No artigo desta segunda-feira em O Popular, Fabiana Pulcineli usa o espaço Cena Política para analisar as novas configurações da política local. Ela acha que a filiação de Marina Silva não fortalece tanto a terceira via comandada por Vanderlan Cardoso e Ronaldo Caiado. Fabiana também diminui a importância da chegada de Alcides ao PSB.
Veja o artigo de Fabiana na íntegra:
Mais pé no chão
A surpreendente filiação da ex-senadora Marina Silva ao PSB tem grande impacto no cenário para 2014 em nível nacional, afeta os planos do PSDB e do PT e fortalece a terceira via na disputa ao Palácio do Planalto, mas não vale o entusiasmo para os aliados em nível estadual, liderados pelo ex-prefeito Vanderlan Cardoso, presidente goiano do PSB e pré-candidato a governador. Estes ainda têm muitos desafios a enfrentar para ganharem força para as eleições do ano que vem.
É claro que um projeto fortalecido ao Planalto reforça o palanque nos Estados e dá respaldo para as articulações locais, mas na história política recente o cenário nacional não tem tido peso decisivo nas eleições em Goiás.
Além disso, ao fim do prazo para as filiações de pré-candidatos em 2014 (que terminou sábado), PSB e DEM em Goiás, os dois principais partidos da chamada terceira via, não conquistaram adesões que agregassem musculatura ao projeto do grupo.
A filiação mais comemorada foi do ex-governador Alcides Rodrigues (ex-PP), que deixou o governo em 2010 com baixa aprovação popular, que se desgastou ainda mais com os ataques de seu sucessor e desapareceu do cenário político, sem participar da oposição e sem colaborar com a construção de uma proposta política alternativa ao Estado.
O discreto evento de sua filiação, esvaziado e sem a presença de lideranças importantes do Estado, retrata o peso da entrada de Alcides, tido como possível candidato a vice na chapa de Vanderlan. Ao POPULAR, o empresário e ex-prefeito de Senador Canedo disse, durante o evento de filiação de Marina Silva, em Brasília, no sábado, que o partido receberia “lideranças influentes” do grupo da ex-senadora para ajudar no projeto da terceira via.
E quem chegou à legenda? O vereador de Goiânia Elias Vaz, além de outros nomes sem expressão. Vão ajudar no projeto com Alcides Rodrigues e Ronaldo Caiado, deputado federal e presidente estadual do DEM, numa salada de tendências e ideologias que dificulta ainda mais a elaboração de um projeto consistente e convincente.
O DEM perdeu um deputado estadual, José Vitti (agora PSDB), e teve dificuldades em conseguir filiações. Segue enfraquecido no Estado. Além disso, Caiado parece cada vez mais isolado na sigla ao insistir com um projeto alternativo. Por conta de suas movimentações e do uso da estrutura do governo no esforço para melhorar sua imagem, o governador Marconi Perillo (PSDB) ainda conta com o apoio de grande parte dos democratas.
O PSB também não segurou boa parcela de sua base no interior, que seguiu o empresário Júnior do Friboi para o PMDB. O PDT, que antes mostrava aproximação com o grupo, já não está tão convicto da aliança. Nos bastidores, há informações de que lideranças do partido mantêm contato com aliados do governo.
A terceira via ainda não conseguiu mostrar uma oposição eficiente nem construir um projeto que represente a modernidade de que tanto falam. Criticam a situação da Celg, mas não apontam como resolver o problema, a não ser lamentando o acordo que não foi feito na gestão de Alcides, com atuação contrária de Marconi na época.Criticam a contratação de empréstimos pelo governo, mas não indicam alternativa à busca de recursos para investimentos. Criticam os altos gastos do Estado com shows, mas não justificam os eventos realizados na gestão do próprio Vanderlan em Senador Canedo ou de aliados.
A terceira via enfrenta ainda a falta de estrutura e pouco tempo de televisão para a campanha. Em 2010, Vanderlan teve a máquina do governo. Não tem mais. Ao discursar na filiação de Alcides, Vanderlan afirmou que o grupo, do qual também faz parte o PRP do ex-secretário da Fazenda Jorcelino Braga, “está muito forte”. “A imprensa nos chama de terceira via, mas vejo que, na verdade, somos a primeira, dada a expressão política de nossos companheiros”, disse o empresário.
É bom economizar no deslumbramento, acelerar os trabalhos e repensar as estratégias. Afinal, o grupo está longe de representar um “soco no fígado” dos governistas, para usar a expressão do ex-presidente Lula da Silva ao ser informado do acordo entre Marina e Eduardo Campos. Não adiantará tentar surfar na onda da terceira via no cenário nacional.