Veja matéria do jornal Diário da Manhã, deste domingo:
Pronunciamento de Dilma não satisfaz
Manifestantes dizem que presidenta fez discurso de recuo, neutro, tirando o corpo fora para não se posicionar. Governo estadual afirma estar aberto ao dialógo com a União
LEANDRO ARANTES
A equipe de comunicação do governador Marconi Perillo afirmou, ontem, que o governo de Goiás está aberto ao diálogo com a Presidência da República para buscar a melhor forma de atender às reivindicações dos manifestantes que saíram às ruas em passeatas por todo o Brasil. A informação veio depois do pronunciamento da Presidenta Dilma Rousseff, onde ela afirma que buscará uma comunicação com prefeituras e governos a fim de solucionar problemas apontados nas manifestações. “Irei conversar, nos próximos dias, com os chefes dos outros poderes para somarmos esforços. Vou convidar os governadores e os prefeitos das principais cidades do País para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos”, informou a presidenta.
De acordo com o governo do Estado, “a iniciativa tem que partir da União, pois tem que ser eles quem devem buscar o diálogo”. Afirma ainda que “tem atuado fortemente para atender as reivindicações” e que “o governador vive em Brasília pedindo coisas para Goiás”. A equipe de comunicação não soube informar se a Presidência da República já havia entrado em contato com Marconi Perillo, como informado em seu pronunciamento.
A declaração da presidenta Dilma, em rede nacional, ocorreu no momento em que integrantes da Frente Contra o Aumento da passagem de ônibus em Goiânia, que organizou a manifestação da última quinta-feira, estavam em reunião para definir os caminhos a serem seguidos pelo movimento. Para um dos organizadores, que se identificou apenas como Gabriel, a presidenta se absteve da obrigação de se posicionar em relação às manifestações. “Achamos que foi um recuo, com um discurso neutro. Ela tirou o corpo fora para não se comprometer, não atacou, mas também não deu apoio”, reflete.
Outro integrante da Frente contra o aumento, o coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Iago Montalvão, afirma que o grupo ainda não tirou nenhuma conclusão definitiva a respeito do pronunciamento da presidenta, mas que concordam que o movimento teve uma vitória ao conseguir que o preço da passagem voltasse ao valor de R$ 2,70.
Gabriel fala que, o que foi dito pela presidenta Dilma, não mudou em nada no movimento, e irão continuar a lutar pela melhoria do transporte coletivo. “Vamos realizar palestras e debates de modo a educar as pessoas que estão entrando agora no movimento, a fim de dar um tom mais político para os próximos atos.”
Rumos
Montalvão explicou que a Frente Contra o Aumento não pretende convocar novas manifestações no momento, principalmente porque consideram que o principal objetivo, que foi a redução no preço da passagem, foi atingido. Ele fala que o movimento tomou um rumo diferente do inicial, e que, no momento, é preciso analisar tudo com muita cautela. “Começou pela passagem, com objetivos claros e bem definidos, discutir o transporte público. Mas vieram outras ondas de manifestações e o movimento ficou mais complexo.”
Iago acredita que houve uma perda de foco durante as manifestações, e que isso deve ser revisto. “Não propomos analisar saúde ou segurança, a Frente se uniu para discutir transporte público, então estamos conversando para ver o que vai ser feito a seguir, visto que o foco foi perdido.”
Mesmo afirmando que houve um agrupamento por ideais diferentes do proposto inicialmente pelo grupo, o coordenador do DCE não se diz contra as demais reivindicações que tomaram conta do protesto, mas afirma que a Frente contra o Aumento não pretende liderar essa nova luta que nasceu do protesto contra o transporte coletivo. “Não achamos negativo esse levante de pessoas, nunca dizemos que essa luta era só nossa, mas não podemos tomar frente dessas outras pautas, pois não temos base teórica pra isso”, explica.
“O governo e a sociedade não podem aceitar que uma minoria violenta e autoritária destrua o patrimônio público e privado, ataque templos, incendeie carros, apedreje ônibus e tente levar o caos aos nossos principais centros urbanos. Essa violência, promovida por uma pequena minoria, não pode manchar um movimento pacífico e democrático”, afirmou a Presidente Dilma em seu pronunciamento. Mas, o grupo de manifestantes é enfático quando diz serem contra a criminalização dos integrantes mais exaltados, eles afirmam acreditar que todo o movimento é legítimo, mesmo quando acontecem exageros. “Não concordamos com essa divisão do movimento entre os da paz e os vândalos, criminalizando parte do movimento. As pessoas sofrem “vandalização” no seu dia a dia, e estão apenas devolvendo a violência que recebem”, protesta Iago.
A Frente Contra o Aumento da passagem destaca que o movimento que surgiu, de forma espontânea, e tomou conta das ruas, com diferentes reivindicações, possui opiniões diversas e se tornou algo muito complexo. “Para nós é complicado nos colocarmos à frente desse movimento, pois ele é muito espontâneo e dinâmico. Estamos tentando entender e discutindo a melhor forma de nos relacionarmos com ele”, comenta Iago.
O grupo afirma que não definiram nenhuma outra manifestação, mas dizem estar buscando o diálogo com outros seguimentos da sociedade, a fim de apoiar as demais reivindicações que surgiram, como o fim da corrupção, melhorias na saúde, educação, contra a PEC 37, dentre outras. “Estamos fazendo reuniões e dialogando com outros movimentos sociais para definirmos o direcionamento de outros atos. É possível que haja um apoio a outras frentes”, destaca.
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