O ex-secretário da Cultura, Edival Lourenço, divulgou extensa carta se vangloriando de seus feitos na pasta, que, de resto, são um amontoado asneiras que nem deveriam ser citadas.
Lourenço não precisa escrever tanto: bastaria uma linha para pedir desculpas por ter sido o coveiro do Fica e pela vergonhosa censura ao show de Itamar Correia no Teatro São Joaquim, na Cidade de Goiás.
Nem se fala do fim do Canto da Primavera nem do Festival de Teatro de Porangati e nem muitas outras iniciativas que ele, por omissão, incompetência e medo de Caiado, deixou fazer.
Edival Loureço escreveu seu nome no rodapé do livro da cultura goiana como o pior secretário da área da história de Goiás.
𝐀𝐭é 𝐛𝐫𝐞𝐯𝐞!
Avizinhava-se o fim de 2018 quando o governador eleito, Ronaldo Caiado, chamou-me para uma conversa reservada. Só o conhecia por meio de breves cumprimentos em eventos e como figura pública. No encontro, discorreu sobre a Cultura Goiana e também quis conhecer minha opinião. Na verdade, o futuro governador estava, de certa forma, sabatinando-me. Tive boas impressões daquela conversa, na qual ele demonstrou largo conhecimento de nossa Cultura e de seus desafios. Um dos pontos cruciais, para ele: as ações culturais do Estado deveriam chegar aos mais distantes rincões, em um processo de interiorização (mas também fazer nossa Cultura chegar a outras paragens). No final, concluiu que meu nome, por ter experiência em gestão (fui servidor da Caixa Econômica Federal, durante mais de 30 anos, e presidente da União Brasileira de Escritores/UBE-GO, por uma década) havia sido bem avaliado para ser o titular da futura Secretaria de Estado de Cultura, que ele recriaria, em 2019, atendendo a um compromisso de campanha. Perguntou-me, então, se aceitaria o desafio.
Aceitei.
Já empossado, dei entrada, em 2 de janeiro, no Centro Cultural Marietta Telles, que seria sede da Secult, com poucos assessores. À época, a Secult era um dos braços da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte (Seduce), que depois seria extinta, mas não sem antes parir a Secult e a Secretaria de Esportes e Lazer (SEEL). Com uma equipe reduzida, deparei-me com vários desafios. E os problemas, naqueles primeiros momentos, nada tinham a ver com questões culturais. Além do trabalho administrativo de recriar a estrutura de uma secretaria, a pequena equipe lidava com problemas bem mais corriqueiros, como equipamentos estragados, goteiras, infiltrações, infestação de insetos e prédios ameaçando cair. Outro fator de pressão, desde o primeiro momento, as dívidas milionárias, deixadas pela gestão anterior, relativas ao Fundo de Arte e Cultura, à Lei Goyazes e aos festivais (Fica, Canto e Tempo). A soma das dívidas, para se ter ideia, passava de R$ 60 milhões, valor superior aos cerca de R$ 50 milhões de orçamento previsto para 2019.
Diz um velho ditado que, numa situação dessas, é preciso aprender a trocar o pneu com o carro andando. O problema é que não havia pneu para se trocar e nem carro para se pilotar, tamanha a precariedade. A estratégia era, primeiro, montar-se um carro com as peças disponíveis e, só depois, preocupar-se em saber se o pneu estava furado e se o carro conseguiria andar.
Aos poucos, a estrutura foi organizada e o funcionamento dos espaços culturais, ativados: Cine Cultura, Vila Cora Coralina, Centro Cultural Martim Cererê, Museu Zoroastro Artiaga, Museu Pedro Ludovico, Palácio Conde dos Arcos, Cine Teatro São Joaquim, Centro Cultural Octo Marques, Centro Cultural Oscar Niemeyer e todos as nossas bibliotecas, museus, arquivos e salas. No Oscar Niemeyer, operou-se especial façanha: a recontratação do gabaritado maestro britânico Neil Thomson para reger a Orquestra Filarmônica de Goiás, por um valor bem inferior ao do contrato anterior. Além do ganho de gestão, com a redução de despesas, também há o inestimável ganho cultural com a manutenção do trabalho de excelência do maestro e da OFG.
O foco da Secult também se direcionou para questões culturais centrais no Estado, como apoio às Cavalhadas 2019, em onze municípios goianos, em parceria com a Goiás Turismo. Estive, pessoalmente, na maioria dessas festas belíssimas e emocionantes. Ao final do circuito, marcado pelo sucesso, assessorado por minha pequena, mas competente equipe, elaboramos o dossiê, que se encontra no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com a solicitação do tombamento das Cavalhadas do Estado de Goiás como Patrimônio Imaterial Nacional.
