sexta-feira , 26 abril 2024
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Deu um nó na cabeça: cientistas políticos dizem que eleitor quer o novo que não seja o novo(???)

Em matéria no jornal Tribuna do Planalto, cientistas políticos foram indagados sobre a presença do “novo” nas eleições de 2014.

Os professores da UFG, Robson Almeida e Itami Campos, o dono do Grupom, Mário Rodrigues, e o marqueteiro da Casa Brasil, Paulo Faria, dizem que o eleitor quer uma “novidade” que não passa necessariamente por nomes novos.

Deu para entender?

Veja a matéria:

Qual é o perfil do ‘novo’ político?

Manifestações mostram que eleitor quer novidade em 2014, mas cientistas explicam que demanda não passa, necessariamente, por nomes novos

Murillo Soares – Estagiário do convênio Tribuna do Planalto/UFG

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As manifestações que aconteceram em todo o país em junho mostram que existe um descontentamento da população com os governantes. Mi­lhões de pessoas lotaram as ruas de todo o país e pediram, principalmente, mais transparência e eficiência nos serviços públicos, ou seja, uma nova pos­tura política. A pesquisa Serpes, divulgada pelo jornal O Popular no domingo, 14, mostrou que mais de 70% dos entrevistados desejam um nome novo. Mas esta busca por novidades está necessariamente ligada a novos nomes? Um nome rotineiro do eleitor pode ainda se apresentar como o novo? E se alguém novo apresentar ideias velhas, isso poderia cativar o eleitor?
Para responder estas e outras perguntas, a Tribuna conversou com cientistas políticos e publicitários. Segundo eles, a novidade buscada pelos eleitores ainda não tem um perfil bem definido, mas já está claro que a população está em busca de projetos e ideias novas. Alguns especialistas afirmam que o “novo” buscado pela sociedade é traduzido por novas propostas, não exatamente uma cara nova, no sentido de uma pessoa totalmente inédita na política.
Esta é a opinião do professor de Ciência Política da Universidade Federal de Goiás (UFG), Robson Almeida. “Pode ser alguem que já teve mandato, mas não aparece como um provável candidato e liderança e, portanto, não exerceu mandatos executivos ainda, pelo menos não em Goiânia ou no Estado. Alguém de um segundo escalão”, diz.
Ele ainda salienta que é necessário que o ‘novo’ deixe claro que é de fato uma novidade aos olhos do eleitor, não que isso signifique grandes rupturas no modelo político já existente, ou que um nome desconhecido possa ter sucesso sem trabalho prévio. Opinião partilhada por Paulo Faria, especialista em marketing político, sócio e diretor do Instituto de Comuni­ca­ção Casa Brasil. “Não vai ter chance de alguém chegar repentinamente e competir bem”, diz. No entanto, ele faz uma ressalva: “a não ser que o candidato te­nha história em outra área, o que vai servir para mostrar lisura e competência”.
A população também estaria à procura de novas propostas e projetos. “Na gestão pública, o que precisa são ações e mudança de atitude, não é cara ou nome”, explica o cientista político Itami Campos. Para ele, a sociedade busca uma gestão diferente, que repense as questões de Estado e política. “Algo que também vai pesar é relação com corrupção. Quem é e quem não é ficha limpa, do ponto de vista da leitura coletiva; uma análise da vida pública e vida pessoal”, comenta Paulo Faria.

Perfil
Mário Rodrigues, diretor do Instituto Grupom de Consulto­ria e Pesquisa, afirma que o eleitor busca um perfil diferente das características apresentadas pelos políticos atuais. Já Paulo Faria sintetiza o novo perfil em três pontos: “perspectivas de futuro e solução para os problemas crônicos; um bom histórico, que comprove competência e honestidade; e não participação em corrupção”.
A grande questão hoje, talvez, seja em relação ao comportamento do eleitor em relação a nomes consolidados como, por exemplo, os nomes do governador Marconi Perillo (PSDB) e do ex-prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB). Robson Almeida acredita que a novidade que o eleitor espera não é Iris ou Marconi recalchutados. “Se assim for, talvez colha para o eleitorado uma imagem de novo, com um bom marketing, dando a impressão de algo inédito, embora seja apenas um candidato de fachada”, diz.
O professor ainda acredita que é possível que Iris e Marconi possam desistir de concorrer ao governo em 2014, devido às suas popularidades estarem desgatadas, em questão das manifestações e também devido ao tempo que já estão na política.
Com isso, outro perfil pode ser apresentado – o nome novo atrelado a práticas antigas. A questão é se uma novidade com projetos e ideias consideradas velhas pode ter chance de êxito durante as eleições. “Eventual­mente, essa tática pode dar ao eleitorado uma falsa ideia de novo, embora, substancialmente, não o seja”, explica Robson. Além disso, para Itami Campos, o eleitorado quer novas políticas de governo, que possam quebrar a condição de ineficiência atual e suprir a falta de resultados. “Eles querem uma pessoa que possa fazer uma gestão mais qualitativa”, explica.
Robson ainda completa dizendo que, para que o perfil seja aceito pelo eleitorado, o ideal é que o candidato não pareça ser atrelado às lideranças tradicionais do Estado. “Talvez um discurso assim possa colar, se demonstrar independência”, conclui. Eis aí um novo desafio para o futuro candidato, já que, historicamente, as estruturas partidárias alavancam nomes para o governo, pois o interior do Estado ainda é muito atrelado ao sistema político tradicional e a comunicação ainda não é tão dinâmica como na capital.

