• Mérito de farda não é favor político
A proposta que começou a tramitar na Assembleia Legislativa de Goiás, enviada pelo governo de Caiado (UB), para atender caprichos pessoais da primeira-dama Gracinha Caiado, é mais do que uma simples alteração nos quadros da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros.
Trata-se de uma intervenção direta na espinha dorsal das corporações: a hierarquia baseada no tempo de serviço, preparo técnico e méritos conquistados. O projeto prevê o aumento de vagas para coronel – de 35 para 41 – com cartas marcadas. É uma distorção grave.
Segundo o deputado estadual Major Araújo (PL), as novas vagas coincidem exatamente com os nomes de apadrinhados políticos próximos do governador e de sua esposa, os chamados “Nutellas”, gente do Palácio, do ar condicionado, que chegou a tenente coronel em sete anos graças as bajulações e bravuras questionáveis.
• Desmonte
A estrutura militar é organizada em forma de pirâmide: poucos no topo, muitos na base. Isso não é apenas simbólico — é operacional. Inchar o topo, criando mais vagas para coronéis sem fortalecer a base, enfraquece a disciplina, desmotiva os praças e oficiais de carreira, e quebra a lógica de mérito.
Pior: abre espaço para uma elite artificial, que ascendem não pela bravura real ou dedicação, mas por alinhamento político. O governo Caiado, ao desconsiderar esse princípio, pratica um desrespeito inaceitável àqueles que sacrificam anos a fio por suas corporações.
• Estão de “Gracinha” na caserna
É alarmante que figuras civis como Gracinha Caiado, primeira-dama do Estado, estejam diretamente envolvidas na escolha de oficiais a serem promovidos dentro da PM.
A ingerência política que já é condenável em qualquer área administrativa se torna ainda mais repulsiva quando afeta instituições que exigem isenção, honra e disciplina como Polícia e Bombeiros.
Transformar promoções em moeda política é banalizar o esforço de quem rala no sol, na madrugada, na chuva. A meritocracia, pilar da vida militar, não pode ser jogada no lixo em nome de conveniências palacianas.
Cristiano Silva
Editor
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