No cenário ríspido das décadas de 80 e 90, dava-se como certa a estatística de que oito de cada dez empresas não completavam o primeiro ano de vida, tornando o empreendedorismo uma atividade de alto risco.
Ainda não era hábito buscar apoio em instituições do chamado Sistema S (Sebrae, Senac, Senai e Senar, entre outros) nem tão pouco bater às portas das associações comerciais e dos sindicatos. Solitário, o empreendedor agonizava, sem recorrer à valiosa contribuição dos serviços sociais e do associativismo.
Felizmente, nos anos 2000, com o advento da proliferação dos meios de informação, recorrer às consultorias, participar de capacitações, missões, congressos, feiras e exposições passaram a ser uma rotina na vida dos empreendedores.
Estas iniciativas, além de portas abriram mentes, e tornaram as empresas mais longevas. Dados do Sebrae mostram que a mortalidade já não é o principal inimigo a ser vencido. De cada 100 empresas, 83 já alcançam mais de 5 anos de sobrevivência.
Nesta semana, onde comemora-se o Dia da Pequena Empresa, outro estudo da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) revela que a taxa de empreendedorismo potencial no Brasil teve um crescimento de 75%, passando de 30% para 53% (de 2019 para 2020). Na prática, os números revelam que 50 milhões de brasileiros que ainda não empreendem querem abrir um negócio nos próximos três anos.
Quase a totalidade (99%) dos 15,4 milhões de negócios abertos no Brasil são de micro e pequeno porte. Não há uma esquina no país sem uma padaria, um açougue, uma oficina mecânica, uma farmácia… Prova disso é que no mês de agosto seis de cada sete empregos gerados em Goiás foram oriundos das pequenas empresas, de acordo com dados do eSocial.
A data simbólica, em homenagem à aprovação do Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (05/10/1999), além de celebrada, também deve ser vista como um momento de reflexão, em torno do muito que ainda precisamos alcançar. Muitas das políticas públicas e dos benefícios administrativos, trabalhistas, creditícios e de desenvolvimento empresarial chancelados pelo Estatuto ainda não foram regulamentados.
Por outro lado, o Sistema S, as associações e as federações classistas vêm se consolidando como porto seguro para o pequeno empresário, estimulando o acesso ao conhecimento e orientação adequada, na busca constante da melhoria do ambiente de negócios. Etapas como o acesso ao crédito, o estímulo ao desenvolvimento territorial, à educação empreendedora e à inovação dos pequenos negócios também devem ser trilhadas.
De certo, empreender não é tarefa fácil. Por muitas vezes, árdua. Os conhecimentos acadêmicos, apesar de valiosos, não são suficientes para tornar uma empresa sustentável. Afinal, entre a teoria e a prática, há uma lacuna que só pode ser preenchida com muito suor, noites mal dormidas e resiliência, muita resiliência. Mas é gratificante. Um caminho sem volta…
*Ubiratan da Silva Lopes é presidente do Conselho Deliberativo Estadual (CDE) do Sebrae Goiás, ex-presidente da Federação das Associações Comerciais, Industriais e Agropecuárias do Estado de Goiás (Facieg)