Em 2018, eu vivia um período desafiador. Trabalhava em uma assessoria de M&A e assessorávamos uma das maiores petroleiras do mundo em seu primeiro investimento no Brasil. Jovem, me estabelecendo no mercado, trabalhava à exaustão para me consolidar na carreira.
No 28 de setembro de 2018, este projeto foi subitamente interrompido. Fui acordado pela Polícia Federal no apartamento que morava em São Paulo. Para minha absoluta surpresa eu era alvo de mandado de prisão no âmbito da operação Cash Delivery, que investigava o ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, e o ex-presidente da Agetop, Jayme Rincon, meu pai. Sabia que meu pai era um dos principais auxiliares do governo Marconi, só que desde 2010 eu morava em Campinas SP, aonde cursava Engenharia Civil na UNICAMP e nunca tive qualquer envolvimento com campanhas eleitorais ou governos .
Cheguei na sede da Polícia Federal em São Paulo e fui encaminhado à carceragem. Levaram meu celular, meu computador, devassaram minha casa. Passei 5 dias preso, que pareceram meses. Vasculharam tudo. Quebraram todos nossos sigilos . Nada , absolutamente nada foi encontrado.
Mas, para nossa perplexidade, o juiz, um jovem em início de carreira e, no auge dos holofotes da Lava Jato, prorrogou minha prisão a pedido do MPF, ao argumento de que, mesmo que nada me associasse aos fatos, meu celular precisava ser periciado com mais profundidade, pois lá poderiam haver elementos que pudessem justificar minha prisão. Só que a extensão da prisão foi imediatamente revogada pelo Tribunal, dada a sua arbitrariedade e total falta de embasamento legal.
Saí de lá com a certeza de que minha carreira havia acabado. Achava que meus chefes sequer me atenderiam. Para minha surpresa, eles haviam contratado um escritório de advocacia independente para analisar o caso e a conclusão foi de que nada justificava eu ter sido alvo daquele inquérito. Meu emprego estava salvo e ficou claro que o meu envolvimento era um “malabarismo jurídico” criado pelo MPF para constranger e chantagear meu pai.
Começou aí uma nova batalha. Os questionamentos de clientes e do mercado vieram como uma avalanche. Precisei me explicar para bancos, corretoras e escritórios de advocacia. Foi um período de sobrevivência e achei que não conseguiria seguir adiante. Deitava todas as noites desejando não acordar. Apesar de tudo, me orgulho de não ter deixado de trabalhar um único dia.
Passado um ano, o Ministério Público apresentou a denúncia e, conforme previsto, eu não era um dos denunciados. Só que aí o dano causado já era irreparável.
Hoje, consigo comprovar que tudo não passou de uma armação, mas isso não impede que pessoas do mercado vejam as notícias da época como um risco de imagem. Infelizmente, essas notícias continuam disponíveis na internet, e até hoje nenhuma linha foi escrita sobre a minha inocência, mesmo documentalmente comprovada.
Consegui me restabelecer profissionalmente e, recentemente, realizei o sonho de fundar minha própria gestora. Sou realizado e amo meu trabalho. Em paralelo, me envolvi na luta contra a desigualdade racial, causa essa que sempre me moveu. Mentoro jovens negros através do ‘Black Finance’, ajudando aqueles que sonham em entrar no mercado financeiro.
Essa semana, o último inquérito da ‘Cash Delivery’ foi arquivado, e, mesmo eu não sendo parte, fica a sensação de que esse pesadelo pode finalmente ter chegado ao fim, que a justiça foi feita e que a vida seguirá. Mas já aceitei que carregarei essa cicatriz para sempre. Não existe dinheiro algum no mundo que possa reparar o prejuízo profissional, a injustiça, a humilhação, a dor, o sofrimento e noites em claro.
Aí fica a pergunta, quanto vale uma injustiça? Afinal, nas palavras de Ruy Barbosa, “a justiça atrasada não é justiça; senão injustiça qualificada”.