Artigo do jornalista Nilson Gomes, no Jornal Opção:
Ronaldo Caiado, então deputado federal, sugeria: “Vá visitar o Rio de Janeiro pra você conhecer o que é bom”. Ronaldo, já conheço o Rio, bondinho, Corcovado, Ipanema, Maracanã. “E quem falou em roteiro turístico?”. A voz saía ainda mais animada: “Vá conhecer a gestão do Cesar Maia”. Enumerava o que, em sua análise, seria o diferencial entre o prefeito carioca e os milhares de colegas, inclusive os 246 de Goiás.
Até fui ao Rio, mas não encontrei maravilhas que rivalizassem com as construídas pelo maior homem público de todos os tempos, Deus. As feitas por Maia deixaram de ser novidades desde os incas. Ainda assim, Ronaldo Caiado insistia que aquele economista era talhado para ser presidente do Brasil em lugar de Lula, à época acossado por escândalos, entre os quais o do mensalão.
Apesar dos esforços, Ronaldo Caiado não fez de Cesar Maia sequer candidato, Lula foi reeleito e o restante é história. O que o prefeito do Rio naquele 2005 tinha de especial? A lealdade de um companheiro: Ronaldo Caiado. Essa amizade foi insuficiente para hoje Cesar ser vereador, reeleito novamente em 2018. A parte boa é que se revelou bastante para colocar no Palácio do Planalto outro Maia, o Rodrigo, filho de Cesar.
Sim, Rodrigo Maia foi presidente da República. Mais precisamente, o primeiro chefe de Estado e de Governo do Brasil nascido fora do território nacional — o último havia sido Dom Pedro I (Itamar Franco veio ao mundo fora do continente, mas dentro das águas territoriais brasileiras).
Rodrigo Maia era do baixíssimo clero, um Severino de cabelo partido. Diz-se bom articulador, mas para ocupar inicialmente, e de forma provisória, a Presidência da Câmara, e por consequência entrar na linha de sucessão de uma República sem vice-presidente, precisou de um garante. Seu garantidor foi Ronaldo Caiado.
Houve outros, mas convencidos por Ronaldo Caiado.
Maia, o Rodrigo, se indispôs com a família Bolsonaro por uma questão política e pessoal: Flávio Bolsonaro pediu votos para o radialista Arolde de Oliveira. Havia duas vagas no Senado e não sobrou para Cesar Maia, uma ficou com Flávio, outra com Arolde, que no fim de 2020 morreu de Covid.
Ao assumir a República, Jair Bolsonaro estava cercado de técnicos e gente de sua confiança. Articulação do deputado federal Major Vitor Hugo legou o Ministério da Infraestrutura para Tarcísio Gomes. Trabalho de Ronaldo Caiado levou Luiz Henrique Mandetta ao Ministério da Saúde. Não sobrou para Rodrigo Maia.
Aliás, muito além de sobras, Maia tinha a presidência da Câmara. E ali continuou no segundo e terceiro mandatos, sempre com apoio do líder goiano. Mesmo fora da Câmara, seguidamente eleito senador e governador, Caiado nunca deixou de ter influência entre os deputados de todo o País. Com os do DEM, ainda mais.
E vem Rodrigo Maia visitar o amigo. Caiado o leva para conhecer os pés de jabuticaba nos jardins do Palácio das Esmeraldas. A foto, postada em sites, blogs e grupos de WhatsApp, bateu recordes. Negativos. Milhares de comentários. Nenhum favorável ao jovem com a barra da camiseta à altura do umbigo.
Mesmo com a péssima fama de Rodrigo Maia, era recebido por Ronaldo Caiado como se fosse estadista. A gente não sabia se era ou não. Agora, veio a resposta: não, Rodrigo Maia não é estadista. E, sim, Rodrigo Maia merece os comentários atrozes de que foi alvo quando percorreu o quintal do Palácio das Esmeraldas.
O problema de Rodrigo não é com Caiado nem Bolsonaro. Seu entrave é a Constituição da República, que veda a perenização no comando da Câmara e do Senado. Queria o quarto mandato seguido. Está com raivinha e manda a todos pros quintos. Saddam Hussein teve no Iraque, por que ele não poderia? A Carta Cidadã permite que alguém nascido no Chile, mas filho de brasileiros, assuma o maior cargo do País, mas não que se perpetue à frente do Legislativo.
O Supremo Tribunal Federal, guardião da CF, tomou a decisão correta ao vedar a entronização de Maia. Como o filho de Cesar se considera czar, só tinha plano M e se viu na urgência de arrumar plano B, de Baleia Rossi. Os bagrinhos de fundo de plenário deram de ombros. Os tubarões voaram no cardume. Foi como se por ali tivesse passado um baleeiro japonês, não sobrou nem óleo na superfície para vender em vidrinhos na feira prometendo acabar com tudo quanto é doença – menos ingratidão, que não tem cura.
O peixe graúdo era candidato de quem? Do MDB? Não, pois parte de seu próprio partido votou em Arthur Lira.
De João Doria, eleito governador de São Paulo à custa de Bolsonaro e hoje seu rival? Não, porque o principal secretário de Doria, Alexandre Baldy, fez campanha para Lira. Entende-se a ajuda, pois são do mesmo Progressistas, mas é difícil entender as vistas largas do calça apertada.
Surrado na Câmara, Maia começou com um discurso igualmente surrado: a derrota não foi sua, mas de seu partido, o Democratas. Ué, o DEM não ficou neutro? Quando uma sigla opta pela neutralidade, seus parlamentares votam em quem os convence. Maia apelou contra Bolsonaro, citando no atual presidente os métodos que o barrigudinho botafoguense utilizou para se eleger na Câmara: cargos, emendas…
O palavreado de Maia contra Ronaldo Caiado e o presidente Nacional do DEM, ACM Neto, é indigno do cargo recém-deixado. Indigno até da figura menor que Rodrigo era antes de os amigos de Caiado o elegerem presidente da Câmara.
Rodrigo Maia é um ingrato. Não é maluco com internação psiquiátrica à vista, como se apura de seus mais recentes atos, e loucura não é defeito, é doença. Defeito é ser ingrato. Defeito grande. O pai dos defeitos, pois gera outros, como a desonestidade.
Não vi nada de destaque na administração de Cesar Maia no Rio, mas Ronaldo Caiado até o ano passado recomendava outra cidade, além das goianas Rio Verde de Paulo do Vale, Anápolis de Roberto Naves, Catalão de Adib Elias, Goianésia de Renato Castro e Goiânia de Iris Rezende. A vitrine é a Salvador de ACM Neto.
Fui quatro vezes à capital da Bahia em busca de atrações fora do roteiro turístico. O que há ali é uma tese de pós-doutorado em administração pública com páginas espalhadas pela cidade inteira.
Sim, o neto de Antônio Carlos tem tudo para virar estadista, já o filho do Cesar Maia está num estado de calamidade.
Nilson Gomes é jornalista.