O candidato do MDB à Prefeitura de Aparecida de Goiânia, Leandro Vilela, fez questão de se apresentar como o grande defensor das mulheres no programa eleitoral veiculado nesta terça-feira (10/09). Mas a memória das investigações da Polícia Federal na Operação Miquéias sugere outra narrativa.
O discurso recente de Leandro, ao atacar abertamente seu adversário, o Professor Alcides (PL), por comportamentos em episódios envolvendo mulheres, contrasta com as graves acusações que ele próprio enfrenta.
Vilela usou cortes de excessos verbais cometidos pelo Professor Alcides em situações de estresse emocional. Isso para dar dimensão a duas palavras que não deveriam ter sido usadas, mas foram diante de fortes agressões sofridas pelo deputado, que não conseguiu segurar a tensão. Na verdade, o vídeo foi todo editado e, portanto, deformou os fatos.
Mas a Operação Miquéias, deflagrada em 2013, foi clara ao desvendar um esquema de fraudes em fundos de pensão de prefeituras. O nome de Leandro Vilela foi citado ao lado de outros dois deputados goianos à época, Daniel Vilela e Samuel Belquior.
A investigação revelou que a quadrilha utilizava mulheres jovens e bonitas como “iscas” para se aproximar de prefeitos e gestores de fundos de pensão.
Entre essas mulheres estava Luciane Lauzimar Hoepers, conhecida como “pastinha”, que mantinha contatos com os deputados e facilitava o acesso do grupo criminoso aos recursos públicos.
Diálogos interceptados pela Polícia Federal revelam que Luciane atuava como intermediária entre o grupo criminoso e os políticos, incluindo Leandro Vilela.
Em um dos diálogos, ela cita que Leandro Vilela, embora não fosse inicialmente mencionado, era quem efetivamente “fazia os negócios”.
O escândalo foi destaque nos grandes jornais da época, e evidencia a hipocrisia por trás do discurso moralista de Leandro, que agora se coloca como defensor das mulheres, mas que em seu passado, segundo as investigações, fez parte de um esquema que explorava exatamente essas mesmas mulheres para fins escusos.
O Blog 24Horas publicou reportagem do jornal O Hoje do dia 28 de setembro de 2013 que trazia à tona um dos momentos mais emblemáticos desse escândalo. Em uma das conversas, a “pastinha” Luciane revela que Daniel Vilela, também envolvido no esquema, teria dito que “vai dar negócio” e que iria apresentá-la ao seu pai, Maguito Vilela, então prefeito de Aparecida de Goiânia. Porém, quem realmente conduzia as negociações era Leandro.
Essa revelação se alinha aos indícios levantados pela Polícia Federal de que Leandro Vilela, ao lado de outros deputados, utilizava suas influências para facilitar o desvio de mais de R$ 50 milhões dos institutos municipais de previdência.
O contraste entre a postura pública atual e as ações privadas de Leandro Vilela não pode passar despercebido.
Ao mesmo tempo em que usa a defesa das mulheres como uma desesperada bandeira de campanha, seu envolvimento em um esquema que instrumentalizou mulheres como parte de uma operação criminosa coloca em xeque a credibilidade de seu discurso.
O candidato que agora promete a construção de uma “Casa da Mulher Aparecidense” e outras iniciativas voltadas à proteção das mulheres precisa primeiro responder pelas investigações que o cercam desde 2013.
Apesar de Leandro Vilela e os demais envolvidos negarem qualquer proximidade com Luciane e sua participação no esquema, os relatos da Polícia Federal e os diálogos gravados sugerem justamente o contrário.
A Operação Miquéias foi uma das maiores operações da PF no combate à corrupção em fundos de pensão, e a participação dos três deputados goianos, especialmente de Leandro, lança uma sombra sobre a retórica moralista de sua atual campanha.
Em tempos de campanha eleitoral, é comum que os candidatos busquem construir uma imagem de integridade e compromisso com a justiça. Contudo, os eleitores de Aparecida de Goiânia precisam estar atentos ao histórico de cada candidato.
Leandro Vilela, que agora se apresenta como defensor das mulheres, tem seu nome atrelado a um dos maiores esquemas de corrupção envolvendo o uso de mulheres como instrumento para fraudes. Resta saber se os eleitores aceitarão essa narrativa ou se buscarão respostas mais profundas sobre o caráter de quem está à frente de suas promessas.