Ponto alto das ações do Novembro Negro em Trindade, o Dia da Consciência Negra, celebrado no Brasil neste sábado, 20 de Novembro, teve duas importantes atividades para esclarecer e engajar contra o preconceito racial, valorizando a cultura e a grande presença da população afrodescendente no Brasil e no município. E o prefeito Marden Júnior esteve em ambas.
Transmitida ao vivo pela Prefeitura em sua página no Youtube, a palestra da psicóloga, pedagoga e especialista em ensino interdisciplinar de Direitos Humanos, Mestre pela Universidade Federal de Goiás, Anna Karollinna Silva Alencar, tratou dos impactos do racismo na saúde da população negra.
O evento foi no período da manhã, no auditório Hilton Monteiro, no Centro Administrativo Prefeito Pedro Pereira de Souza, organizado pela Agência Municipal de Turismo e Cultura e pela Comunidade Quilombola de Trindade. Agora está disponível na página oficial da Prefeitura no Youtube.
A palestra foi antecedida de rápida roda de conversa, com a participação também do presidente da Agência de Turismo, Warley Lopes, do vereador Marco Ferreira, que propôs várias atividades no Novembro Negro, da presidente da associação Quilombola, Marta Quintiliano, e do presidente da Comunidade Quilombola Vó Rita, Wilson Alves de Oliveira.
Primeira a falar na abertura, Marta que foi uma das organizadoras do evento, destacou a data como oportunidade para refletir sobre as desigualdades raciais no país, onde os negros são maioria, “mas não se vêm representados nos espaços de poder”. Ela focou em equidade, destacando que é essencial oportunizar o alcance a todos os espaços para a comunidade negra.
Marden destacou que Trindade é protagonista de ações para “levar consciência racial às pessoas e comunidades”. Ele concordou que o setor público é um dos responsáveis por buscar equidade, funcionando como ferramenta para enfrentar o racismo estrutural e levar igualdade de oportunidades.
“É através da vida pública que vamos conseguir desde profissionalização, até o processo de educação e evolução porque a prefeitura tem um leque de ações que podem contribuir com tudo isso”, salientou. Ao finalizar, ele defendeu a união de forças “para vencer, conversando com quem vive essa realidade (do racismo)”.
De sua parte, Wilson Alves destacou o espaço aberto pela prefeitura como “os primeiros passos”, se referindo à abertura para políticas públicas voltadas às pessoas negras.
Já o vereador Marco Ferreira fez eco, destacando que esses primeiros passos estão sendo dados rumo à “mudança que a gente quer propor”. Também disse que a difusão da necessidade de mais igualdade racial tem crescido “e entrado no coração e na cabeça das pessoas”. Por fim, enfatizou que a “luta é contra todo e qualquer tipo de preconceito”.
Warley Lopes falou na sequência, e lamentou que ainda exista preconceito e discriminação. “Na cultura, temos, na verdade, que ter muito orgulho da raça e da cor negra, de todo o movimento negro que nos influenciou desde os primórdios”, observou, citando a influência africana.
O presidente da Agência de Turismo e Cultura também afirmou que a própria realização da live representa a “quebra de paradigma”. Por fim, citou os Irmãos Credo, artistas urbanos de Trindade premiados nacionalmente, e que têm grande influência da cultura negra.
Também o cerimonialista da Prefeitura, Claudecy Santos, que conduzia a live e que já foi ativista atuante da causa antirracista, ao ser provocado pelos presentes, deu rápido depoimento sobre o enfrentamento ao preconceito que vivenciou por ser negro e estar no meio cultural. Finalizou sob aplausos da mesa.
A palestrante Ana Karolllinna destacou que a reflexão de todos neste momento deve ser focada em porque, senão por racismo, há tanta desigualdade nos espaços de poder, se no Brasil a população negra soma muito mais de 50%. “Em novembro a gente lembra e celebra a resistência, mas essa luta é diária, cotidiana”, disse ela.
O racismo como processo subjetivo, marcado pela rejeição, por não ser ouvido e ter espaços negados, ou não ser considerado mesmo sendo maioria, segundo ela, era negligenciado até mesmo pela Psicologia. “Somente recentemente a própria psicologia analisa isso. E cotidianamente escuto o sofrimento de jovens negros e negras, citando um lugar de ‘despotência’, pessoas historicamente emudecidas”, pontuou.
A especialista lembra que, para ter voz contra o aspecto violento que intimida pessoas negras de serem elas mesmas, é preciso que “a população negra lute por essa voz”. Ainda segundo a psicóloga, fortalecer as raízes negras contra o discurso de “branquitude”, se tornou algo fundamental. Ela destacou ainda o mito da “democracia racial” no Brasil, um discurso que ignora a falta de equidade e as desigualdades geradas por diferenças raciais e que precisa ser assumido e enfrentado por todos.