terça-feira , 5 novembro 2024
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Donos de empresas goianas, ex-beneficiários do auxílio emergencial, vencem pregão de R$ 19,3 milhões e são denunciadas no Estadão

O governo federal reservou R$ 19,3 milhões dos cofres públicos para pagar três empresas de Goiás que têm como donos ex-beneficiários do auxílio emergencial. As selecionadas venceram pregões para fornecer picapes de tração 4 x 4 à Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Regional, o órgão é controlado por partidos do Centrão.
Uma dessas empresas participou da licitação de ônibus escolares na qual foi apontado sobrepreço, como mostrou o Estadão em abril. Mesmo sem capital suficiente, essa empresa fez proposta de R$ 2 bilhões para vender 3.850 veículos destinados ao transporte de estudantes de áreas rurais a outro órgão do governo também controlado pelo Centrão, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Documentos obtidos pelo Estadão indicam que as três empresas têm ligações. Além de estarem registradas em nome de ex-beneficiários do auxílio do governo, possuem o mesmo contador e seus donos ou endereços estão vinculados à Fazenda Nova, cidade de 5 mil habitantes a cerca de 200 quilômetros de Goiânia.
A dona de uma dessas empresas, a BR-Prime Comercial e Serviços, admitiu ser “laranja”. Questionada, Maria Cristina Ribeiro da Silva afirmou que é cabeleireira e emprestou seu nome para Bruno Araújo Navega abrir a BR-Prime. “Ele tinha uma empresa, só que ele queria abrir outra, eu emprestei meu nome, entendeu?”, disse ela. “Como a gente se separou, ele ficou com a empresa. Eu estava para resolver esse trem, mas nem corri atrás.”
Nos registros oficiais, hoje a Inovação é de propriedade do autônomo Samuel Paz Maia Soares. Até junho de 2021, ele estava no programa de auxílio emergencial para população de baixa renda. Ao Estadão, ele afirmou que já trabalhou em mecânica, borracharia, na prefeitura de Fazenda Nova e fez bicos. “Já fiz de tudo. Só nunca roubei e trafiquei.”
Em um desses bicos, Soares disse ter recebido uma comissão em dinheiro vivo de cerca de R$ 600 mil pela corretagem na venda de uma fazenda. Mas declarou não se lembrar do nome do dono da propriedade que lhe pagou. Afirmou que a maior parte desse valor “investiu” na compra da empresa. “Entrei com o dinheiro, o rapaz entrou com o serviço.”
O “rapaz” a quem ele se refere é mais um personagem na teia de nomes e empresas ligadas às licitações suspeitas da Codevasf. Trata-se do vereador de Fazenda Nova Maycow Douglas (Cidadania). Segundo o autônomo, o político trabalha para a Inovação em Brasília, onde está registrada a empresa. Maycow Douglas disse que também já foi proprietário da Inovação. Ao ser questionado se vendeu a empresa e se recebeu os valores, desligou o telefone.

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