sexta-feira , 26 abril 2024
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Na Itália, político corrupto também não vai para a cadeia. É o caso de Berlusconi

Veja matéria publicada no site da revista Época, há poucos minutos:

 

Novamente condenado, Berlusconi continua longe da cadeia

O ex-premiê italiano foi condenado por incitação à prostituição de menores no famoso “caso RubyGate”. Mas a lentidão do Judiciário e as regalias que a lei devem mantê-lo em liberdade

 

O ex-premiê italiano Silvio Berlusconi foi condenado nesta segunda (24) a sete anos de prisão e proibido de ocupar cargos públicos para o resto da vida. O Tribunal de Milão o condenou por incitação à prostituição de menores e abuso de poder no julgamento do “caso RubyGate”, o mais famoso dos 22 processos judiciais em que Berlusconi é réu. O caso ganhou destaque na mídia depois que a jovem dançarina Karima El Mahroug, conhecida como Ruby Rubacuori (Ruby Rouba Corações), acusou Berlusconi de contratá-la como garota de programa quando ela era menor de idade. Ruby denunciou que o premiê promovia com frequência festas de arromba com a participação de dezenas de garotas de programa. As festas ficaram conhecidas no mundo todo como “bunga-bunga”, expressão usada por Berlusconi para defini-las.

No julgamento, os juízes aceitaram as provas da Promotoria, que acusou Berlusconi de fazer sexo com Ruby quando a jovem tinha 17 anos, um ano a menos do que a maioridade na Itália. Como se trata de julgamento em primeira instância, os advogados de Berlusconi já disseram que vão recorrer da sentença nos outros dois níveis do Judiciário italiano – o Tribunal de Apelações e a Corte Suprema. Berlusconi não terá de cumprir a sentença até que os recursos sejam julgados. “Vou resistir a essa perseguição política, porque sou absolutamente inocente”, afirmou em nota Berlusconi, logo depois da decisão. “Nunca vou desistir da minha batalha para fazer da Itália um país verdadeiramente livre e justo”.

Na prática, a decisão não tem muito efeito na vida de Berlusconi. O ex-premiê já foi condenado em outros dois processos recentemente e mesmo assim conseguiu concorrer em maio deste ano ao legislativo italiano – ele é um dos 117 senadores do país. No fim do ano passado, Berlusconi foi condenado a quatro anos de prisão e teve os direitos políticos cassados por cinco anos no caso Mediaset. Os magistrados entenderam que Berlusconi cometeu fraude fiscal por superfaturar preços de direitos de exibição de filmes comprados por uma empresa de sua propriedade. A promotoria estimou em € 46 milhões (R$ 120 milhões) o montante desviado durante a fraude, entre 2000 e 2003. O julgamento começou em 2006, mas parou diversas vezes por causa do foro privilegiado concedido a Berlusconi quando ele ocupou cargos públicos.

Em outro processo em Milão, o ex-premiê foi condenado a um ano de prisão por violação do sigilo telefônico de uma ligação feita em 2005. O conteúdo da conversa foi publicado pelo jornal “Il Giornale”, de propriedade de seu irmão, Paolo. A ligação foi feita entre o presidente da seguradora Unipol, Giovane Consorte, e o líder do oposicionista Democratas de Esquerda, Piero Fassino. Os dois discutiam a possível compra do Banco Nazionale del Lavoro pela seguradora, uma transação que não se concretizou. O conteúdo foi publicado pelo jornal e usado contra Fassino, que era adversário político de Berlusconi na eleição parlamentar de 2006. A fita foi considerada um “presente” para o então mandatário italiano, que venceu o pleito.

As duas penas foram revogadas em março deste ano pelo Tribunal de Apelações. Como o Judiciário italiano tem um histórico de lentidão, é muito provável que Berlusconi ainda passe muitos anos em liberdade. Mesmo que seja condenado em última instância, a chance de Berlusconi ir para a cadeia é mínima. O sistema carcerário italiano está superlotado, e há uma série de regalias legais a que ele pode ter acesso, por ser ex-premiê e por ter mais de 70 anos. O futuro mais provável para Berlusconi, mesmo condenado, é passar o resto de seus dias em uma de suas enormes vilas italianas.