O articulista Fernando Rodrigues endereça o texto publicado neste sábado na Folha de S. Paulo ao presidente Lula e ao PT, mas a mensagem serve para políticos goianos, como o deputado estadual Mauro Rubem (PT) e a deputada federal Iris Araújo (PMDB), que se consideram “donos do povo”.
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Povo sem dono
BRASÍLIA – Em 2005, ameaçado de impeachment por causa do mensalão, Lula intimidou alguns interlocutores diversos. Acuado, convocaria a população para ir às ruas em seu apoio. Dividiria o Brasil.
Lula e o PT tinham aquele poder. Havia a consolidação dos programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família, e a economia começava a entrar num círculo virtuoso interno, com a ajuda dos ventos externos.
Hoje, menos de uma década depois, o PT e Lula estão longe da condição de “donos do povo”. A prova mais evidente dessa mudança foram as melancólicas manifestações de rua nesta semana. As imagens dos atos mostravam gatos-pingados bloqueando estradas e ruas pelo país afora. Pior: muitos deles foram remunerados para protestar.
A verdade é que CUT e Força Sindical, as duas maiores centrais de trabalhadores do Brasil, fracassaram de forma retumbante ao tentar colocar “o povo na rua”. Ao lado da CUT nesse fiasco de quinta-feira esteve o establishment do PT, sonhando em ressuscitar o já enterrado plebiscito para a reforma política.
O “povo sem dono” que foi às ruas em junho –e nesta semana se recusou a atender aos sindicatos– é a principal fonte do desarranjo político aqui em Brasília. Ao chegar ao poder, Lula aplicou uma tecnologia simples. Chamava os partidos para conversar com um discurso cujo substrato era o seguinte: “Olha, vocês fiquem aí na fisiologia, vão ganhar alguns cargos e verbas. Mas quem tem voto na urna sou eu. Os eleitores fazem passeatas a meu favor. Em resumo, o povo é meu”.
Agora, os partidos estão no Congresso se perguntando: “Quer dizer que o PT não manda mais no povo? Então, por que eu deveria ajudar o governo?”. Por enquanto, Dilma Rousseff e Lula estão sem respostas. Torcem para a economia voltar a crescer e para “o povo” voltar a sorrir para o Planalto. Mas esse é apenas um desejo, e não uma certeza.