual toda e qualquer forma de manifestação se justifica quando tem por fim a defesa de uma causa nobre, costuma ser ainda mais nocivo.
Precisamos refletir profundamente acerca daquilo que nos propomos construir em defesa do que cremos ser justo. Julgar os meios quanto à adequabilidade aos fins que pretendemos atingir através deles. Precisamos responder ao seguinte questionamento: quando aqueles a quem pretendemos pressionar através de manifestações (creio ser esse o intuito delas) terão sido suficientemente pressionados? Dos nove membros da CDTC, três são prefeitos, dois são secretários municipais, um é secretário estadual e há, também, um deputado estadual: gente que se preocupa com votos. Gente que não quer que as manifestações cresçam numericamente, preocupados com as próximas eleições, e que estão contando com a imaturidade de certos manifestantes para isso.
Parece-me evidente que o Movimento Estudantil só logrará êxito na luta contra o aumento da tarifa se conseguir atrair a simpatia e o apoio da opinião pública. Parece-me ainda mais evidente que isso não tem acontecido, observando a queda expressiva do número de manifestantes de 16 de maio (data da primeira manifestação) para cá, e que a razão de tal esvaziamento está na ausência de organização com pulso firme, que desautorize certos manifestantes irresponsáveis, descomprometidos com a defesa da causa, que vão aos protestos munindo paus, pedras e coquetéis molotov, encobrem seus rostos e fazem barbaridades se valendo do anonimato (por vezes, colocando em risco a vida de pessoas inocentes).
Por conta dessas atitudes (que de forma alguma dialogam com o trabalhador), choques com a Polícia Militar têm sido frequentes. Sim, a Polícia Militar é truculenta, mal treinada e responde com presteza impar sempre que chamada a reprimir movimentos populares, mas há certos “revolucionários” bem intencionados em redes sociais que, pretendendo encobrir as falhas do movimento, têm atribuído toda a violência dos confrontos à “polícia fascista”. Acredito que seja pouco didático reproduzir esse discurso (e corro o risco de ser acusado traidor do movimento, por defender esse ponto de vista). Acredito que se o Movimento Estudantil goianiense (que é muito maior que meia dúzia de boçais com pedras em mãos) continuar recepcionando acriticamente atitudes como essas, além de não conseguir barrar o aumento levará décadas para se desfazer da pecha de movimento burro, extremista, sem credibilidade e inútil.
André Luiz Ribeiro é aluno da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás
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