“A violência como meio ilegítimo para calar os que não aceitam as mentiras como verdades absolutas, é talvez a mais cruel das características dos governantes que usam o tacão para se autoafirmar e impor pela força as suas vontades. Governos fracos, vilipendiados pelo povo, celeremente no caminho do fracasso e à beira do ostracismo, que ao final os levarão para a derrota e ao vergonhoso recolhimento dado aos incompetentes perdedores, tendem a buscar fôlego por todos os vãos, até mesmo na ponta da espada.
No último dia 27, contrários ao decreto do governador Ronaldo Caiado determinando a suspenção de praticamente todas as atividades econômicas no Estado, objetivando impedir a proliferação do Covid-19, um grupo de comerciantes e empresários promoveu uma manifestação nas proximidades do Palácio das Esmeraldas. Foi pedir ao governo que revisasse a norma alegando prejuízos irreparáveis para grande parte da categoria.
A manifestação mereceu cobertura da imprensa, assim como todas as outras ocorridas em função da Covid-19 mereceram. O ato não era contra o governador e sim contra a rigidez das medidas constantes no decreto. Em um regime democrático, as pessoas têm o direito de se manifestarem, contra ou a favor de medidas e atos governamentais.
Dentre os jornalistas que cobriam a manifestação, estava o editor do Blog Goiás 24Horas, jornalista Cristiano Silva, um notório crítico do governador Ronaldo Caiado, direito que lhe cabe, assim como é legítimo o direito de alguns outros jornalistas serem extremamente fiéis ao governador. Ser contra ou a favor é um dos preceitos dodireito em regimes democráticos.
Terminado o evento, o jornalista do Goiás 24Horas caminhava distraído por uma calçada, olhando para o celular, quando foi repentinamente abordado a socos e ponta pés por duas pessoas dadas como militares que fazem a segurança pessoal do governador Ronaldo Caiado. Toda a brutal e injustificável cena foi registrada por câmeras de vídeo de um imóvel das proximidades do palácio das esmeraldas.
Depois de cercado e covardemente agredido sem que antes houvesse um único diálogo, como mostram as câmeras, o jornalista conseguiu desvencilhar-se e correr, tendo os agressores em seu encalço. Pouco depois as câmeras registraram três seguranças voltando. Um deles dava cobertura aos demais através de uma camionete que aparece nas filmagens.
Ainda com os sinais da violência pelo corpo, mostrando o sangue escorrendo pela boca, o jornalista denunciou a agressão, atribuindo ao governador Ronaldo Caiado a responsabilidade pela ação dos seguranças. Até hoje, Caiado não se manifestou. “Quem cala, consente”, nos ensina o ditado popularmente utilizado por quem não quer ou não tem coragem de responder por algo que não seja do seu agrado.
Caiado tinha a obrigação de vir a público para comentar o episódio, mostrar as providências tomadas e pedir desculpas pelo ocorrido. Os seguranças não agiram por vontade própria. Não há nenhuma postagem do jornalista em sua página criticando o trabalho dos seguranças do governador. Portanto, não há rixa entre eles e o jornalista. As desavenças são entre o jornalista e o governador.
Cristiano não ameaçava o governador para ser repelido de forma tão violenta. Nem mesmo estava na porta do palácio. Foi agredido porque suas postagens não são do agrado do coronel Caiado.
Há pouco tempo, por ordem de Caiado, a polícia tentou intimidar Cristiano Silva e outros jornalistas opositores ao governador com denúncias não comprovadas de ganhos irregulares durante os governos passados. Policiais civis chegaram a apreender computadores e telefones de vários jornalistas em busca de provas de favorecimento em mídias e repasses financeiros nos governos anteriores.
A ação não intimidou os jornalistas que, em resposta, reafirmaram suas críticas ao governador e denunciaram os abusos que Caiado comete contra aqueles que não lhe beijam as mãos. A prova está na própria Assembleia Legislativa, dada por três parlamentares que abandonaram sua base de apoio no legislativo, vítimas que foram de perseguição por terem ousado ser independentes na votação de dois projetos contra servidores públicos.
