• A sombra do autoritarismo
O que se viu na Câmara Municipal de Goiânia nesta quinta-feira (29) não foi apenas um gesto de grosseria política — foi um rompimento direto com os princípios constitucionais que regem a administração pública no Brasil.
Questionado sobre a representação do vereador Fabrício Rosa (PT) ao Ministério Público de Contas contra o uso de recursos do programa Brilha Goiânia em condomínios fechados, o prefeito Sandro Mabel (UB) reagiu prometendo vingança: afirmou que pretende deixar no escuro os bairros associados aos vereadores de oposição. “Vou ver por onde Fabrício Rosa e Aava Santiago passam… Vou deixar de fora”, disparou, numa fala que chocou até mesmo os bastidores mais calejados da política goianiense.
• Improbidade administrativa clara
A fala do prefeito viola frontalmente os princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade e da eficiência (Art. 37 da Constituição Federal). Governar para aliados e retaliar opositores com políticas públicas seletivas não é apenas imoral — é ilegal.
De acordo com o artigo 11 da Lei nº 8.429/1992, comete ato de improbidade administrativa o agente que viola os deveres de honestidade, imparcialidade e lealdade às instituições, mesmo sem causar dano financeiro direto.
A declaração de Mabel, gravada e pública, pode servir como prova de que ele pretende usar a máquina do Estado para punir politicamente cidadãos que nada têm a ver com embates partidários. Isso é perseguição institucional — e deve ser investigado com rigor.
• Cidade não é palanque
A gestão pública não é um palanque de vingança. Ao prometer “deixar bairros no escuro” porque ali vivem eleitores ou parlamentares que criticam sua administração, o prefeito abdica de seu papel constitucional: governar para todos.
O serviço público não pode ser condicionado à lealdade política ou ao silêncio dos críticos. Essa postura, típica de regimes autoritários, não cabe numa república democrática. Sandro Mabel precisa ser cobrado, fiscalizado e, se for o caso, responsabilizado judicialmente.
Goiânia não pode viver sob chantagem política. Governar com espírito de revanche é governar nas sombras — como Mabel promete fazer.
Cristiano Silva
Editor