Veja artigo do jornalista Afonso Lopes:
“CONEXÃO: POR QUE O CAIADO CANDIDATO FEZ SUCESSO E O CAIADO GOVERNADOR ENFRENTA PROBLEMAS?
É preocupante, pra ser econômico com a força das palavras, o derretimento da popularidade do governador Ronaldo Caiado neste começo de mandato. Não que seja um problema insolúvel. Nada disso, pelo menos numa análise inicial. Não há qualquer indicador definitivo de que o desgaste vivido neste período já esteja de tal forma consolidado que não possa ser revertido. Não já, por assim dizer, aquele limite da cristalização da imagem negativa. Ela está aí, e isso é inegável, mas não com a característica de um duríssimo cristal.
A guinada na qualidade da imagem de Ronaldo Caiado foi realmente enorme, e ocorreu de maneira relâmpago. Não é algo rotineiro no início de governos. Comparativamente, e apesar de certa semelhança, o presidente Jair Bolsonaro, que foi majoritário em um eleitorado profundamente dividido, perdeu muito menos do que Caiado até aqui, muito embora também tenha queimado capital político. O governador, ao contrário, encarnou na campanha eleitoral aquilo que mais se aproximada da unanimidade. Seus portentosos 60% de votos entre os eleitores que escolheram um dos candidatos, e já no 1º turno, quando as alternativas são variadas em termos de nomes e caras, se desmanchou.
Sua eleição. muito bem construída politicamente, diga-se – aliás, um dos fatores que surpreendeu em Ronaldo Caiado diante da fama que ele tinha de não conseguir agregar em sua órbita de influência-, simplesmente desconheceu os adversários. E não foram adversários aventureiros. O ex-governador José Eliton e o então deputado federal Daniel Vilela portavam as bandeiras mais poderosas do mundo político estadual, a então base aliada e o MDB. Pois o candidato Caiado simplesmente transformou essas bandeiras em farrapos.
A pergunta que realmente importa dentro desse contexto todo é: por que Caiado candidato empolgou tanto e o Caiado governador enfrenta tantos problemas? Há, obviamente, componentes administrativos nesse derretimento da imagem positiva. Também provocadas pelo caixa em frangalhos, mas não apenas. Definitivamente, seu critério de escolha do secretariado e demais auxiliares de 1º escalão não agradaram boa parte do eleitorado, e nem lhe ofertaram uma boa base aliada na Assembleia Legislativa. Aliás, pelo contrário. Com 100 dias de governo, talvez ele esteja enfrentando agora mais dificuldades para a montagem da governabilidade legislativa do que teria antes.
Ainda que esse aspecto administrativo (e tantos outros) tenha que ser levado em conta numa análise sobre o desgaste da imagem nestes primeiros dias de 4 anos de mandato, o problema central relacionado à imagem não é esse. É o formato da comunicação que está errado. Politicamente – se esse é o entendimento -, o governo pode destacar os problemas, mas jamais deve se esquecer de oferecer a esperança de que está agindo para melhorar a situação. Há uma máxima de que otimismo não paga as contas, mas é certo que o pessimismo as agrava.
Por fim, e como conclusão, dentro dessa visão, se o governo diz em tempo integral que tudo está ruim, por que a imagem dele não estaria?”
