Veja matéria de Welliton Carlos sobre o livro de Romeu Tuma Jr, publicada no jornal A Rede:
Estado policial no Brasil
Livro de Romeu Tuma Júnior continua fazendo estragos no cenário político. Ordem do PT é não ecoar obra, que será lançada mês que vem em Goiânia
Welliton Carlos
Rádio 730 e Portal 730
No próximo mês, o delegado Romeu Tuma Jr lança em Goiânia seu livro “Assassinato de reputações” (Editora Topbooks). Passada a fase de anúncio da obra, ditada pelo filho do ex-senador Romeu Tuma em alto e bom som ao jornalista Cláudio Tognolli, restam denúncias e acusações contra uma estrutura de poder que necessariamente deverá ser melhor apurada com o tempo. A apuração, claro, precisa ser instrumentalizada pelo Ministério Público e Supremo Tribunal Federal (STF), pois trata-se de assunto de interesse republicano do país.
A obra lidera as listas de mais vendidos e está à disposição do leitor de livros virtuais por meio de download no site da amazon.com. Pelo teor das acusações e o nome que assina a obra, tentou-se no país desacreditar seu conteúdo. Assim como o cantor Lobão, ex-defensor ardoroso do PT, tornou-se alvo de petistas, Tuma Júnior, também um ex-integrante da estrutura de poder do partido, acabou no rol dos que deveriam ser execrados pela opinião pública.
A diferença é que, independente do poder de execração da legenda, existe agora no ar uma série de denúncias não esclarecidas. A mais grave é a de que vivemos em um estado policial no Brasil. A grosso modo, significa que em vez de um Estado Democrático de Direito, que está definido como o fundamento da República brasileira, existe um estado aos moldes soviéticos de meados do século passado. O Estado policial é voltado para a investigação de adversários e ação truculenta contra inimigos. Aqueles que detem o poder, assim, têm o “direito”, dentro desta visão arbitrária, de usar a polícia para chantagear, desarticular e prender.
Romeu Tuma é ex-secretário de Justiça, órgão integrado ao Ministério da Justiça. Fala como quem viu as cenas ocorrerem quadro a quadro. Não é uma fonte de segunda ordem, do ouviu falar. Ao contrário, para a imprensa, tem dito que foi personagem principal em diversas sequências cruciais da história recente do país. Logo no começo da obra, dentre as páginas 51 e 70, Tuma se dedica a narrar como Lula atuava na função de informante do Departamento de Ordem Política e Social (Dops).
Tuma recorda que seu pai teria até mesmo auxiliado Lula no tratamento de uma doença de sua mãe. Porém, percebe-se o ressentimento ao cobrar sua atuação frente a morte do pai. Para Tuma Júnior, Lula não teve na democracia a coragem que o Tuma pai teve na ditadura para ajudá-lo.
Outra sequência de informações que deveriam, no mínimo, motivar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) diz respeito às práticas da Polícia Federal. Tuma Jr gasta quase 50 páginas descrevendo como a PF estaria à favor do projeto de perpetuação do PT no poder.
Tuma cita a criação de métodos e procedimentos de investigação que se adequaram aos interesses do governo petista, fatores que nem mesmo CIA, FBI, KGB e outros organismos internacionais toleraram em sua institucionalização. Adversários escolhidos como alvos pelo governo eram constantemente analisados sob a ótica destes procedimentos, com a diferença de que a polícia poderia ou não, a seu critério, divulgar as ações pela mídia para destruir reputações.
Perillo
Tuma Jr. também narra o momento em que contou ao pai, o então senador Romeu Tuma, que era corregedor da Casa, o plano petista contra Marconi Perillo (PSDB). Duas situações levaram Lula a odiar o governador goiano. A primeira já está nos livros de história: Marconi Perillo, em 2004, alertou Lula sobre o mensalão. A segunda foi uma ação de interesse do país: quando senador, Perillo votou contra a perpetuação da CPMF. Lula
teria ficado petrificado de ódio, dizem analistas.
O então presidente não gostou das ousadias do tucano, que era até amigo do petista, pois forneceu a ele toda a estrutura do celebrado programa Bolsa Família. Daí era apenas um passo para a armadilha. Marconi foi avisado pelo próprio senador. Existia um dossiê de conteúdo falso contra o governador goiano. Tuma Junior chegou a dizer ao seu pai que o Lula, ao admitir uma armação daquele nível, só poderia estar querendo ir para a cadeia.
Procurado pela imprensa, Lula evita falar do livro. Gilberto Carvalho, ministro leal ao cardeal petista, evita também falar sobre o assunto, apesar de já ter dito que pretende processar Romeu Tuma Júnior.
Nas redes sociais e na imprensa, grupos de jornalistas militantes tentaram desacreditar Tuma Júnior. A primeira tentativa diz que ele não era policial na época da ditadura e que não teria presenciado os supostos fatos que diz ser testemunha. Romeu Tuma Júnior calou o grupo: divulgou fotos em que aparece escoltando Lula em operações da polícia.