domingo , 28 abril 2024
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Ataque ao TCE: em seu afã moralista, Cileide Alves desmente o próprio O Popular

Em seu afã moralista (e por que não dizer hipócrita? – os motivos serão listados a seguir) Cileide Alves (apelidada por seus ex-subordinados de Cricrileide) destinou sua coluna do Popular desse domingo para desancar o Tribunal de Contas do Estado. Um dos argumentos utilizados foi o de que a esposa do conselheiro Kennedy Trindade trabalha no tribunal, o que caracterizaria nepotismo. Cileide passa por cima do próprio O Popular que em 2012 – portanto, quando ela era chefona do jornal dos Câmara – retratou-se em relação à esposa do conselheiro que é advogada e atua no Tribunal desde 2005 – muito antes dele, que só foi para lá no final de 2010. Sabe-se que a súmula do STF que trata de nepotismo não inclui servidores que já estavam no cargo antes da nomeação de parente – no caso de Kennedy, ele não foi designado servidor, mas membro vitalício após aprovação da Assembleia. Portanto, o vínculo da esposa de Kennedy com o tribunal é 100% legal.
É bom lembrar que antes mesmo de se casar com Kennedy a advogada Tarssys já trabalhava no TCM (foi nomeada em 1998 e casou-se em 2001) portanto, tem expertise em tribunais de contas e formação compatível para a função que exerce.
Engraçado é que a própria Cileide já usou o argumento da capacidade técnica para defender a indicação do marido para um cargo de confiança no governo de Goiás em 2011. Como Cileide “era” (na época) uma das jornalistas mais influentes do Estado e não servidora pública – a Súmula Antinepotismo também não dizia respeito ao caso do marido – ela não viu nada de imoral na indicação do mesmo. A imoralidade para Cricrileide só está no quintal dos outros.

Cileide também tenta desacreditar o Tribunal – e o conselheiro – por fazer críticas indiretas ao governador que em mais de 100 dias de governo só reclama e não age. Pois ela também já dedicou uma coluna inteira a criticar as trapalhadas e a inércia do governador do Democratas. E, convenhamos, até as pedras de Goiás gritam que o Estado sofre enquanto Caiado reclama e chora as pitangas em Brasília. Ou seja, ela pode criticar. O conselheiro que defendeu o Tribunal, não.

O procurador Fernando Carneiro adora dizer que o TCU tem 28 cargos comissionados em comparação aos mais de 300 do tribunal goiano, mas espertamente deixa de citar o grande número de efetivos do Tribunal de Contas da União que exercem funções gratificadas – portando, “de confiança”. Não são raros os casos em que essas gratificações representam mais que o salário desses servidores aprovados em concurso, o que – ao menos em tese – pode deixar esses profissionais sem grande autonomia frente a seus chefes e a mercê dos governos. Cileide não checou esse  dado, nem adota uma postura crítica em relação aos números apresentados pelo procurador – como a maioria da imprensa goiana. Apenas os incorpora ao discurso como verdade absoluta.

O TCE de Goiás nunca foi um monastério.  As mazelas do poder público são de conhecimento geral. Porém, Cileide usa argumentos rasos e distorcidos para atacar o tribunal. O tal quadro suplementar que ela cita maliciosamente  já foi questionado outras vezes, mas foi mantido por decisões judiciais.

É por essas e outras – principalmente por defender um jornalismo arrogante, beligerante e descuidado – que Cileide caiu do cavalo – oops, do posto de rainha do Popular. Seu estilo ranzinza, antipático e beirando a irresponsabilidade levou à mudança da política editorial do jornal e sua demissão.
Pior que isso, a mania de não checar os fatos e cometer erros bobos e recorrentes, as implicâncias, picuinhas e ataques gratuitos ou sem fundamento foram  em grande parte causadores da derrocada da credibilidade dos jornais. Criando um ambiente fértil para as fakenews e a desinformação. Não basta ao bom jornalismo desconfiar de todos que estão no Poder. É preciso “checar” as informações.