sábado , 30 novembro 2024
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Caiado e Daniel no caminho errado: campanha agressiva não funciona em Goiás, diz Afonso Lopes

Artigo assinado pelo jornalista Afonso Lopes e publicado no Jornal Opção desta semana mostra, a partir do resgate histórico, que a estratégia do senador Ronaldo Caiado (DEM) e do deputado federal Daniel Vilela (PMDB) de promover suas campanhas a governador com ataques a adversários já levou muitos políticos a derrota em Goiás: “O histórico é amplamente favorável para candidatos que apresentam propostas e entabulam questionamentos politico-administrativos sem partir para a pancadaria verbal”, afirma Afonso.

Confira a íntegra do artigo:

Campanha agressiva é sempre arriscada

Em Goiás, desde a redemocratização no início da década de 1980, somente uma eleição foi vencida por candidato agressivo

Bater ou não bater no adversário é sempre uma decisão complicada nas campanhas eleitorais em Goiás. O histórico é amplamente favorável para candidatos que apresentam propostas e entabulam questionamentos político-administrativos contra seus adversários sem partir para a pancadaria verbal. Apenas uma vez na história recente do Estado é que uma duríssima e agressiva campanha eleitoral foi vitoriosa. Em 1982, Iris Rezende venceu Otávio Lage. E só. Depois disso, quem mais agrediu o adversário sempre terminou derrotado.

Em 1986, Mauro Borges, que se tornou inimigo político de Iris Rezende, e fez uma campanha avassaladora contra o então governador. Enquanto isso, seu adversário, Henrique Santillo, que não era absolutamente franco favorito, foi “comendo” pelas beiradas, apresentando propostas e temas de debate. Enquanto Mauro surrava o governo de Iris, a marca de Santillo naquela campanha era o par de botinas que ele usava para caminhar principalmente nos bairros de Goiânia, que era o principal reduto eleitoral de Mauro, e de onde se esperava que ele conseguiria uma vantagem de 200 mil votos. No final, Santillo venceu também na capital por meia dúzia de votos.

Em 1990, o então senador Iram Saraiva, que tinha trocado o PMDB pelo PDT para disputar o governo, iniciou o processo eleitoral dividindo a preferência majoritária do eleitorado com Iris. Iram foi demolidor contra Iris, que sacudia o chicote contra o seu ex-companheiro Henrique Santillo. Por fora, e cantando uma musiquinha-chiclete que dizia que ele estava certo, Paulo Roberto cresceu sem parar. E sem bater também. Ele apresentava propostas e apontava questionamentos absolutamente pertinentes. Foi para o segundo turno, enquanto Iram caiu para a quarta posição, atrás até mesmo de Luiz Antonio, candidato do PT. Paulo Roberto perdeu o turno decisivo, além de outros motivos, porque sua estrutura partidária era muito menor que o então hegemônico PMDB.

Em 1994, Ronaldo Caiado e Lúcia Vânia se apresentavam como favoritos, enquanto o peemedebista Maguito Vilela começou a campanha com porcentuais insignificantes. Os dois opositores, Caiado mais, Lúcia um pouco menos, se cansaram de bater em Maguito. O peemedebista respondeu aos ataques muito mais como defesa do que contra-ataque. Caiado, que às vésperas da eleição, estava ligeiramente à frente de Lúcia nas pesquisas, ficou fora do segundo turno. Maguito foi o primeiro colocado e garantiu a vitória no turno final contra Lúcia Vânia.

A campanha de 1998 foi atípica. O favoritismo de Iris Rezende diante de uma pequena oposição composta por somente quatro partidos, PSDB, PP, DEM e PTB, levou o peemedebista a capitanear uma campanha eleitoral sem empenho, que gerava uma perspectiva de poder tão avassalador que a eleição parecia ser somente uma questão de calendário. O adversário, Marconi Perillo, se apresentava de forma bem humorada, e levou esse bom humor para a campanha. Rresultado: a mais impressionante virada eleitoral de todos os tempos no Estado. Assustado com a vitória de Marconi no primeiro turno, Iris trocou o marketing da campanha e partiu para a pancadaria. O contra-ataque era impiedosamente bem humorado, com um quadro feito pelo humorista Pedro Bismarck e suas panelas. Marconi venceu, como se sabe.

Em 2002, Maguito surgiu na véspera, no final de 2001, com vantagem superior a 15% sobre Marconi. E liderou uma campanha, ao contrário de 1994, em que contra-atacava como forma de defesa, bem mais agressiva. Candidato à reeleição, Marconi fez uma campanha ressaltando ações administrativas de seu governo. Na TV, um dos momentos mostrava um trator desenhando um grande coração com o arado. Maguito não apenas perdeu a boa vantagem que tinha como a própria eleição, que foi decidida já no primeiro turno.

Em 2006, mais uma vez Maguito foi para o ataque contra o então inexpressivo vice-governador Alcides Rodrigues. Ao lado dele, e ainda mais agressivo, o então senador Demós­tenes Torres fez uma campanha absolutamente demolidora. Ao final, Alcides virou a eleição e venceu os dois turnos. Demóstenes ficou em quarto lugar, o último entre os grandes candidatos daquela disputa.

Em 2010, ao tentar seu retorno ao Pa­lácio das Esmeraldas, pancadaria de todos os lados contra ele. De Brasília, com o PT nacional comandado pelo pre­sidente Lula. Da praça Cívica, através do governador Alcides e de seu se­cretário da Fazenda, Jorcelino Braga. E de Goiânia, nas mãos do prefeito Pau­lo Garcia. Resultado: contra tudo e con­tra todos, Marconi ganhou novamente.

A campanha de 2014 durou quatro anos. E nesse período, Marconi Perillo apanhou em tempo integral. Primeiro, ao encontrar terra arrasada no governo em 2011. Depois, sob influência de Lula, enfrentou uma duríssima campanha na CPMI do Congresso que visava inicialmente apenas o senador Demóstenes Torres, mais duro opositor dos governos petistas. Em seu livro, “Assassinato de reputações”, o ex-delegado da Polícia Federal Romeu Tuma Júnior acusou Lula de ser o autor intelectual dos ataques contra Marconi. Na campanha propriamente dita, Iris e Antonio Gomide se revezavam nas pancadas. A linha de defesa de Marconi era, mais uma vez, ações administrativas. Venceu os dois turnos.

Esse histórico eleitoral de Goiás desde 1982 mostra que o conjunto de propostas e questionamentos político-administrativos obtêm grande receptividade no eleitor goiano. A pancadaria até diverte e chama a atenção, mas não resulta em vitória. Isso não significa, porém, que será sempre assim. Revela apenas que a decisão de montar uma campanha agressiva é conviver com o risco. É uma arma muito mais complicada de se usar e obter êxito do que qualquer outra.

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