sexta-feira , 29 março 2024
Goiás

Diário da Manhã: conflito de interesses pessoais divide bancada de deputados do PMDB na Assembleia

Os cinco deputados estaduais do PMDB estão perdendo a chance de se tornarem protagonistas no debate político de Goiás porque preocupam-se apenas com interesses pessoais. Esta é a conclusão do jornalista Helton Lenine, que assina uma análise precisa sobre a atuação da bancada no primeiro ano desta legislatura na Assembleia.

“Analistas apostavam que Bruno Peixoto, Ernesto Roller, Adib Elias, Paulo Cézar Martins e José Nelto, por serem mais experientes que boa parte da ala governista, monopolizariam o noticiário político. Ocorre que todos eles têm projetos pessoais paralelos e, para concretizá-los, enviesaram por caminhos que afastaram-nos uns dos outros. Principalmente quando o assunto em pauta era a briga entre os ex-governadores Iris Rezende e Maguito Vilela pelo comando do PMDB; ou a manutenção da aliança com o PT”, diz a reportagem.

Leia abaixo o texto na íntegra:

Conflito de interesses pessoais divide bancada do PMDB na Assembleia

Projetos políticos individuais causam até bate-boca entre os cinco deputados do maior partido de oposição em Goiás e atrapalha o cumprimento de objetivos comuns

Declarações publicadas no começo deste ano sugeriam que os cinco deputados estaduais eleitos pelo PMDB estavam decididos a unir esforços para tumultuar a administração do governador Marconi Perillo (PSDB). Mas, ao término do primeiro ano da atual legislatura na Assembleia Legislativa, a impressão que fica é a de que o objetivo comum ficou em segundo plano por causa do conflito de interesses pessoais que dividiu a bancada.

Analistas apostavam que Bruno Peixoto, Ernesto Roller, Adib Elias, Paulo Cézar Martins e José Nelto, por serem mais experientes que boa parte da ala governista, monopolizariam o noticiário político. Ocorre que todos eles têm projetos pessoais paralelos e, para concretizá-los, enviesaram por caminhos que afastaram-nos uns dos outros. Principalmente quando o assunto em pauta era a briga entre os ex-governadores Iris Rezende e Maguito Vilela pelo comando do PMDB; ou a manutenção da aliança com o PT.

A bancada tentou se unir para ser protagonista na eleição que escolheria o novo diretório do PMDB, “convencendo” Adib a desistir de ser candidato a presidente do partido e lançando a postulação do deputado José Nelto. O sentimento geral era o de que o grupo político de Iris Rezende, personificado pelo candidato Nailton de Oliveira (ex-prefeito de Bom Jardim) estava envelhecido demais para missão e de que o maguitismo nutria uma relação exageradamente ambígua com relação a Marconi, ora afagando-o (com o prefeito de Aparecida, Maguito Vilela), ora atacando-o (com o deputado federal Daniel Vilela). “Muitos até elogiam o governador. Eu acredito que, na política, devem ser premiados aqueles que apresentam um posicionamento firme, correto, transparente, aberto, e não dúbio”, disse Roller em entrevista ao Diário da Manhã no final de setembro. O desejo de união foi frustrado pela reação de Paulo Cézar Martins, que aliou-se fielmente a Daniel e contribuiu para enfraquecer José Nelto – que acabou derrotado.

DESENTENDIMENTO

Bruno Peixoto e Adib Elias desentenderam-se na tribuna da Assembleia na quarta-feira passada, durante a penúltima sessão antes do início do recesso parlamentar. irritado com a incoerência de colegas que atacam o prefeito Paulo Garcia (PT) nos bastidores, mas mantêm cargos na estrutura da prefeitura, Adib exortou o PMDB a entregar todas as sinecuras que ocupa e partir, de mala e cuia, para a oposição. Bruno, cujo pai Sebastião Peixoto é secretário de Paulo Garcia, atacou Adib, dizendo que ele “não anda lendo os jornais ou não está entendendo o que é publicado nele”. Afirmou que é o prefeito, e não o PMDB, quem nomeia ou exonera servidores e que, oficialmente, o partido não indicou ninguém.

Sebastião Peixoto é presidente da Agência de Esportes, Turismo e Lazer (Agetul) da prefeitura. Antes disso, foi presidente do poderoso Instituto Municipal de Assistência ao Servidor (Imas). Ou seja: tem sido bastante “valorizado” por Paulo Garcia. O irmão de Bruno, vereador Wellington Peixoto, é tão fiel ao prefeito que deixou o Pros – partido pelo qual se elegeu – quando os dirigentes partidários cobraram dele uma postura mais combativa contra Paulo na Câmara, migrando para o PMDB.

A justificativa que Bruno deu em plenário (eximindo-se de ter indicado nomes para a equipe de Paulo Garcia), apesar de pouco plausível, encerrou o bate-boca em público. Mas o desentendimento está longe de acabar. José Nelto é outro que abre artilharia contra o PT sempre que pode, tachando Paulo Garcia, com frequência, como o pior prefeito que Goiânia já teve. Ele também já se posicionou a favor da debandada coletiva de peemedebistas acomodados no Paço, mas Bruno e outros colegas contemplados fingiram não ouvir. É o caso de PC Martins, que até chegou ao ponto de dizer que o aumento de IPTU, promovido pelo PT em Goiânia, seria importante para a Capital. “Tem de fazer o que é melhor para a sociedade, inclusive, viabilizar aumentos do IPTU”, disse. Naturalmente, estas divergências contaminam também o debate sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff, sobre o qual não há consenso na bancada.

Por trás de todos esses conflitos de interesse está a eleição municipal do ano que vem e a eleição estadual de 2018. Cada um tem um projeto diferente. Bruno quer manter a sua influência na estrutura municipal para reeleger o irmão e pavimentar sua candidatura a deputado federal em 2018. Adib é candidato a prefeito de Catalão e o PT, na sua cidade, não deve apoiá-lo. José Nelto é candidato a deputado federal em 2018 e presidir o partido, nesse momento, ajudaria-o muito. PC Martins quer ser eleito prefeito de Quirinópolis com o apoio do ex-prefeito Gilmar Alves, que é irmão da secretário de Educação de Paulo Garcia, Neyde Aparecida.

Com tantas metas políticas pessoais a atingir, o objetivo comum da bancada parece mais difícil de alcançar. E, para o Governo, é melhor que seja assim. Afinal de contas, depender do bloco governista para responder críticas na tribuna da Assembleia não tem sido fácil. À exceção de Santana Gomes (PSL) e Talles Barreto (PTB), os deputados aliados ao Palácio das Esmeraldas passam quase todo o tempo ouvindo as críticas sem reagir.