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Diretor vai assumir Cinemateca em crise e quase sem funcionários
Em janeiro, entidade de preservação audiovisual estará nas mãos de apenas 20 empregados
Professor Lisandro Nogueira enfrentará risco de paralisação dos serviços; ministério tem plano emergencial
JULIANA GRAGNANI ÚRSULA PASSOS DE SÃO PAULO
O novo diretor da Cinemateca Brasileira, o professor Lisandro Nogueira, assumirá o cargo nesta semana com o desafio de assegurar o funcionamento da instituição com apenas 20 funcionários.
A Cinemateca é responsável pela preservação e difusão da produção audiovisual brasileira e guarda hoje 44 mil títulos do cinema do país em sua sede na Vila Clementino, na zona sul de São Paulo.
Os empregados que vão permanecer na Cinemateca são servidores públicos, segundo Leopold Nosek, presidente da Sociedade Amigos da Cinemateca –entidade sem fins lucrativos responsável por gerir a instituição. Dos 20, dos quais dois são motoristas, 17 já podem pedir a aposentadoria. É o caso da diretora interina, Olga Futemma.
O esvaziamento do corpo técnico vai ocorrer no fim de dezembro, quando termina o contrato de 24 pessoas empregadas pela sociedade.
No total, são 44 trabalhadores que atuam hoje na preservação da memória cinematográfica do país.
O número já é um terço do quadro anterior à crise administrativa que há quase um ano ameaça o patrimônio. Em janeiro, a Cinemateca tinha 132 técnicos.
Os serviços realizados pela instituição –a preservação, catalogação, difusão, documentação e os trabalhos do laboratório de imagem e som– foram afetados.
PORTAS FECHADAS
Desde a última quinta-feira, apenas um funcionário trabalha na restauração, setor responsável por recuperar obras ameaçadas. A área restaurou filmes como “Limite”, de Mário Peixoto (1931) e “Cabra Marcado para Morrer” (1985), de Eduardo Coutinho.
Coutinho diz considerar a recuperação de seu filme “um trabalho extraordinário”. E alerta para o estado da Cinemateca. “É um escândalo que não se melhore a conservação dos filmes no país. Tem filme de dez anos atrás que está liquidado”, diz. “A Cinemateca tem que voltar a ser o que era.”
Outro setor que deve fechar suas portas após dezembro é a biblioteca, que em 2012 atendeu mais de mil pesquisadores. Desde maio, o local já não abre aos sábados.
O cineasta Aníbal Massaini Neto, diretor do documentário “Pelé Eterno” (2004), espera, desde o ano passado, a Cinemateca localizar imagens de Pelé, produzidas pela TV Tupi, pela Atlântida e pelo Canal 100, para finalizar uma série sobre o ex-jogador.
“Parte da demanda foi respondida pela Cinemateca, mas ainda falta muito. Não há pessoal disponível para atender aos pedidos”, diz ele.
Em 2012, a pesquisa de imagem da Cinemateca recebeu cerca de 3 mil e-mails com consultas e demandas.
Para o diretor Fernando Meirelles, a instituição tem que promover o acesso àquilo que restaura e conserva. “A Cinemateca não faz sentido se você não puder chegar no material e usá-lo”, afirma.
A programação de exibição foi reduzida em maio, quando uma das duas salas da entidade foi fechada. Entre os funcionários que devem sair no final do ano está o único projecionista da Cinemateca.
Apesar da ameaça de encerramento dos serviços da instituição, o Ministério da Cultura nega que haja dificuldades. “Não tem nenhuma crise na Cinemateca. O Lisandro deve assumir esta semana”, disse à Folha a ministra da pasta, Marta Suplicy.
Em janeiro, Marta havia afastado o diretor, Carlos Magalhães, da função. E, desde fevereiro, a Cinemateca vem sendo gerida sem recursos do governo, que congelou repasses por causa de uma auditoria iniciada pela Controladoria-Geral da União.
A investigação, ainda em curso, tem como foco o convênio entre o ministério e a gestora da Cinemateca.
Em relatório preliminar, a controladoria pediu mais explicações sobre a prestação de contas. A parceria entre o governo e a sociedade, firmada em 2008, já movimentou R$ 105 milhões.
EDITAIS
O ministério apresentou um plano emergencial para a crise. A proposta é o lançamento de editais de restauração, digitalização e difusão, para os quais a Sociedade Amigos da Cinemateca deve concorrer. Segundo a assessoria da pasta, faltam “ajustes jurídicos” para a divulgação do edital, prevista para dezembro.
Procurado, Lisandro Nogueira, que deve dar uma entrevista coletiva amanhã, afirmou que não falaria antes de assumir o cargo na Cinemateca. À Folha, em outubro, dissera que tinha como objetivo “dar vida nova” e “reconstruir” a instituição.
Colaboraram GUILHERME GENESTRETI e MATHEUS MAGENTA