quinta-feira , 28 março 2024
Goiás

“Maguito deu tiro certeiro em Caiado ao falar do estereótipo de político violento”, afirma Vassil Oliveira

O jornalista Vassil Oliveira chamou de “tiro certeiro” a crítica do ex-governador Maguito Vilela (PMDB) ao senador Ronaldo Caiado (DEM), batendo no seu estereótipo de “politico com tradição violenta, desagregador e com discurso raivoso”. Na opinião de Vassil, “uma bala partindo de uma trincheira amiga tem poder de estrago maior do que teria se tivesse partido de um inimigo”.

Confira a análise na íntegra.

Ronaldo Caiado fala em unidade da oposição, mas age em direção contrária. Daniel Vilela reage

Por mais que o senador Ronaldo Caiado (DEM) tente passar a ideia de que constrói uma candidatura de unidade da oposição, seus atos apontam em outra direção: excesso de personalismo. O discurso vai para um lado, mas as ações vão para outro.

Veja seu material de divulgação. Sempre pregando candidatura ampla, porém com identidade reduzida a ele. Há excesso de fotos, por exemplo, dele sozinho ou com lideranças pontuais do PMDB. Faltam, no entanto, eventos e imagens dele com o comando do partido que reflitam de forma inegável essa convergência de projeto.

Os esforços para mostrar sintonia com parte dos peemedebistas – que na prática não decidem os rumos da legenda –, somados às demonstrações reiteradas de que lidera as pesquisas de intenção de voto para 2018, acabam produzindo efeito contrário: confronto interno.

Nas últimas semanas, isso ficou claro nas declarações de Maguito Vilela, que começou por desclassificar o critério de pesquisa como definição do nome da oposição. Esperteza de Caiado, deixou claro Maguito. O senador é um nome em evidência, já foi candidato a governador e presidente. Logo, Daniel não teria qualquer chance.

Porém tiro mais certeiro deu Maguito ao mirar o que é considerado o ponto mais frágil de Caiado: o estereótipo de político com tradição violenta, desagregador e com discurso raivoso. Uma bala dessa partindo de uma trincheira amiga tem poder de estrago maior do que teria se tivesse partido do inimigo.

Caiado, com seu sorriso de canto de boca apontando uma convicção inabalável de portador de vitória antecipada, se isola no seu favoritismo. E de que adianta favoritismo sem grupo de sustentação lá na frente? De que adianta um candidato com apelo popular mas sem um partido para reverberar isso na campanha, sem chapa consistente de candidatos a deputados, sem aliados que puxem o seu nome lá nos municípios, contra a tradicional polarização que teima em se instalar no Estado nas eleições?

É certo que, entre os caiadistas, impera a convicção – ela de novo – de que o senador está acima disso, é maior que essa polarização, porque o eleitor mudou e a política também não é a mesma. Possível mesmo. Quem sabe? Mas esse filme é antigo.

Em 2006, Demóstenes Torres, no auge da popularidade como senador da moralidade e anti-petista, e tendo Caiado como seu cabo eleitoral entusiasmado, tentou disputar o governo contra tudo e contra todos. Era o novo. A renovação. E… E ficou sozinho no meio do caminho. Sua votação foi pífia.

Nisso tudo há ainda um outro estereótipo de Caiado ganhando espaço: o de que ele não tem velhos, apenas novos amigos. Porque entre seus muitos adversários estão antigos companheiros. Caso mais evidente disso é o candidato do governo, José Eliton (PSDB). Eliton chegou à vice de Marconi pelas mãos do democrata. Agora, está do outro lado. Como estão mais nomes que, antes, estavam ao seu lado.

Talvez Caiado esteja se fiando no apoio certo do prefeito de Goiânia, Iris Rezende, à sua candidatura. Com isso, garante o PMDB do seu lado, sem precisar buscar entendimento de verdade com Daniel e Maguito. Mas aí vale mais uma vez lembrar Demóstenes Torres. A história como exemplo para o presente e o futuro.

Demóstenes era da base marconista mas não costurou a convergência dessa base ao seu nome. Partiu do pressuposto de que todos deveriam segui-lo, porque era o melhor nome, por critérios de pesquisa e outra. O que, de certa forma, era verdade. No fim, entretanto, ele foi para um lado, e Marconi para outro. Marconi ganhou com seu vice – Alcides Rodrigues – e ele perdeu feio.

E convenhamos. Com Iris Rezende completando 60 anos de vida pública – vida pública no PMDB, vale reforçar –, alguém acredita que ele trocará isso – o seu PMDB velho de guerra – por uma candidatura de outro partido, ainda que o nome peemedebista seja Daniel Vilela, com quem não se alinha bem?

Aliás, com quem não se alinhava. Nos últimos tempos, Daniel vem fazendo exatamente o que não tinha feito até então: buscar verdadeiramente uma aproximação com Iris – e Dona Iris. Reparem como Daniel, que elogiava Iris mas deixava sua assessoria bater no prefeito, mudou sua forma de agir. E aí?

Daniel faz com Iris o que Caiado não faz com ele, Daniel. O favoritíssimo Caiado pode, assim, nem chegar a perder ou ganhar de Daniel e Eliton. Pode, antes, ser derrotado por ele mesmo.