Veja editorial da rádio 730:
Rádio 730 passa pela mesma crise de 99% da imprensa. Vamos triunfar novamente, exibindo as notícias e as cicatrizes
A Rádio Clube de Goiânia é um patrimônio de Goiás. Não do governo, mas do povo, da cultura, da história. Da história da democracia, da história das liberdades, da história das conquistas populares. São 73 anos de espaços abertos à discordância, à divergência, à polêmica, à discussão no esporte, na música, na política e nas campanhas para melhoria da qualidade de vida. Já foi Rádio K do Brasil, é Rádio 730, mas nunca deixou de ser Rádio Clube de Goiânia, a sua companheira em todo lugar. Não foi pacífica a travessia de oito décadas, desde o interesse de Assis Chateaubriand em instalar a emissora pioneira na nova Capital até os desafios de hoje.
Surgiram as dezenas de mídias, principalmente a televisão e a internet, mas a Rádio Clube resistiu.
Resistiu ao Estado Novo varguista, ao regime militar instalado em 1964, às eleições indiretas, às eleições fraudadas, às eleições compradas.
Resistiu ao humor dos governantes nacionais e estaduais, municipais e distritais, do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.
Resistiu a perseguições, ao abuso de poder das autoridades, ao ciúme, à inveja.
Resistiu às crises econômicas, às mudanças de moeda, à inflação.
Resistiu a tudo isso porque tem do seu lado o ouvinte na rádio e no portal730.com.br.
Público que a Rádio Clube de Goiânia fidelizou por revelar centenas de estrelas da comunicação, repórteres, narradores, produtores, publicitários, comentaristas, apresentadores.
No momento, a Rádio 730 passa por uma série de obstáculos, nada diferentes dos anteriores, mas sempre difíceis, nunca desestimulantes.
Até hoje, a Rádio 730 paga em dia os salários e aos fornecedores. Quita seus impostos com desmedido sacrifício. A carga está insuportável, por isso dividimos as notícias internas com você, ouvinte e leitor do portal. Do mesmo jeito que você fica sabendo primeiro aqui o que ocorre nas entranhas do poder, também revelamos o que ocorre dentro da Rede Clube de Comunicação, formada pelo portal730.com.br, a Rádio 730 e os jornais A Rede e Meu Clube.
A situação financeira é terrível, ou seja, está igual à de 99% da imprensa mundial. No Brasil e, particularmente, em Goiás, se fica sabendo da quantidade assombrosa de demitidos pelas demais organizações. Na Rádio 730, a Rede Clube segurou enquanto pôde, mas não aguenta mais e precisa de você como amparo. Trata-se de iniciativa privada, os assuntos poderiam ser resolvidos dentro de uma sala. Preferimos o contrário, como é costume aqui na 730, principalmente no período de Rádio K, quando Jorge Kajuru corajosamente expunha as vísceras da empresa.
Estamos informando o diagnóstico, mas também vamos contar a causa, que, aliás, não é novidade. E novamente recorremos ao exemplo de Jorge Kajuru, porque o contencioso é o mesmo: a Rede Clube de Comunicação está debilitada financeira por causa dos políticos com mandato, sobretudo os do Poder Executivo. Não se trata de choradeira por falta de anúncios oficiais, até porque a Rádio 730 os veicula. O motivo é o garrote. Alguns integrantes do governo, parte deles do primeiro e decisivo escalão, desconfiam de qualquer órgão de imprensa independente. Para eles, só merece campanha quem está sob seu jugo. Nem no tempo dos carros-de-boi nossa rádio aceitava canga. Não precisa dar anúncio, basta não ameaçar anunciantes.
O fato de a 730 ter publicidade institucional nunca inibiu a apuração e veiculação de denúncias. Isso ocorre porque a Constituição da República e as normas inferiores autorizam e até nos obrigam à lisura. As leis relativas às concessões públicas, sobretudo aos veículos de comunicação, mandam ser como a Rádio 730 é. Mas nem precisava, porque ser plural é o que torna a 730 tão singular. Atendemos a todos os preceitos legais e isso incomoda.
É um incômodo para eles e fase complicada para nós, mas é uma fase, vai passar. Assim como exibimos as marcas do sofrimento anterior, carregaremos as cicatrizes dos ferimentos provocados pela nova asfixia. Seguiremos em frente, com o mesmo destemor, a mesma alegria, o mesmo talento dos 121 funcionários da Rádio 730. Eles saberão compreender se deixarmos de ser tantos para a rádio continuar existindo. Até porque será transitório. Logo voltaremos a ser muitos, porque há 73 anos a Rádio Clube de Goiânia é mais que uma razão social, é a razão de viver de muita gente. Lutaremos para manter cada vaga de trabalho e nossas forças seriam suficientes se o carrasco não fosse tão forte. Porém, não nos curvaremos. Se o inimigo é grande com a gente de pé, se nos ajoelharmos ele parecerá muito maior. Estamos arrumando a casa, vamos continuar vivos e fortes, honrando as tradições e a modernidade que fizeram do prefixo 730 patrimônio e orgulho de Goiás.