Ainda na entrevista ao Jornal Opção, o presidente do Sindifisco, Paulo Sérgio, diz que o governador errou ao não pagar a folha de dezembro. “Caiado se desgastou com o servidor. Tem gente, como eu, minha categoria, que não recebeu dezembro até hoje” , diz. Veja:
Rodrigo Hirose – O sr., como presidente de uma entidade que representa um grupo que faz parte de uma elite do funcionalismo público, faz qual avaliação do governo Caiado até agora?
O governador tomou a decisão errada quando não pagou a folha de dezembro. Alguém vendeu pra ele que era uma medida necessária para aderir ao regime [RRF]. A folha de dezembro foi usada para tentar forçar o Estado a entrar no Regime de Recuperação Fiscal, porque um dos requisitos é a dívida consolidada.
A secretária Cristiane Schmidt forçou para que a folha de dezembro fosse incluída nessa dívida consolidada, mas o Tesouro Nacional disse que essa dívida tinha de ter 12 meses de vencimento. Ela tentou forçar para bombar a dívida consolidada do Estado e não deu certo.
A discussão era que poderíamos deixar o governador pagar a folha de janeiro antes da de dezembro, porque, se fizesse, pagaria do jeito que pudesse. Em janeiro, ele pagou dentro do mês. Em fevereiro, já pagou um parte dentro do mês e o restante no outro. Em março, já começou a pagar dia 10.
Pagar no dia 10 foi uma sugestão que dei no dia 3 de janeiro. Sugeri a ele que seguisse o calendário normal, até o décimo dia do mês seguinte. Aí iria acertando o calendário aos poucos.
Ele se desgastou com o servidor, tem gente, como eu, que não recebeu até hoje. A lógica do escalonamento, do menor para o maior salário, é justa. Quem ganha menos, gasta tudo no consumo, não sobra nada.
Mas, na origem do problema, ele poderia ter agido de forma diferente. É reprovável não pagar uma folha com a argumentação usada na época.
Agora, com essa insistência em aderir a um regime que trás todo tipo de atrocidade contra o servidor. Apesar de ele também exigir a redução de 10% dos benefícios, que é uma medida boa. Talvez nem fosse preciso atingir o servidor. Triplica essa redução de benefício e está resolvido o problema, se for olhar em valores nominais.
O grande problema é querer colocar o Estado em uma UTI, que vai trazer danos ao servidor. A própria lei complementar exige medidas que são contrárias aos interesses dos servidores.
O olhar para o servidor é muito perverso. Os governantes se utilizam disso para legitimar suas escolhas. Dizer que eu não tenho teto de contribuição, que contribuo 14,25% em cima do bruto, não vejo ninguém dizer.
O servidor não é o vilão da história. Vilão é quem faz má gestão, quem desvia recursos públicos, não é o servidor que trabalha todos os dias. Há problemas? Sim. Cabe ao governo que faz a gestão resolvê-lo. O servidor exerce seu papel servindo ao público. Nós recebemos um salário porque fizemos a contraprestação à sociedade. Ou, quando chega num posto de saúde, não tem um médico, um enfermeiro para atender? E o auditor que conseguiu reduzir a sonegação e permitiu que o governo aplicasse o recurso no hospital? Será que nosso salário é benefício? Não, é a contrapartida pelo trabalho que nós prestamos.
A gente sempre se levanta contra as medidas simplistas, que tiram os direitos do servidor usando essa retórica perversa, de colocar o servidor como vilão. E é o que fazem o tempo inteiro, quando querem tomar uma medida politiqueira a pretexto de resolver um problema de finanças do Estado.