Leia artigo do deputado Cláudio Meirelles (PTC) publicado no Jornal Argumento sobre as denúncias feitas por Jorge Caiado, o Jorjão, contra Rodney Miranda:
“Desde a eclosão do escândalo de corrupção e arapongagem envolvendo o secretário de Segurança Pública do Governo de Goiás, Rodney Miranda, protagonizada por Jorge Caiado, primo do governador Ronaldo Caiado, em gravação de áudio vazado para o público, fica cada vez mais evidente a intenção do governo em apressar e conseguir um final feliz para a história. Jorge Caiado, utilizando-se de palavrões e ameaças, mandou um áudio via WhatsApp para Rodney acusando-o de estar grampeando telefones de aliados e opositores do governo – inclusive o seu – e declarando-se sabedor de que o secretário teria pego R$ 1 milhão do Corpo de Bombeiros.
O áudio vazou para a imprensa, parlamentares e público em geral no dia 4 passado. Imediatamente ganhou a tribuna da Assembleia Legislativa. Foi denunciado pelo deputado Eduardo Prado e recebeu pedido de CPI do deputado Tales Barreto. No sábado passado, dia 6, a imprensa noticiou que o secretário, após reunião com o governador, havia sido demitido.
Na segunda-feira passada, dia 8, o secretário concedeu entrevista à imprensa informando que havia assinado um pedido de férias de 15 dias para que as denúncias fossem apuradas. Soube-se então que o governador, invertendo a lógica, foi até a Secretaria para conversar com o secretário denunciado ao invés de convocá-lo ao Palácio.
A conversa entre os dois mudou os rumos do escândalo. O secretário disse que não havia sido demitido no sábado passado; culpando a informação a um “desencontro”. Disse que continuaria no cargo a pedido do governador, garantindo que gozava da confiança de Caiado e que estava tranquilo em relação a apuração dos fatos.
O secretário demonstra muita confiança na celeridade da Polícia Civil para apresentar um veredito, assim como em um desfecho que lhe seja favorável. Acha até que a apuração possa terminar antes para que ele reassuma as suas funções à frente da pasta.
É um achismo que me deixa preocupado. Temo que o governador, o secretário e o próprio Jorge Caiado estejam atuando em conjunto para abafar o escândalo. Se terminar em pizza, terá se confirmado o grande teatro montado em torno da questão.
Um inquérito para prosperar precisa de muito tempo. É preciso reunir provas, ouvir os envolvidos e testemunhas, conseguir autorização da justiça para aprofundar investigações sigilosas. Não se faz tudo isso em apenas 15 dias. Daí o meu ceticismo com essa velocidade propagada pelo secretário visando acabar com o imbróglio.
A atitude do governador em ir à Secretaria conversar com o secretário, dois dias depois de tê-lo recebido em Palácio e a sua mudança de atitude em relação a permanência do auxiliar no governo, é outra questão preocupante. Deixa no ar um resquício de dúvida sobre as reais intenções de Caiado quanto ao esclarecimento de tão graves denúncias.
Rodney Miranda tinha que ser sumariamente afastado. O governador parece não ter se atentado para a gravidade do problema. O seu governo está sendo acusado de corrupção por um próprio membro da família Caiado. Se fosse uma denúncia de um opositor, o governo e o público poderiam interpretar como desavenças políticas. Mas, não!
Quem acusa o governo de estar envolvido em corrupção é um primo do governador, que goza de livre trânsito no governo e que até então era amigo do secretário. Jorge Caiado provavelmente nem teria denunciado que Rodney recebeu R$ 1 milhão do Corpo de Bombeiros, se não se sentisse ultrajado ao ser informado que o secretário estava grampeando telefones, inclusive o seu. Como se pode constatar no áudio, Jorge Caiado manifesta-se mais indignado com o grampo do que com a corrupção.
Para um governador que foi eleito ancorado pelo contundente discurso de combater a corrupção, que passou a campanha inteira atacando os antecessores com graves acusações e prometendo passar um pente fino no Estado para apurar e denunciar irregularidades, o que tem acontecido hoje é muito grave. Não há registro na história da SSP de denúncias tão sérias.
Caiado e aqueles que seguem suas orientações estão deixando a máscara cair. São hoje useiros das práticas que condenavam no passado, mas que até hoje não conseguiram provar. Falaram muito de escândalos dos outros, mas estão atolados no mar de lama até o pescoço. É difícil encontrar parâmetro em um governo que em tão pouco tempo tenha acumulado tamanha quantidade de escândalos de corrupção.
Na sessão da Assembleia Legislativa, ocupei a tribuna virtual para lembrar que o tempo é senhor da razão e implacavelmente pune aqueles que não fazem das palavras a prática de suas ações. No início da gestão Caiado, parlamentares que foram situação nos governos passados sofreram todo tipo de xingamentos e ofensas dos governistas de hoje.
Falavam como arautos da honestidade. Batiam no peito por defenderem um governo que acreditavam ser o exemplo de retidão de caráter, de moral, decência e lisura. Acreditaram – vejam só! –, que estavam diante de um intocável, um incorruptível, um moralizador da coisa pública. Se iludiram com o discurso eleitoreiro do novo governador.
Eu não preferi as benesses de ser amigo do governador. Tão logo percebi que o Caiado governador não era o Caiado da campanha, preferi ficar ao lado da população goiana. Não poderia ser conivente com um governo que massacra servidores, acaba com a educação, não valoriza a saúde e, ainda por cima agride os goianos com seu enfrentamento autoritário.
Mesmo na oposição, nunca torci pelo fracasso do governo. Torci de verdade para que o governo de Caiado viesse para moralizar a gestão pública e melhorar a vida dos goianos assim como torço para que esse escândalo na Secretaria de Segurança Pública seja esclarecido, os culpados punidos e o bom trabalho na SSP que vem sendo realizado possa ter continuidade.
Eu disse na sessão remota que apoio a CPI sugerida pelo deputado Tales Barreto. Denúncia de tamanha gravidade não pode ficar sem apuração. Precisamos ouvir todos os envolvidos e exigir que as provas sejam apresentadas.
Ao contrário do que tem pedido o líder do governo, deputado Bruno Peixoto, não temos que ter serenidade nessa hora. Temos é que ter energia para exigir a apuração dos fatos. No passado, Bruno Peixoto foi um dos que mais ofenderam os deputados da oposição. Hoje, porque é conveniente ao governo, fala em paz e amor. Quem bate esquece, mas quem apanha não esquece nunca!
O governo, como disse, está repleto de denúncias de corrupção, superfaturamentos, favorecimentos e toda sorte de desmandos. Só na Secretaria de Segurança Pública são dois casos gravíssimos: escuta ilegal de telefone e recebimento de propina de R$ 1 milhão.
Esperemos que a polícia faça uma investigação isenta e que nós parlamentares possamos cumprir com a nossa função de zelar pelo dinheiro público. E que este governo, que já terminou há tempos, pelo menos caminhe de cabeça erguida para o seu triste final.”