Na semana em que é comemorado o Dia Nacional do Café (24/05), o consumidor tem poucos motivos para festejar. Com cotação em patamares históricos, o grão atingiu o maior nível na bolsa de Nova York dos últimos quatro anos e, no mercado interno, a saca de 60 quilos já é comercializada acima de R$ 800. O impacto é sentido na indústria de processamento do grão que, além de precisar repassar o aumento no produto, sofre também com a falta de estoques.
Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Torrefação e Moagem de Café do Estado de Goiás (Sincafé), Jaques Silvério, a alta cotação do dólar e a quebra da safra 2020/2021 dos produtores de São Paulo e Minas Gerais potencializaram a crise. “A estiagem registrada no segundo semestre do ano passado nas duas regiões que mais produzem o grão no País reduziu a safra em quase 40% para 2021”, afirma.
Silvério explica ainda que a cultura do café possui uma característica de bienalidade, com a planta apresentando alta produtividade em um ano e, no outro, recompondo sua estrutura com baixa produtividade. “O ano de 2020 foi de alta produção, então já era esperado um rendimento menor em 2021. Entretanto, a redução de cerca de 25% já registrada pela Conab foi agravada por fatores climáticos, pressionando o aumento de preços de comercialização do café e gerando menor disponibilidade do produto no mercado interno”, observa.
A opinião é compartilhada pelo presidente da Câmara Setorial da Indústria de Alimentos e Bebidas (Casa) da Fieg, Carlos Roberto Viana. “Mesmo que não estivéssemos presenciando uma redução da produção de café, ainda assim perceberíamos um desabastecimento no mercado interno. Com o dólar em patamares recordes, a indústria de café brasileira encara competidores com uma moeda mais forte, que aproveitam o momento para formação de estoques, causando desabastecimento interno”, assegura.
Para Carlos Roberto, a alta cotação do dólar está fragilizando a indústria de café nacional, que acaba tendo que repassar esse aumento do custo para o consumidor final. “Hoje, o câmbio é fator de desestabilização, é o principal problema da indústria do setor”, observa.