Tudo indica que Caiado, que ainda não assimilou a derrota que teve na tentativa de intimidar os jornalistas que lhe fazem oposição, resolveu colocar para fora sua veia de senhor de engenho e determinar o açoite de seus detratores. Essa prática de agredir fisicamente os opositores estava abolida do governo desde o fim do regime oligárquico implantado em Goiás pelos Caiados, iniciado em 1883 e encerrado em 1975. Ou seja, para voltarmos ao passado e termos o registro de atos de covardia pura perpetrados por um governo ditatorial, incompetente e que se sustenta através da mão de ferro, foi preciso a volta de um Caiado ao posto de governador de Goiás.
Os governantes que dia a dia estão ficando pelo caminho, no último esforço para tentar reverter a queda, sabem que precisam da opinião pública favorável aos seus atos. E tentam se parecer ativos, responsáveis, determinados, ágeis, firmes e resolutos. Montam o teatro e esperam os aplausos.
Foi exatamente isso que o governador Ronaldo Caiado fez e tem feito nos últimos dias. Começou enfrentando os manifestantes favoráveis ao Governo Federal em praça pública; depois apareceu paramentado de médico na porta de um posto de vacinação contra a influenza e, no megafone, rogou aos idosos que fossem para casa sem vacinar.
Não fosse um governador marqueteiro, que tenta enganar a população goiana, passando a imagem de um governante preocupado com o bem-estar dos outros (se estivesse mesmo não teria massacrado milhares de servidores públicos com suas PECs recentemente aprovadas), Caiado teria mandado para a praça o seu secretário de Saúde para dialogar com os manifestantes, assim como teria solicitado ao seu amigo prefeito, Iris Rezende que evitasse a aglomeração de pessoas no posto de vacinação.
Mas Caiado preferiu o marketing. Como saiu na grande imprensa quando enfrentou os manifestantes na praça, acreditou que seria novamente destacado como o governante médico que age com firmeza e responsabilidade.
Só que desta vez deu errado. A grande imprensa destacou apenas um senhor que tentou ajudar demarcando com giz os locais onde os idosos deveriam se posicionar na fila para evitar o contato. Nada do gesto de Caiado. A imprensa nacional desconfiou cedo que o homem é marqueteiro.
Sem a vitrine de uma gestão eficaz, capaz de atrair aplausos e elogios de todo o Brasil, o que lhe faria sonhar alto ao ponto de se imaginar sentado na cadeira presidencial, Ronaldo Caiado vai se isolando e se deteriorando cada vez mais. Depois de esbravejar, falar grosso e mostrar valentia verbal não foram suficientes para lhe tornar herói ou respeitado, Caiado resolveu partir para o tapa e, para isso, covardemente esconde-se no costado de seus seguranças para depois postar-se de ingênuo e desentendido.
Caiado é o grande ditador da política brasileira. Não gosta de dialogar para não ceder e mostrar-se fraco. Não respeita as opiniões contrárias e está sempre com os dentes cerrados para destratar os opositores. É sarcástico até nos momentos difíceis e está deslumbrado com o poder. Sente-se como dono de Goiás e do seu povo.
Até que se prove o contrário, Caiado é o responsável pela ação covarde e destemperada de seus seguranças que agrediram um profissional de imprensa em pleno exercício de sua função. Não há justificativa para um ato tão covarde e sórdido.
Os seguranças foram identificados e, por estarem sob as ordens do governador, assim como eles terão que responder na justiça por este absurdo. Renomados advogados já se dispuseram a defender o jornalista inconformados que estão com essa demonstração de desequilíbrio de Ronaldo Caiado e seus truculentos que seguranças.
A ousadia e o descaramento são tamanhos que é impossível crer que o governador tenha imaginado que seu crime fosse ficar impune. Caiado ultrapassou todos os limites do bom senso. Apresentarei na Alego uma CPI para apurar os fatos por crime de responsabilidade do Governador do Estado de Goias Ronaldo Caiado sob o episódio de agressões realizadas por militares por ordem direta do Chefe do Executivo Estadual ao profissional da imprensa em pleno exercício da função.
Deputado Cláudio Meirelles”