Ao mesmo tempo em que voltamos as atenções para o interior do Estado, tentamos também criar vínculos no intuito de levar a cultura goiana para fora de nossas divisas. Cabe ressaltar o bom diálogo que construíamos com o propósito de estabelecer parcerias com representantes da França, Bélgica, Espanha e Alemanha.
Já em novembro, conseguimos, finalmente, a sensibilização da área econômica do Governo de Goiás para a liberação do pagamento do Fundo de Arte e Cultura para 348 projetos, totalizando mais de R$ 30,7 milhões, fato anunciado pelo próprio governador Ronaldo Caiado. Essa foi uma vitória comemorada por toda a classe artística e pela qual trabalhamos, internamente, no convencimento das partes envolvidas. A aprovação do pagamento levará a Cultura de Goiás para o interior do Estado, para outras unidades da federação e até para o exterior. Ganhará o Estado, ganharão os artistas e ganhará a sociedade.
Também, estivemos à frente de uma ação significativa: capitanear, por determinação do governador Ronaldo Caiado, a criação do Ano Cultural Cora Coralina, homenagem a essa figura significativa e central de nossa Cultura. As ações desenvolvem-se em parceria com vários órgãos de governo e entidades da iniciativa privada. São sementes plantadas que estão germinando para, em breve, dar frutos.
É certo, não conseguimos fazer todo o planejado. O Festival de Cinema Ambiental (Fica) é um dos exemplos frustrantes, ao longo destes meses. Tentamos várias alternativas para a sua realização. Buscamos apoio federal, da iniciativa privada e até ventilamos a ideia de bancar por conta própria. No entanto, esbarramos em dificuldades jurídicas e administrativas: não poderíamos realizar o evento: o festival de 2018 ainda não havia sido pago, nem havia dinheiro em caixa, deixado pela gestão anterior, para essa destinação. O máximo que conseguimos foi autorizar o pagamento dos filmes premiados, que totalizou R$ 400 mil. A ideia, projetar um grande festival para o próximo ano, assim como a retomada do Canto da Primavera e do TeNpo (Festival Nacional de Teatro de Porangatu).
No entanto, é chegada a hora de passar o bastão para um novo secretário e sua nova equipe. Os projetos que deixamos encaminhados terão outros condutores. Tenho certeza: os novos gestores encontrarão a casa muito mais organizada do que a que encontrei ao entrar na sede da Secult. A quem chega, desejo boa sorte na caminhada!
Mais do que fazer um balanço desses onze meses, quero agradecer a cada um que compartilhou comigo a desafiadora e íngreme caminhada.
Ao setor cultural, deixo uma mensagem de alento. Posso não ter correspondido completamente às expectativas, mas garanto-lhe que lutei no limite das forças e das ferramentas disponíveis para que as demandas fossem atendidas.
Entre o secretariado e auxiliares do governo, fiz mais do que colegas. Levarei comigo as boas amizades construídas. Pelas parcerias, obrigado!
Já a equipe da Secult… Ah, a equipe da Secult! Pessoal bom de serviço, dedicado e parceiro está ali. Passamos a maior parte do ano com sérias dificuldades, sem dinheiro, equipes insuficientes e, até mesmo, sem contratos para serviços de limpeza. Por várias vezes, o próprio pessoal desdobrou-se para ajudar a arrumar uma goteira, para limpar sua mesa de trabalho ou o chão da repartição. Esse pessoal foi fundamental na organização interna que conseguimos executar na Secult. Aos abnegados assessores e servidores da Secretaria de Estado de Cultura, serei sempre grato e, saibam, guardarei comigo as boas lembranças de nossa convivência. (E obrigado pelo abraço de despedida, que está na foto que ilustra esse texto).
Ao governador Ronaldo Caiado, externo a honra e agradecimentos pelo convite para ser seu auxiliar, durante esse período, confiando-me esta missão que não pude cumprir completamente, não por falta de seriedade, determinação e empenho.
Saio da Secretaria de Cultura, da forma como entrei, em janeiro deste ano: de cabeça erguida, a dignidade preservada, a consciência em pleno sossego e o coração leve, carregando novos conhecimentos, novas alegrias e algumas tristezas pelas coisas que não pude realizar.
Um grande abraço a todos!
ᴇᴅɪᴠᴀʟ ʟᴏᴜʀᴇɴçᴏ ᴅᴇ ᴏʟɪᴠᴇɪʀᴀ