A edição desta semana do Jornal Opção traz uma reportagem completa sobre a possível compra de seguidores e curtidas em páginas do Facebook por parte das equipes dos candidatos a governador Iris Rezende (PMDB) e Vanderlan Cardoso (PSB) – o que é vedado pela legislação eleitoral.
O caso veio à tona depois de uma denúncia feita na semana passada no blog Goiás 24 Horas, a partir de informações cedidas pelo próprio Facebook.
Leia aqui a reportagem na íntegra:
Equipes de Iris e Vanderlan podem ter comprado seguidores e curtidas em páginas do Facebook
Série de fatos implica o marketing de governadoriáveis do PMDB e PSB para uma possível compra de perfis de usuários de rede social, com o objetivo de inflar as respectivas fan pages. Ato fere legislação eleitoral e, se comprovado, é passível de multa
No mundo globalizado, a internet assume um papel cada vez mais preponderante na vida de cidadãos, empresas, governos e instituições. Os internautas ganharam mais liberdade para emitirem opiniões e pensamentos, e seu poder de influência tem alcance inimaginável antes. Redes sociais como o Facebook, Twitter e Instagram crescem cada vez mais no País e hoje são utilizadas para divulgar ideias e tendências. As plataformas virtuais passaram a ser um importante instrumento de comunicação de partidos e candidatos. É o que está acontecendo este ano.
Mas nem todos aprenderam a essência das mídias digitais e tampouco vêm respeitando as regras e normas de uso. Nos últimos dias, uma série de fatos relacionados às redes sociais de dois candidatos ao governo de Goiás vem repercutindo negativamente na cena política goiana. Há suspeita de que as equipes de marketing digital tanto da campanha de Iris Rezende (PMDB), da Coligação Amor por Goiás, quanto da Vanderlan Cardoso (PSB), da Coligação Participação Popular, podem ter comprado novos seguidores e “likes” (curtidas) para as respectivas fan pages (páginas) no Facebook. (Leia abaixo as versões dos advogados de Iris e de Vanderlan.)
As suspeitas foram levantadas quando os antigos moderadores da extinta página de Iris, chamada de “Iris Rezende Político”, publicaram inusitadamente um desabafo no dia 8 de agosto na própria timeline (linha do tempo) do candidato, após terem o contrato cancelado. Os profissionais do Grupo Invicta, a agência de marketing digital que foi contratada pelo PMDB, anunciaram que estavam deixando a campanha e aproveitaram o espaço para alfinetar integrantes da equipe de campanha peemedebista. (Confira a nota na íntegra ao final).
Como não poderia ser diferente, o fato chamou a atenção dos internautas, já que a página de um dos principais protagonista da cena política goiana que está em plena campanha foi usada para “lavar roupa suja” em público. Além deste insólito episódio, os internautas notaram que a maioria das pessoas que curtiram a postagem de desabafo da antiga equipe de marketing digital de Iris era formada por perfis de usuários estrangeiros. Este detalhe gerou estranheza e não demorou muito para que tal constatação ganhasse grande repercussão na rede. Assim, imediatamente, a fan page de Iris foi retirada do ar para que não criasse mais alardes.
Contudo, a reportagem teve acesso aos prints (cópias) de quando a página ainda estava ativa. A fan page do candidato peemedebista tinha pouco mais de 64 mil seguidores que, teoricamente, recebiam notícias e demais informações de campanha do governadoriável. Mas qual é o detalhe? Segundo dados que o Facebook disponibiliza para visualização pública, a origem da maioria dos perfis que seguiam Iris em sua antiga página era de Istambul, a maior cidade da Turquia.
Mais: noutra função, a rede social apontou que a maioria dos seguidores de Iris não era formada apenas de cidadãos turcos, havia perfis de indivíduos de pelo menos 42 países diferentes. Em determinadas postagens da página inativa, cujo teor era assuntos relacionados às questões particulares de Goiás, o maior número de usuários que curtiam tais posts tinha nomes pitorescos como Sarman Mario, Mohamed Regab, Zhenya Merrick e Avi Sharma.
Trata-se de contas fakes de cidadãos estrangeiros, — a maioria de nacionalidade turca — que, pelo visto, estariam apoiando e curtindo as ideias e propostas de Iris ao governo de Goiás. Neste sentido, havia postagens que chegavam a 600 “likes”, sendo que 80% eram oriundos de perfis de fora do Brasil.
