A audiência da TV Anhanguera, afiliada da Globo em Goiás, está em queda livre. E em função da dificuldade dos profissionais da emissora em fazer uma auto-análise, o blog Goiás 24 Horas alerta, mais uma vez, para os exageros que Matheus Ribeiro, Guilherme Mendes, Victor Andrade e boa parte da equipe têm cometido no esforço para serem engraçados e falarem “a linguagem do povo”.
Neste post, recomendamos a análise do experiente Juca Kfouri, que se consagrou como um dos maiores jornalistas esportivos do Brasil sem ter de dizer “tchau brigado”, “alô galerinha, tô chegando” ou outra macaquices do tipo.
Por se tratar de uma crítica ao que virou o jornalismo esportivo, ela é recomendada principalmente a Victor Andrade, que é um dos culpados pelo desastre que virou o Globo Esporte.
CONFIRA:
Convidado do programa Voz Ativa, exibido nesta segunda-feira pela Rede Minas em parceria com o EL PAÍS, Juca Kfouri falou sobre seu livro recém-lançado Confesso que perdi (Companhia das Letras) e também contou histórias envolvendo dois temas que sempre estiveram muito presentes em sua trajetória profissional: esporte e política. Formado em Ciências Sociais pela USP, o jornalista criticou a mistura recorrente de jornalismo com entretenimento na cobertura esportiva, sobretudo a intimidade de emissoras de televisão com federações e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
“Pelo direito de exclusividade, a emissora que compra o futebol estabelece tal relação de promiscuidade com quem vende [os direitos de transmissão], que não a permite criticar seu ‘sócio’”, afirmou Kfouri, que citou o contrato firmado entre Rede Globo e Neymar durante a última Copa, revelado pela Folha de S. Paulo, como exemplo de vínculo que deve ser evitado pelo jornalismo. “O contrato com Neymar foi o estabelecimento escarrado da concorrência desleal. Outros repórteres não gozam do mesmo privilégio. Um equívoco gravíssimo da Globo.”
Para ele, as detentoras dos direitos de transmissão do futebol brasileiro deveriam se espelhar no modelo dos esportes norte-americanos, em que há um distanciamento entre interesses comerciais e a linha editorial de cada veículo. “Os americanos separam a ‘Igreja do Estado’. Jornalismo não tem nada a ver com entretenimento”, explica o jornalista, antes de criticar o estilo descolado consagrado por Tiago Leifert, ex-apresentador do Globo Esporte, hoje à frente do Big Brother Brasil. “Nós sofremos da leifertização do jornalismo esportivo. É muita gracinha. Briga-se pra saber quem é mais engraçadinho, quem faz a melhor piada. Não estou pregando o mau humor, é bom dar risada. Mas tem uma hora pra rir e uma hora pra chorar. Não podemos eliminar o que há de sério no esporte, porque as coisas se misturam, são faces da mesma moeda. Não dá para pensar o Brasil sem pensar o futebol brasileiro. Não dá pra pensar o futebol brasileiro sem pensar na política, na supraestrutura do Brasil.”
Juca Kfouri entende que o esporte como um todo está diretamente atrelado a questões políticas e sociais. Entretanto, ele faz uma ponderação sobre a exigência de posicionamentos além da bola de jogadores de futebol. O jornalista lembra que a Democracia Corintiana, por exemplo, que marcou época na década de 80, contou com o aval de dirigentes do Corinthians para romper padrões de comportamento e levar mensagens políticas aos estádios.
“Via de regra, o atleta está tão voltado para a competição, em um período tão curto de sua vida, que realmente não olha para o resto do país. Mas, ao longo da minha vida, aprendi a não exigir heroísmo com o pescoço alheio. A sociedade está quieta e a gente quer que os jogadores se manifestem? Quantos jornalistas criticam o patrão na empresa jornalística em que trabalham? Por que vamos exigir só dos jogadores de futebol? Sem contar que a esmagadora maioria deles ainda é vítima do sistema educacional brasileiro. O Paulo André fez isso. Acabou exportado para a China contra a própria vontade”, disse Kfouri.