Histórico
Em 1998, o perfil do então deputado federal Marconi Perillo conseguiu se impor como a marca do novo para Goiás. O tucano fez uma campanha atrelada no discurso do “tempo novo” para o Estado. O seu gru­po, oposição à época, se autodenominou como a novidade frente “ao antigo”, na época o PMDB, que comandava o Palá­cio das Esmeraldas há 16 anos. Há possibilidade de que esse padrão se repita?
Para Mário Rodrigues, ainda não existe um estudo para comprovar se esse perfil possa ter, no­vamente, êxito. Robson também acredita que uma pesquisa seria o mais adequado, no en­tan­to, arrisca dizer que talvez o eleitorado não se deixaria levar por um discurso de modernidade, pois isso já aconteceu. O discurso de modernidade, no en­tan­to, já não é uma novidade há muito tempo. A ascenção do PMDB em 1982 também estava ligada a uma ideia de modernização, assim como o período Mau­ro Borges, na década de 1960.
De acordo com Robson, é mais difícil de esse discurso ser bem aceito hoje, porque certos setores mais críticos de Goiás, que rejeitam essa ideia, acabam contaminando outros setores, disseminando uma ideia contrária à modernidade. “Pode ser, po­rém, que apareça alguma can­didatura que empolgue o eleitorado, se for alguém longe da política tradicional e que consiga trabalhar bem esse discurso de modernidade”, ressalva.

Terceira Via
A ideia de um nome com pouca expressividade e certa independência traz à tona a ideia de um candidato proveniente de uma terceira via, alheia à tradicional base aliada de Marconi Perillo ou à aliança PT-PMDB. Segundo Robson, o eleitor pensa que suas opções são sempre as mesmas, por isso, sempre vota no mesmo. “No entanto, se aparecer algo que atraia o eleitor, ele sai do mesmo. E essa lacuna pode ser preenchida por uma terceira via”, explica.
Para ele, os candidatos que ainda não tiveram grandes cargos estaduais têm muita chance de se emplacarem como uma boa alternativa em 2014. Ele cita Ro­naldo Caiado (DEM) como uma possível alternativa, se apresentando como novo. “Ele é uma liderança tradicional e, apesar disso, nunca foi viável pa­ra o Estado, portanto não te­ve o desgaste de go­vernar”, diz.
Além disso, segundo o professor, ele não está intimamente associado ao governo do Marconi, nem aos sucessos, nem aos fracassos. “O eleitorado não pode dizer que ele já teve a chance de fazer e não fez”, salienta. Caiado, contudo, teria que superar o seu perfil conservador, já que é ligado a setores tradicionais e, por isso, o seu potencial para cargo majoritário sempre foi visto com desconfiança no meio político.
De acordo com o cientista político, o fenômeno também pode acontecer com Vanderlan Cardoso (PSB), Antônio Go­mide (PT) e até mesmo com Júnior do Friboi (PMDB). Há também a possibilidade de o Rede, partido de Marina Silva, apoiar um candidato em Goiás e ele ser a personificação do no­vo que o eleitorado quer. “E Marina Silva apresentar e apoiar, explicitamente, um candidato ao Estado, há muita possibilidade de ele ter uma excelente campanha”, reforça.

 

O que os eleitores buscarão em 2014

Itami Campos
Profissão: cientista política;
Empresa: UniEvangélica;
– Gestão mais qualitativa, de resultados;
– Um nome que repense o Estado e a Política;
– Propostas e projetos com melhores táticas;

Paulo Faria
Profissão: publicitário;
Empresa: Casa Brasil;
– Projetos em que as pessoas acreditem;
– Perspectivas de futuro e solução para os problemas;
– Alguém com bom histórico, que comprove competência e honestidade;
– Não participação em corrupção.

Mário Rodrigues
Profissão: consultor-pesquisador;
Empresa: Grupom Consultoria e Pesquisas;
– Alguém que foge totalmente das características dos políticos atuais;
– É necessário estudos para traçar o perfil do político que o eleitor deseja;

Robson de Almeida
Profissão: cientista político;
Empresa: UFG;
– Nome que foge à política tradicional de Goiás;
– Pouco desgaste na imagem do candidato;
– Alguém que não esteja intimiamente associado ao governo de Marconi.