Vale lembrar que, apesar da maciça presença de estrangeiros em sua página, Iris Rezende é uma figura pública extremamente conhecida. Portanto, obviamente, havia fãs genuínos que seguiam a extinta página do político goiano. O líder peemedebista é um dos maiores figuras políticas da história de Goiás, prefeito de Goiânia por três vezes, vereador, deputado estadual, governador duas vezes, ministro da Agricultura e da Justiça. Portanto, nada mais que natural que o líder histórico tenha de fato seguidores e eleitores “puros” que o sigam nas redes sociais.
Comércio de seguidores
Na internet é possível encontrar centenas de sites especializados na comercialização de seguidores para páginas no Facebook. Ocorre que estes fãs são “fantasmas”, ou seja, contas “fakes” (falsas) criadas apenas com intuito comercial, para serem vendidas como “curtidores” de páginas. São contas que, efetivamente, não interagem. Ao menos que o “contratante” destes perfis pague também para que eles venham a curtir conteúdos publicados na linha do tempo da página a ser inflada de seguidores fajutos.
Em um destes sites especializados consultado pela reportagem foi possível conferir que por 97 reais se pode comprar mil seguidores para curtir uma página no Facebook. Pelo mesmo preço também é possível adquirir mil curtidas para postagens que o comprador selecionar em sua linha do tempo. Na realidade este é um preço médio, já que é possível verificar sites que comercializam a mesma quantidade de seguidores e curtidas por apenas 50 reais.
Outro site oferecia um pacote de 10 mil seguidores por 700 reais, e 10 mil curtidas por 500 reais. Claro que, quanto mais barato for o pacote, mais rastros de alterações podem ficar evidenciados aos internautas de olhos mais atentos. Um exemplo disso é o exército de seguidores oriundos de outros países que estes “prestadores de serviço” com um pacote mais em conta disponibilizam aos clientes de carteira mais econômica. Se o contratante preferir disfarçar melhor a inflada de seguidores, existe a possibilidade de aquisição de perfis de usuários locais. Mas, para isso, o comprador terá que desembolsar um valor um pouco maior.
Não bastasse os vexames de desabafo da equipe do candidato em sua própria página de campanha, e sua retirada do ar por conta das fortes suspeitas de compra de seguidores e curtidas, o marketing do líder peemedebista cometeu uma nova gafe. O candidato ganhou uma nova fan page com o nome de “Iris Rezende Grupo”, que detém mais de 18 mil seguidores. Aconteceu que, num curto período de tempo, após uma média de 50 novos seguidores por dia, nos dias 9 e 10 de agosto foi verificado que a nova página do peemedebista ganhou 9 mil novos seguidores de uma só vez, ou seja, praticamente 50% dos atuais.
De sábado, 9, a domingo, 10, a nova página de Iris tornou-se um verdadeiro “fenômeno” virtual. Segundo o próprio Facebook, foi registrada a incrível taxa de 2.306,9% de novos “likes”, verdadeiro sucesso, performance digna de páginas de celebridades com fama de alcance mundial como os astros hollywoodianos de primeira grandeza. Como pode ser explicado um pico de 9 mil curtidas em menos de 48 horas, sendo que nos dias seguintes a nova página de Iris não apresentou o mesmo desempenho de angariar outros seguidores? Segundo os dados do Facebook, os seguidores da nova fan page de Iris são de Goiânia, não mais de países asiáticos e do Leste Europeu, como a antiga página que foi retirada do ar. Mas, lembrando o que a reportagem verificou, também há a possibilidade de se comprar perfis locais.
O outro lado
Assessorias jurídicas de Iris e Vanderlan desconsideram suspeita de alterações em Facebook de seus candidatos
Procurados pela reportagem para se posicionar a respeito do caso, a assessoria jurídica das candidaturas de Iris Rezende e Vanderlan Cardoso deram respostas diferentes sobre o fato. O advogado da campanha majoritária do PMDB, Leon Deniz, afirma que o partido e o candidato nunca tiveram o interesse de conquistar seguidores no Facebook por meio de compra ou qualquer tipo de vantagem financeira. Ele diz que a direção da campanha não tem conhecimento do fato e que a sigla não admite em espécie alguma qualquer tipo de “negócio” desta natureza.
