Baiano apaixonado por sua terra, o advogado Ademir Ismerim escreveu um bem elaborado artigo sobre a infeliz declarando do deputado Delegado Waldir, que, num momento infeliz, disse em Brasília que a Bahia é um lixo.
O G24 teve acesso ao texto e publica em primeira mão.
Leia artigo na íntegra:
Axé, Waldir
O delegado Waldir disse que a Bahia é um lixo. Depois, disse que não disse. Uns acreditaram, outros nem tanto e ouve uma chiadeira geral, principalmente dos políticos, muitos deles, inclusive, pela proximidade com o Deputado/Delegado e cada qual querendo tirar uma fatia de revolta e, quem sabe, conseguir mais um pouco de votos.
A fala de Waldir não tem nada demais, seja por não traduzir a verdade, seja porque ele não é o dono da verdade. Não precisamos ir para a praça pública execrar Waldir, mas talvez fosse a caso de convidá-lo a retornar a Bahia, para mostrar a ele a nossa historia, afinal, com certeza, ele não sabe que o Brasil nasceu aqui, que Tomé de Souza fez deste porto, um tanto do Brasil e, como tudo nasceu aqui, ele também é um pouco baiano.
Talvez ele não tenha noção de que aqui nasceu o primeiro Bispado do Brasil, que temos o primeiro Legislativo, o primeiro regimento de lei, as primeiras emoções católicas, a disciplina do comércio de coisas, a primeira Faculdade de Medicina, e tantas outras coisas.
Não deve saber que aqui nasceu Rui Barbosa, bastando citar seu nome para saber da sua extensão, o maior cientista da poesia Castro Alves, Gregório de Matos, Caetano Veloso cantando a Bahia bela e dessemelhante, do amor de Jorge Amado, de “Quincas Berro D’água”, “ do cravo e canela de Gabriela”, de João Ubaldo Ribeiro com o seu “Sorriso do Lagarto”, onde V.Exa., poderia ser um dos personagens.
Aqui é a terra da comida farta, do tabuleiro de dendê da baiana, do molejo e da preguiça que faz parte de nós, da luta dos Mouros, dos Orixás, dos Filhos de Gandhi e, por isso tudo, somos livres e belos e temos certeza que não somos um lixo.
Somente em 1823 foi possível comemorar a Independência do Brasil, para além do grito do Ipiranga, pois foi aqui, na Bahia, que o foco de resistência que existia foi finalmente debelado e, com isso, além dos laureados, temos nossos heróis anônimos, os caboclos, os escravos, os gentis, os portugueses e seus descendentes que optaram pelo seu lado de paixão.
Não podemos ser um lixo, pois temos Irmã Dulce, capaz de transformar a desesperança em luxo, porquanto entendia que o único luxo que a interessava, era o da dignidade humana e tenha a certeza Deputado, que a natureza do baiano também ajudou a formar a santidade dela.
Deve ser pesado carregar esta afronta aos baianos, logo os baianos, que têm um coração tão acolhedor.
Que os anjos e santos da Bahia, lhe faça enxergar melhor os baianos, pois, aqui meu velho, como diz o poeta: “todo mundo é d’oxum, seja tenente ou filho de pescador, ou ate mesmo, um importante desembargador. É tudo uma coisa só.”
Axé, Waldir!
Ademir Ismerim