Em fevereiro deste ano, completam-se 52 anos desde que a Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu a primeira resolução condenatória contra a política colonialista do ditador Antônio de Oliveira Salazar.
O que poucos sabem é que Salazar, o mais importante líder político de Portugal no século XX, usou e abusou das teses do escritor brasileiro Gilberto Freyre para legitimar o modelo colonialista de seu país. A informação consta na extensa biografia do político escrita pelo historiador Felipe Meneses, recém-lançada nas livrarias brasileiras.
A propaganda do Estado Novo defendia a mistura racial e o lusotropicalismo como chaves para o progresso na África. O lusotropicalismo, segundo o ditador, havia colaborado para fazer do Brasil um grande País. O ditador afirmava que a Europa tinha a missão de civilizar os demais continentes e não admitia que as colônias portuguesas, notadamente Goa e Angola, se tornassem independentes.
O Estado Novo salazaria queria continuar como metrópole de Angola com o suposto e alegado objetivo de construir uma nação sem distinção de cor, em que negros, europeus e mestiços convivessem em harmonia (ainda que, na realidade, esta convivência nunca tenha sido verdadeiramente pacífica).
Em que pese o discurso colonialista, Salazar negava o rótulo de racista. A bem da verdade, ele dizia que racistas eram os angolanos, que queriam expulsar os brancos de suas terras. Salazar afirmava que Portugal era adepta da convivência pacífica entre povos – que teria sido, mais uma vez, a chave para o “sucesso” brasileiro.
É inevitável, porém, fazer vista grossa ao ranço racista de Salazar depois de ler o seguinte trecho de uma entrevista que ele concedeu a um jornal francês em 1964: “que não me acusem de racismo por dizer que os brancos são superiores aos negros. É uma constatação evidente e fruto da experiência: os negros precisam estar enquadrados”.
Salazar foi figura de proa e pedra angular do Estado Novo em Portugal entre 1933 e 1974. Religioso, conservador e ortodoxo, postou-se contrário a todas as medidas que pudessem contribuir com a modernização do País. Aproximou-se de Franco e Mussolini, mas colaborou com aliados na Segunda Guerra Mundial. Lamentava muito que o Brasil tivesse conquistado “tão cedo” a sua independência.