O relator da CPI da Enel, deputado Cairo Salim (Pros), comandou a 25ª audiência pública do colegiado na noite desta segunda-feira, 2, na Câmara Municipal de Mineiro. O encontro reuniu cidadãos e autoridades locais para denunciar a má qualidade dos serviços energéticos prestados pela concessionária italiana no Sudoeste do Estado. A reunião também contou com a participação de representantes de municípios vizinhos, como Portelândia e Santa Rita do Araguaia.
Quem deixou de comparecer mais uma vez, no entanto, foram os próprios representantes da companhia energética Enel. “Eles estiveram aqui antes de começar. Não sei o que aconteceu, se ficaram com medo da quantidade de pessoas e reclamações que iriam encontrar. Essa mudança de comportamento da empresa em relação a CPI muito nos preocupa”, observou Salim, ao abrir os trabalhos da sessão. Ele lembrou que ausência semelhante também fora registrada nas audiências da semana passada, quando o colegiado visitou, então, os municípios de Ipameri e Cristalina.
Outro episódio do gênero ficaria ainda registrado na última reunião ordinária, realizada no dia 28. Na ocasião, o colegiado deveria colher depoimento do diretor de Relacionamento Institucional da Empresa, José Nunes, que deixou de comparecer ao encontro mediante liminar expedida pelo Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO). Como justificativa, alegou não ser “obrigado a criar provas contra si mesmo”, além de evitar “passar por constrangimentos” durante a oitiva.
Mineiros
Localizado no Sudoeste do estado, Mineiros integra uma região que é polo do agronegócio goiano e se destaca como sendo o segundo maior município em extensão, dentre os 246 que integram o território de Goiás. Nem por isso, seus reivindicados atuais 80 mil habitantes têm sofrido menos com os problemas oriundos das inúmeras irregularidades que são hoje alvo das investigações da CPI. Instalado em fevereiro, o colegiado deve ter seus trabalhos encerrados nos próximos 15 dias, quando será, então, finalizado e divulgado o relatório dos trabalhos realizados.
Isso foi o que informou o relator ao encerrar a sessão desta noite. Horas antes, em sua fala de abertura, ele teceu críticas ao monopólio exercido pela Enel quanto à distribuição dos serviços energéticos no estado. Além disso, voltou a chamar atenção para o fato de a empresa figurar como a pior no ramo, segundo o último relatório divulgado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Para finalizar defendeu, no entanto, o processo que pede a encampação da companhia pelo Estado. “Não obstante a celeuma jurídica, a iniciativa é uma importante forma de pressão para que a empresa se mexa”, arrematou. Nesta fala, Salim faz referência ao projeto de lei nº 7034/19, que se encontra em segunda fase de discussão e votação junto ao plenário desta Casa de Leis.
Clamor popular
Engrossando coro das autoridades, produtores locais, comerciantes, industriais e cidadãos comuns também deixaram registradas suas denúncias e reclamações. Manifestações estas que foram puxadas por Luís Vicente Silva. Representante dos avicultores de Goiás, ele falou em nome dos 150 produtores rurais do município.
Segundo Silva, o setor, que responde hoje por 540 aviários, estaria operando com apenas 30% de sua capacidade. “Somos o único município do país que produz chester. Somos nós que abastecemos o mercado nacional, de norte a sul. Entre o final de outubro e início de novembro, minha propriedade chegou a ficar 21 dias, 4 horas e 42 minutos sem energia elétrica. Há, no entanto, dois casos ainda mais críticos. Um, trata-se de uma de nossas unidades consumidoras que chegou a ficar mais de 30 dias sem energia. O outro, de outra que ficou com mais de 33 dias sem”, exemplificou.
A agricultora familiar Maria de Fátima, falou em nome dos três assentamentos rurais da região. Ela disse que há cinco anos sua comunidade espera a chegada dos serviços de energia elétrica, que nunca se concretizam. Em sua última investida, junto à Enel, os responsáveis da companhia teriam lhe dito que seu pedido só poderia ser atendido em 2021. “A agricultura familiar é responsável por 85% dos alimentos que vão para a mesa dos brasileiros. A falta de energia dificulta o nosso acesso ao crédito. Sem ele não conseguimos produzir, o que afeta, inclusive, a merenda escolar”, exemplificou.