terça-feira , 5 novembro 2024
Opinião

Em nome de Deus: o pastor mentiu

Vestindo preto, em um ambiente escuro, que lembra trevas, um homem segura um papel sutilmente enquadrado pela câmera. Lança seu olhar teatral para a lente, silêncio sepulcral. O pastor injustiçado está prestes a ler mensagens subliminares, organizadas para mexer com a opinião pública, decisiva em uma democracia.

O homem é André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, de Belo Horizonte. Ele descobriu como manipular as ferramentas do submundo cibernético, primordiais para transformar ficção em realidade e servir a sociedade, faminta por verdades absolutas.

O papel, na mão do pastor, expõe a logomarca do TSE. Após uma pausa, André segura a lágrima contida, drama, ação: “Lula não é a favor do aborto, Lula não é a favor da descriminalização das drogas, Lula não é a favor de liberar pequenos furtos…”

“Ok! OK! Irretocável”, grita o diretor da gravação. Acabou a encenação. O pastor deve ter pedido um “trago” e pensado de si para si: ‘vamos foder esse molusco filho da puta’.

Fiquei imaginando como foi a montagem dessa história de novela mexicana. Na cena do crime está um pastor religioso, que profana o nome da igreja Batista, ao afirmar que foi intimado pelo Ministro Alexandre de Moraes, e que estava cumprindo uma determinação judicial. Tudo mentira. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informou que tal intimação nunca existiu.

Qual o objetivo do pastor? Ser preso? Bingo. Valadão tripudiou, caluniou e difamou o TSE para ser preso e tornar-se vítima do Ministro que persegue Bolsonaro. “Brilhante! Perfeito. Vão cair feito patinhos”, pensou a mente doente.

Mente que mente o tempo todo. Nas redes sociais de André só tem Bolsonaro. O fiel que quiser conforto lá, vai quebrar a cara e achar só politicalha.

O vídeo divulgado nesta quarta-feira (19) pelo pastor Valadão é apócrifo. Não tem nada de Deus, pelo contrário é sombrio e falso, representando o pai da mentira. Profana o nome da Igreja Batista da Lagoinha e a justiça brasileira. André Valadão está apto para fundar uma nova seita: adoradores de Bolsonaro.

“Em nome de Deus, é preciso mentir, mentir para deter uma séria ameaça”, em silêncio, tranquilo, em casa, no sofá, o pastor abriu um sorriso antes do último gole.

Cristiano Silva
Artigo

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