segunda-feira , 6 maio 2024
GoiásImprensa

Artigo de Fabiana Pulcineli, nesta segunda, redime (parcialmente) cobertura omissa e leniente de O Popular sobre a Operação Miqueias

O artigo da repórter política Fabiana Pulcineli, nesta segunda-feira, em O Popular recupera (ainda que parcialmente) a credibilidade jornalística do maior jornal do Estado, que falhou na cobertura da Operação Miqueias – O Popular foi omisso com os fatos e leniente com o principal envolvido, Samuel Belchior, deputado estadual e presidente regional do PMDB.

Com clareza, Fabiana enumera tanto as informações que o jornal deixou de publicar quanto os erros cometidos nas poucas matérias que estampou sobre a Operação Miqueias – entre os quais a afirmação, da repórter Márcia Abreu, segundo a qual “a Polícia Federal descartou o indiciamento do deputado Samuel Belchior”.

Fabiana Pulcineli corrige esse erro cabeludo e recoloca as coisas no lugar, esclarecendo que Samuel Belchior teve a sua prisão temporária e bloqueio de bens solicitados pela Polícia Federal, que indiciou o deputado como “lobista e intermediário da quadrilha junto a políticos de Goiás” .

Leia o artigo de Fabiana Pulcineli:

 

PMDB desgovernado

Por subestimar o escândalo ou talvez por mero despreparo, o PMDB não agiu com o devido rigor no caso do envolvimento do presidente regional, deputado Samuel Belchior, nas denúncias da Operação Miqueias, da Polícia Federal, e divide com ele os desgastes do caso, justamente em um momento importante de preparação para 2014.

Em uma sucessão de erros, Samuel e o PMDB não souberam lidar com a crise, ampliando seus efeitos e abalando a imagem da sigla. Não é pouco grave ser apontado pela Polícia Federal como “lobista” em favor de uma organização criminosa responsável por fraudes em institutos municipais de previdência em nove Estados. Tampouco ter prisão temporária e bloqueio de bens solicitados à Justiça.

Apesar de negar os pedidos, o desembargador federal Cândido Ribeiro ressaltou os fortes indícios contra o deputado, como mostrou reportagem do POPULAR sexta-feira, e deferiu o pedido de busca e apreensão em sua casa, de onde a PF levou documentos e um computador.

Não são insignificantes os trechos dos diálogos, que aparecem no resumo do inquérito, em que Samuel chama Luciene Hoepers, presa na operação, de “chefa”, diz estar “trabalhando bonito” para ela e dá conselhos sobre como atrair políticos.

Passados 11 dias da operação da PF, o deputado ainda não explicou as denúncias. Falou no dia e mentiu. Disse que não era investigado, quando é, e que teve duas ou três conversas com Luciane, já libertada. O resumo do inquérito mostra sete conversas por telefone. O deputado cometeu um erro primário ao negar fatos que dois dias depois seriam, de forma muito previsível, expostos com o vazamento do inquérito. Depois resolveu se calar, em uma atitude incompatível para um ocupante de cargo público e presidente de um partido, no caso o maior em número de filiados do Estado. Deixa um vácuo, expõe a legenda e prolonga a crise.

As principais lideranças do PMDB nada fizeram. Ou melhor, saíram em defesa do deputado. Minimizaram os efeitos do escândalo, disseram que tudo vai se esclarecer, mas não exigiram os esclarecimentos. Não determinaram que o presidente se explicasse e nem pediram seu prudente afastamento da direção até que o caso se resolva, até porque ele está sem condições de tocar o partido no momento.

As lideranças não se preocuparam em preservar a legenda na reta final de filiações de pré-candidatos (que se encerram esta semana) e no momento em que os partidos buscam fortalecimento e crescimento para as eleições.

Mesmo abalado emocionalmente ou “com problemas familiares”, como disse o ex-governador Iris Rezende, Samuel erra em não se defender. Não pode achar que o assunto será esquecido se ficar quieto. Não será, até porque foi destaque no final de semana em revistas e jornais nacionais.

Enquanto um se calou, outro falou: o deputado estadual Daniel Vilela (PMDB), que aparece em foto registrada no inquérito, em almoço com Samuel, Luciane e o deputado federal Leandro Vilela (PMDB), subiu à tribuna na terça-feira para tentar explicar o encontro. E deixou o presidente da sigla ainda mais no alvo.

Não é uma questão de acusar apressadamente ou não respeitar o princípio da presunção de inocência, mas de gestão de crise. O PMDB goiano mostra grande falha nesse aspecto.

O episódio também abala o PMDB em um tema que virou moda no partido nos últimos anos: a necessidade de reoxigenação e renovação do partido. Samuel Belchior assumiu a presidência justamente para dar uma resposta a essa inquietação que surgiu a partir das frequentes críticas (internas e externas) ao partido.

Do presidente e de outros jovens do partido eram cobradas a reorganização partidária, uma oposição mais inteligente e firme, a reciclagem de conteúdos e ações, novas bandeiras e novas práticas. Quando começam a ensaiar uma atuação mais eficiente na Assembleia, tornam-se suspeitos de envolvimento com velhos esquemas. E não conseguem se explicar.

O que restou ao PMDB nos últimos dias? Comemorar a filiação do cantor sertanejo José Rico, que não é de Goiás e não soube citar uma ideia sequer para um mandato na Câmara dos Deputados, que pretende disputar. Em vez de falar de política ou de projetos, cantou. Iris disse no discurso de sua filiação que gente como ele enriquece o partido. É o que o PMDB tem a mostrar de novo.