sábado , 4 maio 2024
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Em desabafo nas redes sociais, Marcos Tucano, ex-secretário de Educação, denuncia tentativas de desconstrução do Ideb

Em desabafo em seu Facebook, o ex-secretário e ex-superintendente da Secretaria de Estado da Educação Marcos das Neves, o Marcos Tucano, denunciou hoje a ofensiva do governo Ronaldo Caiado (DEM) de desconstruir os resultados alcançados pelos governos Marconi Perillo no ranking do Índice Nacional da Educação Básica (Ideb). Nos dois últimos mandatos do tucano (2011-2014; 2015-2018), a qualidade da educação estadual avançou para as primeiras posições, ficando em 1.º lugar em 2014 e 2018.

“Ontem e hoje recebi várias mensagens devido a reportagem de O Popular na quarta. Professores, coordenadores, diretores manifestaram uma grande contrariedade. Trata-se de uma mesma matéria escrita pelo mesmo repórter em 2017, agora com alguns dados novos”, afirma Tucano, na postagem. “Nela, fica no ar para os que não conhecem bem Educação, que os resultados do IDEB de Goiás (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) foram fabricados”, denuncia.

“Se a crítica foi ao Programa Profen (explico na frente), tudo bem, quando se trata de Educação, qualquer mudança gera elogios e críticas, nem sempre atingimos os resultados esperados. Outra vez, o que ficou nas entrelinhas da reportagem é que Goiás só conseguiu os avanços no IDEB por causa da mudança dos alunos da 1ª série do ensino médio noturno para o Profen”, disse tucano.

“Não é verdade e desmerecer esses resultados, mais do que a um governo, é desmerecer o trabalho árduo de milhares de professores, alunos, coordenadores e diretores. Educação se faz em sala de aula e se houve avanço é porque houve engajamento da rede estadual de Educação. Felizmente, os números oficiais do INEP contam outra história”, afirma o ex-secretário da Educação.

Leia a íntegra da postagem de Marcos das Neves:

Aos amigos, alunos, ex-alunos, professores, gestores e ex-coordenadores da Rede Estadual de Educação.

Ontem e hoje recebi várias mensagens devido a reportagem de O Popular na quarta. Professores, coordenadores, diretores manifestaram uma grande contrariedade. Trata-se de uma mesma matéria escrita pelo mesmo repórter em 2017, agora com alguns dados novos. Nela, fica no ar para os que não conhecem bem Educação, que os resultados do IDEB de Goiás (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) foram fabricados.

Trabalhei a minha vida inteira nesta área, sempre na iniciativa privada, no Governo, a convite da Professora Raquel Teixeira, amiga de décadas, foram 3,5 anos. Dentre outras coisas, coordenei em 2017 as ações para a Prova Brasil. Claro que também fiquei triste, especialmente porque as maiores repercussões não são na Educação, mas na Política. Então achei que mesmo fora deveria me manifestar. Foi uma extensa matéria e o que tenho a dizer também é extenso.

Se a crítica foi ao Programa Profen (explico na frente), tudo bem, quando se trata de Educação, qualquer mudança gera elogios e críticas, nem sempre atingimos os resultados esperados. Outra vez, o que ficou nas entrelinhas da reportagem é que Goiás só conseguiu os avanços no IDEB por causa da mudança dos alunos da 1ª série do ensino médio noturno para o Profen. Não é verdade e desmerecer esses resultados, mais do que a um governo, é desmerecer o trabalho árduo de milhares de professores, alunos, coordenadores e diretores. Educação se faz em sala de aula e se houve avanço é porque houve engajamento da rede estadual de Educação. Felizmente, os números oficiais do INEP contam outra história.

Primeiro era o Profen?
O Profen (Programa de Fortalecimento do Ensino Noturno) surgiu após a MP 746 de 2016 e editada em 2017 que permitiu a mudança nas trajetórias do ensino médio com ênfase para Língua Portuguesa e Matemática. O projeto só foi possível por causa da mudança da legislação e foi aprovado pelo Conselho Estadual de Educação. Antes era ensino médio regular noturno, agora, depois das adaptações, é ensino médio noturno. A retirada da palavra “Regular” faz toda a diferença.

O Ensino Médio Regular exigia em 2017, 800 horas/ano em 200 dias letivos (LDB Artigo 24). Seriam 4 horas, mas com intervalos e recreio são aproximadamente 5 horas por dia de segunda a sexta. Das 7h às 12h. Isso com apenas cinco aulas. Cinco horas no período noturno é inviável. Os alunos teriam que entrar às 19h e sair à meia noite, quando não existe mais transporte público além da criminalidade.
Então as aulas começavam às 19h e terminavam 22h45, 3h45 minutos de aula com um recreio no meio. O Ensino Médio “Regular” Noturno, como prevê a legislação, nunca existiu, nem em Goiás e nem no Brasil. Tanto é verdade que vários estados, dentre eles São Paulo, oferecem apenas o EJA neste período.

