De Lauro Veiga Filho no Hoje: “Parece haver qualquer coisa estranha no ar quando a retórica assumida pelo governo de Ronaldo Caiado desde a posse – e repisada praticamente dia sim e outro também, passados mais de 11 meses de gestão – não confere com os números oficiais informados a cada dois meses à Secretaria do Tesouro Nacional (STN). Há três possibilidades a considerar: os dados não refletem de fato o quadro fiscal enfrentado pelo governo; o discurso tenta pintar um cenário catastrófico para justificar medidas de arrocho; ou a melhora apresentada até aqui guarda estreita relação com a paralisia virtual do setor público estadual, indicando que medidas adicionais ainda teriam que ser aprovadas pelo governo federal para que Goiás faça sua adesão ao draconiano Regime de Recuperação Fiscal (RRF). Se a última hipótese deveria ser considerada, há mais estranhezas a avaliar. A receita primária total experimentou aceleração no quinto bimestre do ano, trazendo o ritmo de crescimento acumulado em 10 meses para 22,4% em relação ao período de janeiro a outubro do ano passado. Para comparar, nos oito meses iniciais deste ano, as receitas haviam avançado 12%. Medida em reais, a receita primária saltou de R$ 18,4 bilhões para quase R$ 22,6 bilhões, respectivamente no acumulado entre janeiro e outubro de 2018 e de 2019, o que trouxe um ganho adicional de R$ 4,1 bilhões (praticamente dois meses “extras” de arrecadação). Com o arrocho nos investimentos e cortes nos restos a pagar, as despesas primárias cresceram numa intensidade muito menor, saindo de pouco mais de R$ 17,6 bilhões para R$ 19,3 bilhões, em alta de 9,6%. Ou seja, registrou-se um acréscimo de R$ 1,7 bilhão. A diferença entre receitas e despesas mostra um superávit
primário de nada menos do que R$ 3,2 bilhões. Na comparação com os 10 primeiros meses do ano passado, foi um aumento de 314,12%.“