O advogado aproveitou para atacar a candidatura adversária. “O que observamos é que quem está cometendo abuso do poder econômico, inclusive em meios de comunicação, é a campanha de reeleição do governador Marconi”, acusa Leon Deniz.
O assessor jurídico de Vanderlan Cardoso, Colemar José de Moura, se manifestou por meio da assessoria de imprensa do candidato do PSB, dizendo que “não responde a baixarias”.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa de Vanderlan Cardoso para maiores informações sobre os responsáveis pela administração de sua conta no Facebook e foi informada de que a Kanal Vídeo, empresa de publicidade do ex-secretário estadual da Fazenda (governo Alcides Rodrigues) Jorcelino Braga, seria a responsável pela administração das redes sociais do candidato. Procurada, a Kanal Vídeo informou que o Facebook do governadoriável do PSB estava sob os cuidados da empresa LiveCom Comunica.
Janaina Rocha, uma das sócias desta empresa, pediu para que fosse encaminhada uma solicitação de esclarecimentos por e-mail. Assim feito, a agência respondeu que “a coordenação de comunicação de Vanderlan esclarece que não houve compra de seguidores, bem como desconhece qualquer atividade que aponte para esta prática”.
Ainda segundo o comunicado “os dados que, levantados todos os dias através de sistema de monitoramento interno de “administrador Facebook”, que só pode ser acessado por meio de uma senha pessoal e intransferível, indica que o número de usuários engajados é maior que o apresentado”.
Sobre os Widget, a empresa esclarece: “Vale lembrar que ao acessar a página os perfis que surgem naquela barra são de fãs da página que têm maior proximidade com o usuário que a acessou, (logado no Facebook). Obviamente, o print vai mostrar as pessoas que são “amigas” de outras que acessaram a página, portanto, há um monitoramento a todo momento. Também é mantida a monitoria das páginas dos demais candidatos e o que se observa são cadências de crescimento de “likes” incompatíveis com as curvas de crescimento habituais e cronologicamente naturais das mesmas. Porém, por entender que isso é irrelevante, a empresa não foca nessa estratégia de comunicação digital.”
A nota termina dizendo que “a única preocupação da agência é oferecer conteúdo de qualidade e interatividade com os internautas que diariamente visitam a FanPage de Vanderlan Cardoso”.
O Grupo Invicta Consultoria de Marketing também foi procurado pela reportagem no decorrer da semana, mas nenhum colaborador da agência quis se pronunciar sobre o assunto.
Detalhes que põem página de Vanderlan sob suspeita
Um dos primeiros indícios para saber se uma página está sendo fraudada ou não é verificar o número de seguidores e compará-lo com os indicadores de alcance da página. A fan page de Vanderlan Cardoso, candidato a governador de Goiás pelo PSB, tem mais de 53 mil seguidores, número considerado alto. Entretanto, de acordo com dados do Facebook (“função pessoas falando sobre isso”), apenas 2,4 mil seguidores estão repercutindo a página do candidato. Um índice considerado muito baixo, comparável ao de páginas abandonadas. Caso este muito diferente da fan page do candidato do PSB, já que a página é constantemente atualizada por se tratar de uma plataforma de campanha.
Outro fato que deixou dúvidas em relação à autenticidade da página de Vanderlan foi o detalhe observado por um internauta (que pediu para não ser identificado). Ao navegar pelo site oficial de campanha do candidato socialista foi notado que, em um wiget (espécie de banner virtual) que convidava visitantes para curtirem a página oficial do candidato no Facebook, os dez últimos avatares de usuários que curtiram e seguiam a página do governadoriável do PSB eram chamativos por conta de alguns detalhes. Até aí tudo bem, mas a curiosidade do internauta o levou a clicar nestes perfis para conferir suas origens.
Surpreendentemente foi verificado que os perfis tinham nomes do tipo: Rola Magness, Паша Агафонов, Jaime Pollo Perejila, AH Med, Jhessy Larys Laryy, Saba Mughal. Como se pode observar, são internautas de Israel, cujo nome está em hebraico, além de russos com nomes em alfabeto cirílico e outros de origem turca e árabe. Há até mesmo um seguidor que estampou em sua foto do perfil duas bandeiras da Turquia, demostrando amor à sua terra natal. Mais uma vez se levanta o questionamento: qual é o interesse de russos, turcos, árabes e demais asiáticos na página oficial de Vanderlan Cardoso, um candidato ao governo de Goiás?