O Profen foi uma ação que visava fortalecer, segundo a Medida Provisória, pelo menos o ensino de Língua Portuguesa e Matemática, de longe a duas disciplinas mais exigidas no mercado de trabalho. A reportagem, corretamente, destaca este aspecto.
Os alunos transferidos eram todos da 1ª série e, portanto, não participariam da Prova Brasil/2017 que foi computada no IDEB. Apenas as séries finais, ou seja, as 3ª séries participam. Neste aspecto a mudança não alterou absolutamente em nada. Mas a proficiência, ou seja a média das notas dos alunos, significa apenas metade do IDEB.

A outra metade é o chamado fluxo. Se a Prova Brasil é feita apenas pelas últimas séries de cara etapa (5º Ano do Fundamental I, 9º Ano do Fundamental II e 3ª Série do Ensino Médio) o fluxo mede todos os alunos matriculados, em todas as séries nos três períodos: matutino, vespertino e noturno. Como se calcula o Fluxo? É o número de alunos matriculados no início do ano que foram aprovados, contra aqueles que reprovaram ou evadiram (abandonaram). Em Goiás, no Ensino Médio, o Fluxo foi de 0,94%, ou seja, 6º dos alunos reprovaram ou evadiram. Parece pouco, mas é uma multidão de mais de 11 mil alunos.

Ao transferir os alunos da 1ª Série do Ensino Médio para o Profen, eles não foram mais computados no fluxo. Ou seja, a nota do IDEB seria fatalmente menor. Mas isso afetaria até que ponto o 1º lugar nacional?

Por toda sua precariedade, o Ensino Médio Noturno era o que apresentava a maior taxa de evasão, nos anos últimos anos medidos (2015 e 2016), sempre com números do INEP, a média foi de 21,25%, ou seja, apenas 78,75% efetivamente terminavam a 1ª Série do Ensino Médio “Regular” Noturno. E era ainda pior, vinha melhorando nos últimos anos.
Mas qual seria o impacto da retirada desses alunos na medição final da totalidade dos alunos do ensino médio?

Vamos aos números.
Em 2017 matricularam-se 184 mil alunos no Ensino Médio no Estado de Goiás. Desses, 94% (175.780) foram aprovados e 6%  (11.040) não terminaram o ano (dados do INEP). Os alunos transferidos foram 17 mil.
Se esses alunos estivessem no cálculo, pela média, seria de  21,25% de 17 mil, ou seja, outros 3.612 alunos aumentariam a reprovação/evasão de 11.040 para 14.652, empurrando o fluxo de 6% para 7,9%.

Um número alarmante. Os alunos da 1ª série do ensino médio noturno representavam menos de 10% do total de alunos em 2016 (matutino, vespertino e noturno) e 25% do total de reprovações/evasões. Alguma coisa precisava ser feita. A ação, como constatou a própria reportagem, pelo menos melhorou efetivamente esses números. A reportagem também sugere que a ação foi tão somente em busca do IDEB. É uma opinião a ser respeitada.

Agora o bendito IDEB:
Com o fluxo de 6% para 7,9%, houve um aumento de 1,9%. Mas como o fluxo representa 50% do IDEB, esse impacto cairia de 1,9% para a metade, ou seja, 0,95%. Para não entrar na casa de centésimos, vamos imaginar que o impacto fosse 1%. Sairíamos de 4,3 para 4,2.

E aí é que está o X da questão: Goiás continuaria em 1º lugar no Brasil já que o segundo colocado, Espirito Santo, ficou com 4,1, dois centésimos atrás. Para perdermos a primeira colocação, seria necessário que 60% dos alunos do Ensino Médio “Regular” Noturno de 2017 tivessem sido reprovados ou evadido. Impensável.

A verdade está nos números do INEP. Goiás conquistou sim o 1º Lugar no Ensino Médio. E o maior mérito não é de um governo, é de uma multidão de alunos e abnegados professores e gestores. Mais de meio milhão. Ainda estamos longe de um ensino público de qualidade. Mas a verdade e o orgulho de milhares de pessoas que tem a Educação como profissão de fé, é que, com as mesmas condições, fomos melhores que todos os outros estados do Brasil.

Falamos só em reprovação/evasão, e o aprendizado, que é o que importa. Goiás foi o único estado no Brasil que melhorou não só em Língua Portuguesa como em Matemática propiciando o aumento de 4,35 para 4,56 na média de proficiência. Repetindo, foi o único estado que bateu as metas e melhorou nas duas disciplinas. Incluí no post gráficos mostrando este aspecto e comparando com outras unidades da Federação.

Também só se falou no IDEB no Ensino Médio, e como fica o Fundamental II, também de responsabilidade do Estado, que é muito maior e não menos importante?  Nesta etapa, Goiás também foi o 1º colocado e isso pela segunda vez consecutiva, fato outra vez inédito. Além disso foi o 1º a ultrapassar a marca dos 5 pontos e teve a melhor proficiência do país. Veja o gráfico.

Resumindo, se o objetivo era criticar o Profen, tudo bem, se foi colocar o resultado do IDEB em cheque desmerecendo o trabalho de tanta gente, não. Até porque, já faz algum tempo. Também incluí um gráfico mostrando a trajetória do Brasil em comparação a Goiás em todas as medições do IDEB, de 2007 até 2017. Como é de dois em dois anos, uma nova medição será feita este ano. Em tempo, para ficar claro, todos os dados e números deste post foram obtidos no site do INEP.

Um grande abraço a todos!