terça-feira , 16 julho 2024
Opinião

Ô Abre Alas, a democracia quer passar

Qual seria o samba de Chiquinha Gonzaga diante do tremendo golpe que tentaram dar no Brasil? Acho que seria a mesma novamente, pois és bela: “Ô Abre Alas” ainda vive, marchinha jovem e na flor de seus 123 anos, cantada em 123 carnavais. Pioneira e primeira de tantas outras. Assim como a força bruta chamada democracia, que quando quer passar, não tem capitão, playboy ou general que segure.

Francisca Edviges Neves Gonzaga era filha de escrava alforriada com um Marechal de Campo do Exército. O destino escolheu a menina com o pé na senzala para derrubar as valsas, polcas e tangos que imperavam no cenário musical de seu tempo. Força bruta. Tornou-se a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Magnifica. Enfrentou todos os obstáculos, removeu pedra por pedra de seu caminha, passou por cima das “trincheiras”, foi a luta e fez história.

A democracia, senhora de si, também vive um momento de obstáculos, pedras e trincheiras. Está diante de arruaças nas rodovias brasileiras. De um presidente golpista, encantador de extremistas, que mesmo depois da derrota nas urnas, ficou ardilosamente alimentando seus seguidores com o silêncio de quem cala e consente. E eles tocando fogo no país, contra o “comunismo”, que não dá as caras por aqui desde que o gaúcho Luís Carlos Prestes comandou a famosa ‘coluna’ em 1920. Aterrorizam com uma tal ‘Venezuela’, gritam o nome de ‘Cuba’ e fazem de tudo para quebrar a economia do país ao bloquearem as rodovias.

Coitados. Ser brasileiro é mais do que vestir a camisa da seleção, botar fogo em pneu, e defender Bolsonaro, derrotado na eleição.

Antes de cantar ‘Ô Abre Alas’ no carnaval, é fundamental conhecer a história de Chiquinha, ‘como, quando e porque’ escreveu a letra mais famosa das marchinhas. O mesmo se dá com com a ‘democracia’, que deve ser estudada, entendida em seus ‘como, quando e porquês’, antes de ser gritada freneticamente por aqueles que preferem tiro de fuzil e granada para barrar quem conseguiu no voto o direito de governar.

Ô abre alas que eu quero passar
Peço licença pra poder desabafar
A jardineira abandonou o meu jardim
Só porque a rosa resolveu gostar de mim

Cristiano Silva
Opinião G24h