sábado , 23 novembro 2024
Goiás

Ingenuidade política levou Ana Carla a admitir, na Assembleia, que salário do funcionalismo, em tese,  podem atrasar, dando munição para oposição atacar o governo

Ao admitir, em uma audiência na Assembleia Legislativa para a prestação de contas do último quadrimestre fiscal, que o governo do Estado pode atrasar os salários do funcionalismo, a secretária da Fazenda, Ana Carla Abrão Costa, tratou com imprudência (ou talvez negligência) talvez o mais importante patrimônio construído pelo governador Marconi Perillo ao longo das suas gestões: o absoluto respeito pelos direitos do funcionalismo estadual, que era maltratado nas administrações do PMDB e passou a ser valorizado – e a receber em dia – a partir de 1999, com o tucano no poder.

Pense bem, leitor: em tese, salários podem ser pago em dia ou com atraso, em qualquer esfera de governo ou mesmo nas empresas privadas. Em tese. Isso não justifica a declaração da secretária, que alegou um suposto quadro de dificuldades que o Estado estaria vivendo no momento, “com receitas aquém das despesas”, para afirmar que poderia ocorrer o atraso da folha. E mais: dificuldades financeiras, para qualquer governo, no Brasil, sempre existiram e vão continuar a existir.

Outros titulares da pasta da Fazenda, com formação acadêmica muito menor que Ana Carla, jamais admitiram, nos governos Marconi, pelo menos publicamente, qualquer hipótese de atraso na quitação da folha. Nos anos em que o PSDB conquistou e manteve o poder, a secretária praticamente não pisou em Goiás e não participou da construção do legado que passou a ser, digamos assim, uma espécie de pecúlio eleitoral do grupo tucano que a duras penas venceu as eleições em 1998 e a partir daí tornou-se hegemônico na política estadual. E isso, com palavras ao vento, não pode ser colocado em risco agora.

Se há algo em que o funcionalismo público estadual confia, a partir dos governos Marconi, é no recebimento em dia dos seus salários. Essa convicção sofreu um abalo com a decisão de parcelar o pagamento – que foi mal recebida e considerada como desnecessária dentro da equipe de auxiliares de Marconi, além de atribuída à falta de experiência de Ana Carla com o manuseio de receitas e despesas em um órgão executivo fazendário complexo como a pasta da Sefaz. Anteriormente, o currículo profissional que ela ostenta só aponta trabalhos de consultoria econômica, que, em uma só palavra, são apenas teóricos.

Na Assembleia, Ana Carla mostrou ingenuidade política  grande – tanto que, no dia seguinte, em entrevista à rádio CBN Goiânia, o líder do PMDB, deputado José Nelto, já alardeava que o funcionalismo seria penalizado com o atraso da folha, alegando que a informação foi passada pela própria secretária da Fazenda. Em um cargo como o de secretário da Fazenda, o cuidado com o que a boca pronuncia é indispensável.

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