O que haveria de tão especial para esses estrangeiros na eleição de um Estado brasileiro emergente, com pouco mais de 6 milhões de habitantes, de economia pautada na agroindústria e localizado no coração do Brasil, distante dos grandes centros do País? O eleitor-internauta goiano quer obter respostas para estes questionamentos.
Legislação eleitoral proíbe propaganda paga pela internet
De acordo com a lei 9.504 de 30 de setembro de 1997, que estabelece normas para as eleições, em seu artigo 57, é vedada a veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga na internet. Também é vedada, ainda que gratuitamente, a veiculação de propaganda eleitoral na rede mundial de computadores em sites de pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos. Segundo a legislação, “a violação do disposto neste artigo sujeita o responsável pela divulgação da propaganda e, quando comprovado seu prévio conhecimento, o beneficiário à multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais).”
Com o intuito de se evitar o comércio eletrônico de propaganda eleitoral, com a criação de infinitos sites que não atendam ao fim específico da propaganda eleitoral, qual seja aproximar o eleitor do candidato, a lei inibe a veiculação de propaganda em internet. Sob este viés, é crime contratar qualquer tipo de serviço como, por exemplo, seguidores e curtidas para o Facebook. O advogado Dalmy de Faria, um dos maiores especialistas em Direito Eleitoral em Goiás, explica que a legislação proíbe qualquer tipo de prática propagandística paga na rede durante o período eleitoral.
Dalmy de Faria alerta para o fato de que candidatos que hospedarem sites de campanha em provedores estrangeiros também ferem a legislação eleitoral. “É crime eleitoral sujeito a multa, e se reiterar pode ocorrer até mesmo a cassação do registro da candidatura”, diz. Ele também chama atenção para a questão da contabilidade de campanha de pessoas que trabalham alimentando conteúdos dos sites e redes sociais de candidatos. “Da mesma forma que se contrata cabos eleitorais, também há a possibilidade de contratação de pessoal para divulgação de ideias, agendas e propostas de candidatos nas redes. Mas a lei proíbe expressamente hospedar as páginas de candidatos em provedores internacionais, sendo caracterizado crime sujeito a multa, e até mesmo a cassação do registro da candidatura.”
Informado sobre os fatos, o advogado da coligação Garantia de um Futuro Melhor para Goiás, da candidatura de reeleição de Marconi Perillo (PSDB), João Paulo Brzezinski, afirma que até então não sabia do fato nem tinha conhecimento que era possível comprar seguidores e curtidas para páginas de candidatos no Facebook. Ele diz que vai reunir a equipe jurídica da campanha tucana para verificar o marco legal que estabelece as condutas de campanha para internet, além da possibilidade de penas cabíveis. “Havendo previsão legal será movida ação correspondente, e o próprio Ministério Público Eleitoral poderá fazer o mesmo.”
Empresa acusa “aproveitadores” na campanha de Iris
Confira o teor da carta do Grupo Invicta postada na linha do tempo da página de Iris Rezende e que foi retirada do ar, após suspeitas de compra de seguidores e curtidas:
“Devido a problemas contratuais, as páginas divulgadas nas Redes Sociais pela equipe do Grupo Invicta™ (Iris Resende,Iris ➊➎, #Voltairis #Irisnospodemos #ForçajovemIris #Compromisso Iris com a Segurança etc…) serão desativadas. Agradeço as dezenas de comissões, em especial as comissões da PMGO e PC, as diversas lideranças regionais e a todos os Sindicatos que entraram em contato com a nossa equipe, os que marcaram as reuniões e que acreditaram em uma mudança no estado de Goiás, “Sem mudança, não há esperança.”
Saímos da campanha com números expressivos, em apenas 2 semanas foram 22 comissões no estados que totalizam 32.000 eleitores insatisfeitos com o atual governador, uma media de 24.464 novos seguidores por semana, 373.716 goianos foram o alcance de nossas publicações, 4.240 Mensagens de apoio e 3.250 ligações atendidas com todo carinho e dedicação.
Iris Rezende é um excelente Governador, infelizmente é terrivelmente mal assessorado, por alguns aproveitadores que estão “parado” no tempo, e fazem uma campanha como se estivéssemos na década passada. Saímos com 2 certezas: Sem nenhuma dúvida Iris Rezende é o melhor pra Goiás. Infelizmente o Governador Marconi será reeleito.”