O vexame estrelado pelo cantor Felipe Araújo, flagrado a dormir dentro de um carro em uma das vias de rolamento da Jamel Cecílio às 9 horas da manhã da última quinta-feira, obrigou a delegada Adriana Fernandes, a Polícia Civil e o governador Ronaldo Caiado (DEM) a passar por cima da lei e do bom senso ao liberá-lo de todo o trâmite burocrático que provavelmente o colocaria na cadeia.
Em primeiro lugar, vale dizer que Adriana causou estranhamento geral ao dispensar o exame toxicológico do cantor no Instituto Médico Legal (IML). Felipe se recusou a soprar o bafômetro. Há outro motivo plausível para esta recusa que não a embriaguez? Veja bem o absurdo da situação: o rapaz babava dentro do carro, com o sol a bater no rosto. A sua máquina caríssima interrompia o trânsito e a delegada mesmo assim acreditou em Felipe quando ele disse que não havia ingerido álcool.
Adriana disse que “não havia sinais evidentes” de ebriedade e que por isto tomou a decisão.
O segundo ponto é que o sertanejo, aos 24 anos, nunca tirou habilitação para dirigir. Os artigos 309 e 310 do Código Brasileiro de Trânsito (CBT) determinam que sentar-se ao volante sem ter CNH é crime quando gera claro perigo de dano. Bem, se Felipe sequer conseguia dirigir não havia risco evidente para quem passava por perto? É claro que havia, mas esteja o leitor certo que Felipe jamais será preso por esta transgressão, ainda que a lei preveja a punição.
Ah, e claro: se a delegada tivesse exigido a visita do cantor ao IML a pena poderia ser agravada, se constatada a embriaguez.
A lei e o bom senso foram pisoteados pelo governo e pela polícia civil. Restou provado que o rigor propalado pela voz grossa de Caiado deve fazer estremecer apenas quem não tem dinheiro ou fama neste Estado.